Certa vez, quando perguntado sobre sua poética, Manoel
de Barros respondeu:
Penso que
nasci com o olho divinatório, que é o que chamam de dom. É assim que Sófocles,
no Édipo Rei, chamou. Ele disse que o artista nasce com esse olho divinatório.
E que esse olho deve ser completado com outro olho, que é o olho do
conhecimento. E completou que a arte é feita da reunião desses dois olhos. Isto
seja: que a arte é o terceiro olho. Eu andei lendo os poetas, os filósofos,
ouvindo os músicos, vendo os Picassos para ganhar o olho do conhecimento. Acho
que a construção de minha poesia, que é uma construção meio caipira e meio
erudita é fruto desse terceiro olho e mais de uma disfunção lírica. Essa
disfunção vem do grande fastio que tenho pela palavra acostumada.
“Olho
divinatório”: olho de transver as coisas, desformar a natureza. Assim, a
poética de Manoel de Barros é inseparável de uma percepção. Esta não é um “fazimento
cerebral”, mas um instrumento de incorporação. Incorporar as coisas é sê-las, é
mimetizá-las como um camaleão.
O olho de transver é uma “visão fontana” na qual o mundo, renovado em seu inacabamento
, renasce e jorra em sua eterna
novidade:
Tudo que os
livros me ensinassem
os espinheiros já me ensinaram.
Tudo que nos
livros eu aprendesse nas fontes eu aprendera.
O saber não
vem das fontes?
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