sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

mil sóis...

Só podemos destruir
sendo criadores.        
Nietzsche

É somente no buraco negro da consciência e da paixão subjetivas que
se descobrirão as partículas capturadas, sufocadas, transformadas, que é
preciso relançar para um amor vivo, não subjetivo, no qual cada um se
conecte com os espaços desconhecidos do outro.
Deleuze & Guattari


Dizem que o sol é “um incêndio acima de nossas cabeças”. Porém , todo incêndio começa porque, antes, havia a existência de algo prévio que não estava incendiado: a madeira da árvore, o capim do pasto , a folha de papel, o barbante da vela... Essas coisas somente podem ser incendiadas e pegar fogo porque foram criadas e têm existência própria antes de um fogo, por acidente ou não, vir consumir suas vidas. Porém, o sol nunca fora outra coisa do que o fogo, a explosão, a energia. O sol não é um planeta que pegou fogo. Ele é plenamente fogo, sempre o fora. O sol não é o fogo a destruir outra coisa, ele é a existência do fogo como energia pura a fluir de si mesma. O sol é a unidade da destruição e da criação. O sol nos mostra que destruir e criar são o mesmo, quando se trata da vida pura. Tudo o que tem vida é uma unidade assim.
O que chamamos de morte não é destruição da vida, mas o apagar-se de uma  vida enquanto destruição umbilicada à criação. A vida  destrói criando-se, cria-se destruindo. O sol destrói a si mesmo para criar a si mesmo como irradiação de si mesmo, e é assim que ele dá vida a tudo, e não apenas a si.
Tudo o que é assim não tem forma ou limite, e irradia-se para longe de si mesmo,  tornando-se outra coisa no mais distante, como o poeta existindo em seu poema. O sol irradiado  torna-se fruto, homem, oceano e até mesmo gelo. A criação não antecede a destruição, tampouco a destruição destrói tudo até ficar o nada.

  Além do nosso sol há as galáxias, que também são a unidade de destruição e criação. Talvez os buracos negros sejam a disjunção dessa unidade binária destruição-criação. Os buracos negros nada irradiam, eles apenas sugam, sorvem as energias. Tal como eles, assim são ,nos homens , os seus egos. Os que generosamente criam não têm um ego, mas um sol onde deveria haver um coração: “Para brilhar e ter luz própria é preciso ter caos dentro de si” (Nietzsche).





Nenhum comentário:

Postar um comentário