domingo, 12 de março de 2017

o corpo sem órgãos do universo

O homem, em última análise, somente encontra nas coisas
aquilo que ele mesmo nelas pôs.
O ato de encontrar se intitula ciência;
o ato de pôr se chama arte.
Nietzsche


Segundo a ciência, 90% do universo é feito de uma matéria  “escura” :“matéria escura”, assim a ciência a nomeia. Quando olhamos para o céu e imaginamos ver um espaço vazio entre as estrelas, não há na verdade tal vazio, mas a presença dessa matéria estranha, que não se pode ver. Nem mesmo às potentes lentes do  Hubble tal realidade se mostra.
Acredita-se que é graças a essa “matéria escura” que as galáxias não se dispersam.  Embora essa matéria singular  não seja a força da gravidade, ela tem mais força de agenciamento de coisas diferentes do que a gravidade, pois ela mantém unidas, consistentes, as realidades visíveis que a gravidade reúne, mas que podem dispersar-se, pela ação de outras forças.
Contudo, essa matéria estranha é um paradoxo...Ela não possui nenhuma propriedade da matéria que conhecemos. Nem mesmo sabemos do que ela é feita. Ela não pode ser vista, conhecida, mensurada; porém é sentida e pensada, ao menos pelos cientistas que pensam e sentem mais, que são quase poetas e filósofos...
Porém, por que chamar de “matéria” tal realidade que nada tem da matéria, a não ser o nome? Se ela em nada se assemelha à matéria tal como a conhecemos, ou a matéria que conhecemos não é matéria, ou essa realidade estranha não é matéria.
E por que chamar de “escura” essa matéria? A escuridão representa a ausência de luz. Porém, tal realidade estranha não é uma ausência, ela é a presença de algo que não sabemos o que é, mas que age sobre o que é, para que o que é permaneça sendo o que é.
A ciência teme a si mesma . Ela teme considerar realidades para além da matéria. A matéria é seu mantra, seu “deus”...E os que são fanáticos precisam de um princípio oposto ao que acreditam, que ponha sempre sua crença  em risco, um “demônio”, um ser “das trevas”. A ciência se refere a essa matéria “escura” como algo que parece “das trevas”, que põe em risco seu fanatismo pela matéria.
Os que têm medo, medo metafísico, jamais podem pensar. Também não o podem os adeptos de algum fanatismo. E o pensar ,quando produtivo, não se distingue do empoemar. Por que não poderia ser uma atividade semelhante ao pensar, um pensar que age, tal realidade estranha? Essa “estranha realidade”  não poderia ser, enfim, o que os neoplatônicos chamavam de a “Alma do Mundo”? Se a matéria compõe o mundo dos órgãos (e as estrelas e galáxias são os órgãos do Cosmos), não poderia ser essa Entidade o Corpo Sem Órgãos do Universo?

Essa matéria estranha compõe 90% do universo. E nós , seremos humanos, estamos nesses 90% também! Essa “matéria”  nos compõe. Ela nos lembra a definição  que oferece Espinosa acerca do que é um espírito ou ideia: “ A ideia é o que mantém unidas as partes de um corpo”.







Nenhum comentário: