O filósofo Heidegger faz uma distinção fundamental entre a filosofia e a
poesia. Segundo ele, o pathos do pensar filosófico é o estranhamento. “Pathos”
é um afeto originário que acompanhar o pensar. “Estranhamento” é uma palavra
próxima a “estrangeiro”, enquanto aquele que não mora aqui neste lugar . Por
isso, o pensar filosófico é desenraizamento, desterritorialização a todo lugar
costumeiro e habitual[1].
O pensar filosófico faz do filósofo um estrangeiro em relação a todo pensar
habitual e costumeiro. O pensar filosófico vai além da história e da sociologia
, pois busca o Ser. O pensar filosófico busca o ser mediante conceitos.
Buscando o Ser, o pensar filosófico descobre a si mesmo como Abertura .
Já a poesia cria enraizamento : ela constrói um morar, um habitar a
Terra. Enquanto a filosofia se vale da linguagem como um instrumento para os
conceitos, a poesia habita a linguagem, fazendo da linguagem a própria terra de
um povo. Homero, por exemplo, não é apenas poesia enquanto gênero épico, pois a
sua poesia é a própria epopeia do povo grego para fazer do mundo a sua casa, o
seu lar ( a Odisseia de Ulisses, por exemplo , é um retorno à casa, ao lar)
A filosofia nos faz estrangeiros, a poesia nos quer autóctones :
autóctones da linguagem para sermos o povo da terra: Camões é o ethos português
criando um lar além do oceano, para fazer do distante , próximo; Guimarães cria
um sertão na linguagem, para que habitemos um sertão que não é apenas
linguagem.
A poesia não se desenraíza para buscar o Ser, ela cria um lar para o Ser
habitar. Esse lar não é o conceito, ele é o sentido de um poetar originário.
[1] É
também o que diz Platão ao se referir ao filósofo como um “atopos”: “aquele que
não está em um lugar”, isto é, aquele que não pode receber uma “etiqueta” que o
defina . Indo além do que afirma Platão, podemos dizer que o filósofo não é apenas um lógico, um teórico, um pesquisador, um esteta, um epistemólogo...Esse " a mais" que ele deve ser o aproxima do artista e do poeta.
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