Bom dia, estou participando desse
evento organizado pelos professores Mário Bruno ( UERJ) e Leonardo Machado (
UFRJ) .
Um texto que escrevi sobre Deleuze:
Em seu comentário ao livro “A besta
humana”, de Zola, Deleuze aborda alguns comportamentos hediond0s , de ontem e de hoje,
identificáveis à “besta”.
A besta não é um animal determinado
da zoologia. A besta é uma espécie de “fundo indeterminado” propagador de
(auto)destruição e m0rte, uma espécie de “buraco negro” que suga e extingue
toda forma de luz.
Os instintos protegem os animais desse “fundo indeterminado”. Nenhum animal é
capaz de cometer ato hediondo ou b4rbárie inexplicável, pois todos os seus
comportamentos são explicáveis pelos instintos.
A ferocidade do leão, por exemplo, não é
maldade ou crueldade, mas um comportamento explicável por sua natureza de leão.
Conhecendo essa natureza, podemos agir para evitarmos que essa ferocidade nos vitime.
No homem, o instinto não tem força
suficiente para protegê-lo desse fundo
indeterminado . Tampouco pode a inteligência, sozinha, vencer esse “buraco
negro”, o ninho onde dorme a besta.
Pois a inteligência , com suas
teorias e invenções tecnológicas, é voltada para o domínio do mundo externo, de
tal modo que a besta sempre se esconde às suas costas, como uma sombra.
Pode acontecer de a besta se servir
dos frutos da inteligência e usá-los como
doenti4s armas suas : “mísseis
inteligentes”, por exemplo, são a
inteligência a serviço da besta e sua necrop0lític4 de extermínio que não poupa
nem crianças...
Quando a besta toma a mente e a boca
do homem, nasce então a “besteira” como
antieducação e anticonhecimento.
A besteira é a besta empregando a palavra para destruir o próprio universo
simbólico.
Para quem sabe ouvir, crianças nunca
dizem besteiras; somente os adultos que são uma besta podem dizer besteiras que tortur4m os ouvidos
do espírito .
A besta pode até mesmo se servir da religião,
tal como no f4natismo teológico-político
armado de int0lerânci4.
Quando a besta toma o homem, este se
torna um ser irreconhecível , virando um bicho imprevisível que nem a natureza
explica mais...
Na mitologia, a “Besta” era
representada pelo Minotauro: metade touro, metade homem. A besta morava num lúgubre labirinto que
prendia a todos e parecia não ter saída.
Mas a bestialidade do Minotauro, sua
“sede de sangue”, não vinha do touro,
que é herbívoro. A bestialidade vinha da
parte humana acéfala e doenti4
, que usava a seu serviço a força bruta
do touro .
Além da inteligência, a vida criou o pensamento. O pensar redireciona
e amplia a inteligência , tornando-a
também (cons)ciência planetária
propagadora de ideias e afetos emancipadores.
Quando aceso, o pensar é luz que
resiste ao buraco negro, iluminando por
dentro e por fora, brotando da mesma
energia que os instintos da vida, potencializando-se pelo cultivo social da empatia que agencia , da cooperação que
congrega e da indignação que une os que
lutam contra as tirani4s.
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