terça-feira, 27 de maio de 2008




FIM DA INSÔNIA

A luz do quarto estava apagada,
mas não a da preocupada alma:
de um lado para o outro na cama eu rolava,
enquanto as horas pingavam da torneira do tempo.

De repente,
como se viesse por si própria,
e não porque eu a evocasse,
a vida vivida retornava:
o passado vinha dar sentido ao meu presente.

Abertas as portas da memória,
dela primeiro saiu pepita,
tal como era:
a pequena cadela ,
preta e amarela,
deitou-se aos meus pés
e me acalmou.

Depois, veio minha avó:
trazia um prato com feijão
que só ela sabia fazer para me curar.

Vieram as ruas de minha infância,
os campos de pelada,
e até mesmo a extinta chuva ressuscitou
para de novo sob ela eu brincar.

Novamente, vi Rosinha na janela...
Queria confessar-me a ela,
mas passei fingindo que não a via:
quando me virei, ela para mim sorria.

Por fim, duas mãos suaves se puseram
sobre meus olhos.
E com os olhos do preocupado adulto
assim fechados,
quando por fim as mãos do sono se retiraram,
foram os olhos do sonho que enfim abri.





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