quarta-feira, 1 de novembro de 2023

libertário X liberal

 

Propagando   ideias equivocadas ,   setores da mídia corporativa vêm chamando o trevoso candidato à presidência da  Argentina , o tal Milei,  ora de “libertário”, ora de “ultraliberal”, como se essas expressões fossem sinônimas.  Mas libertário e liberal são modos completamente diferentes de praticar e viver a liberdade.

Não é difícil encontrar a palavra “liberdade” na boca daqueles que a evocam como se fosse um direito para eles dizerem e fazerem atrocidades.   Por exemplo, o inelegível e seus comparsas  sempre evocam  a ideia de liberdade para eles falarem mentiras e fazerem ameaças autoritárias. E tudo aquilo que se opõe a tais falas e  atos autoritários , eles chamam de “censura”, mesmo as leis .  

Já libertário   é aquele que põe a liberdade em prática,  nascendo dessa prática uma mudança transformadora enquanto qualidade potencializadora   partilhada em comum na relação com os outros.

Um livro,  um poema, uma filosofia...podem ser libertários, desde que despertem  ações libertárias na prática, aqui e agora. A primeira vez que li a palavra libertário foi num livro de Maiakóvski , cuja poesia era definida como libertária.

Um autoritário pode evocar cinicamente a ideia de liberdade para realizar seus autoritarismos, porém nunca um autoritário pode realizar um ato libertário : ao contrário, é o  ato libertário que, quando realizado, põe fim ao poder  autoritário. O ato libertário está para um ser autoritário assim como o alho está para o vampiro...

Em nome de tal mundo “conservador-liberal”, querem nos impor hoje  um infame conluio entre o autoritarismo político e   o “autoritarismo do Mercado” , ambos fornecedores de capital e armas ao messianismo “teológico-colonialista”  exterminador de crianças.  

Em geral, tanto autoritários como liberais  advogam  ser a liberdade uma propriedade individual sua , algo que emana de seu ego. Já libertário é quem , singularmente, vive e promove relações emancipadoras , pois toda singularidade o é em uma relação : toda singularidade é parte de uma multiplicidade, ensina o libertário Espinosa.

Ao se referir ao Milei    como um “libertário”, na verdade a  mídia corporativa  confunde “indivíduo” com “singularidade”, “liberal” com “libertário”. Essa confusão é proposital, e visa afastar as pessoas da compreensão do  que é realmente libertário e antiautoritário.

Pela mesma razão , é uma contradição entre termos a expressão “anarco-capitalismo”. O anarquismo autêntico não promove a rivalidade competitiva do capitalismo, e sim a cooperação com autonomia, base e fermento de uma sociedade realmente democrática.

Tanto o liberal quanto o autoritário se unem em seus ódios destrutivos ao que é o Comum. Já o autêntico libertário  zela pela produção em comum do Comum, pois de “comum” vem “comunidade”.

O Comum não é aquilo do qual todos são donos e proprietários, o comum é aquilo que não pode ser reduzido à lógica da propriedade: do Comum ninguém é o dono, e mais participa do Comum quem promove relações libertárias, tais como a cooperação, a justiça, a empatia e a solidariedade, bases igualmente de uma educação libertária .




 

                  NECESSIDADE E LIBERDADE EM ESPINOSA 


Espinosa distingue “necessário” de “coação” ou “constrangimento”. Por exemplo, todo ser humano deseja  amar, ter saúde,  crescer material e espiritualmente, enfim, realizar suas potencialidades. Essa realização de potencialidades  é uma necessidade mais do que humana: é uma necessidade vital. Realizar essas potencialidades é a mesma coisa que  exercer a liberdade : a liberdade de ser o que se deseja ser . A liberdade concerne tanto ao desejo singular  quanto aos meios sociais para se efetivar as potencialidades.  Para Espinosa, somente a democracia é o meio necessário para a realização da necessária liberdade, pois a autêntica liberdade é uma necessidade singular e coletiva.

Já a coação é aquilo que obriga a um comportamento contrário à necessidade e que, por isso, fere a liberdade. Toda coação constrange, limita;  ao passo que tudo aquilo que é necessário liberta, horizonta ( como diria  Manoel de Barros).

Tiranos-autoritários coagem e constrangem, já educadores educam para o que é necessário: e necessário é tudo o que é libertário.




Um comentário:

cauepizindim disse...

Rio de margens que buscam me conter. Rio, e as conduzo até meu estuário.
Não é pouco o cascalho retirado do meu leito. Muito... se comparado ao escasso material reluzente (ouro ou pirita) que cega os tolos.
Assim, servirá à pavimentação do caminho e à construção da cidadela.