Quem
canta
ora
duas vezes.
(Santo
Agostinho)
São
Francisco monumentou os passarinhos.
(Manoel
de Barros)
De
pés descalços,
ele
dançou diante do Papa.
(Deleuze)
Pedras viravam rouxinóis...
(Manoel de Barros)
Pedras viravam rouxinóis...
(Manoel de Barros)
Monumentar passarinhos
Em meio às ruínas de um templo
nu de portas, paredes e teto,
extintas preces se foram sem deixarem eco,
apenas húmus e pó ali tomavam assento.
Foi nesse templo ao vento aberto,
chão da chuva e do sol caídos do céu,
foi na ruína do altar deserto
que Francisco viu pousado um rouxinol.
Na madeira da cruz um ninho ele fizera,
para ali guardar sua cria inocente.
E a cruz se fez de novo árvore vivente,
para ser o lar da vida em primavera.
Então, o rouxinol cantou a Francisco...
Sem precisar de sermão ou palavra,
Francisco ouviu, com o coração,
a aleluia dos vivos poetizada.
Calçando nos pés as estradas,
pôs como chapéu o firmamento.
Em diferentes seres aprendeu a ler uma diferente página,
do infinito Livro cuja Lei é o encantamento.
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