sábado, 31 de maio de 2014

Pessoa, as duas paisagens: a de dentro e a de fora


Quem tem alma não tem calma.
Sou minha própria paisagem: 
assisto a minha passagem,
não sei sentir-me onde estou.

Fernando Pessoa

















Vaga, no Azul Amplo Solta



Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.

O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.

Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem. 

            Fernando Pessoa



"Sopra o vento", poema de Pessoa na voz de Joana Amendoeira:









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