Só podemos destruir
sendo criadores.
Nietzsche
É somente no buraco negro da
consciência e da paixão subjetivas que
se descobrirão as partículas
capturadas, sufocadas, transformadas, que é
preciso relançar para um amor
vivo, não subjetivo, no qual cada um se
conecte com os espaços
desconhecidos do outro.
Deleuze & Guattari
Dizem que o sol é “um incêndio acima
de nossas cabeças”. Porém , todo incêndio começa porque, antes, havia a existência
de algo prévio que não estava incendiado: a madeira da árvore, o capim do pasto
, a folha de papel, o barbante da vela... Essas coisas somente podem ser
incendiadas e pegar fogo porque foram criadas e têm existência própria antes de
um fogo, por acidente ou não, vir consumir suas vidas. Porém, o sol nunca fora
outra coisa do que o fogo, a explosão, a energia. O sol não é um planeta que
pegou fogo. Ele é plenamente fogo, sempre o fora. O sol não é o fogo a destruir
outra coisa, ele é a existência do fogo como energia pura a fluir de si mesma. O
sol é a unidade da destruição e da criação. O sol nos mostra que destruir e
criar são o mesmo, quando se trata da vida pura. Tudo o que tem vida é uma
unidade assim.
O que chamamos de morte não é destruição
da vida, mas o apagar-se de uma vida
enquanto destruição umbilicada à criação. A vida destrói criando-se, cria-se destruindo. O sol
destrói a si mesmo para criar a si mesmo como irradiação de si mesmo, e é assim
que ele dá vida a tudo, e não apenas a si.
Tudo o que é assim não tem forma ou
limite, e irradia-se para longe de si mesmo, tornando-se outra coisa no mais distante, como
o poeta existindo em seu poema. O sol irradiado torna-se fruto, homem, oceano e até mesmo
gelo. A criação não antecede a destruição, tampouco a destruição destrói tudo
até ficar o nada.
Além do
nosso sol há as galáxias, que também são a unidade de destruição e criação. Talvez
os buracos negros sejam a disjunção dessa unidade binária destruição-criação.
Os buracos negros nada irradiam, eles apenas sugam, sorvem as energias. Tal
como eles, assim são ,nos homens , os seus egos. Os que generosamente criam não
têm um ego, mas um sol onde deveria haver um coração: “Para brilhar e ter luz própria
é preciso ter caos dentro de si” (Nietzsche).
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