O homem, em última análise, somente encontra nas coisas
aquilo que ele mesmo nelas pôs.
O ato de encontrar se intitula ciência;
o ato de pôr se chama arte.
Nietzsche
Segundo a ciência, 90% do universo é
feito de uma matéria “escura” :“matéria
escura”, assim a ciência a nomeia. Quando olhamos para o céu e imaginamos ver um espaço vazio entre as estrelas, não há na verdade tal vazio, mas a presença dessa matéria
estranha, que não se pode ver. Nem mesmo às potentes lentes do Hubble tal realidade se mostra.
Acredita-se que é graças a essa “matéria
escura” que as galáxias não se dispersam. Embora essa matéria singular não seja a força da gravidade, ela tem mais
força de agenciamento de coisas diferentes do que a gravidade, pois ela mantém
unidas, consistentes, as realidades visíveis que a gravidade reúne, mas que
podem dispersar-se, pela ação de outras forças.
Contudo, essa matéria estranha é um
paradoxo...Ela não possui nenhuma propriedade da matéria que conhecemos. Nem
mesmo sabemos do que ela é feita. Ela não pode ser vista, conhecida, mensurada; porém é sentida e pensada, ao menos pelos cientistas que pensam e sentem mais,
que são quase poetas e filósofos...
Porém, por que chamar de “matéria”
tal realidade que nada tem da matéria, a não ser o nome? Se ela em nada se
assemelha à matéria tal como a conhecemos, ou a matéria que conhecemos não é
matéria, ou essa realidade estranha não é matéria.
E por que chamar de “escura” essa
matéria? A escuridão representa a ausência de luz. Porém, tal realidade
estranha não é uma ausência, ela é a presença de algo que não sabemos o que é,
mas que age sobre o que é, para que o que
é permaneça sendo o que é.
A ciência teme a si mesma . Ela teme
considerar realidades para além da matéria. A matéria é seu mantra, seu “deus”...E
os que são fanáticos precisam de um princípio oposto ao que acreditam, que
ponha sempre sua crença em risco, um “demônio”,
um ser “das trevas”. A ciência se refere a essa matéria “escura” como algo que
parece “das trevas”, que põe em risco seu fanatismo pela matéria.
Os que têm medo, medo metafísico,
jamais podem pensar. Também não o podem os adeptos de algum fanatismo. E o
pensar ,quando produtivo, não se distingue do empoemar. Por que não poderia ser uma
atividade semelhante ao pensar, um pensar que age, tal realidade estranha? Essa
“estranha realidade” não poderia ser,
enfim, o que os neoplatônicos chamavam de a “Alma do Mundo”? Se a matéria
compõe o mundo dos órgãos (e as estrelas e galáxias são os órgãos do Cosmos),
não poderia ser essa Entidade o Corpo Sem Órgãos do Universo?
Essa matéria estranha compõe 90% do
universo. E nós , seremos humanos, estamos nesses 90% também! Essa “matéria” nos compõe. Ela nos lembra a definição que oferece Espinosa acerca do que é um espírito ou ideia: “ A ideia é o que mantém
unidas as partes de um corpo”.
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