( trecho ampliado do livro acima)
Quando Zeus estava sob seus olhos, Hera ficava tranquila. Porém, bastava seu amado se ausentar, o que acontecia com frequência, para o sofrimento tomar-lhe conta. Seu ciúme pedia um instrumento, ele queria criar olhos ─ e assim ver, saber, tomar ciência. Hera precisava vencer a ignorância: ela desejava encontrar um meio de ver Zeus todo o tempo, sem que ela fosse, no entanto, vista. Um ver que lhe deixasse neutra, mas sempre presente, vendo.
Então, ela pede ajuda a Panoptes, cujo nome significa “visão por toda parte” ( “panóptico” se origina de panoptes). Para ceder ao pedido e ser os olhos da deusa vigiando Zeus onipresentemente , Panoptes se transformou então num animal: o pavão ( na cauda dos pavões há desenhos similares a olhos...).Quando este abria a cauda, incontáveis olhos se mostravam ─ vigiando, sem trégua, Zeus.
A esse olhar que vê onipresentemente, pretendendo impedir todo mistério, a esse olhar os gregos deram um nome: Theoria ( "theo" em grego é "ver"). Não raro, quem muito teoriza quer a tudo dominar com conceitos: a paixão pela verdade só não é doença se deixar livre a diferença.
Além disso, os olhos da teoria veem apenas as faces exteriores, seus olhos não veem dentro, no coração das coisas. Tais olhos não conseguem ver o que vê a visão fontana do poeta:“A palavra abriu o roupão para mim: ela quer que eu a seja” ( Manoel de Barros).
(fragmento da obra de Rubens: Zeus, Hera e o pavão) |
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