Em épocas remotas, um certo ser
estranho que mal se distinguia dos primatas pegou o osso de um fêmur e dele fez
uma arma. Assim se materializou, pela primeira vez, o poder sob a forma de
ameaça de destruição e morte feita ao semelhante.
Essa mesma mentalidade ameaçadora e
destrutiva depois se armou com pau,
flecha, bala, pólvora,
canhão , mísseis...Até chegar ao
grau máximo dessa macabra involução : a guerra como instrumento do genocídio .
A mão daquele proto-primata que fez
do osso uma arma é a mesma que , hoje, aperta
o botão que lança mísseis contra crianças inocentes. Essa mão perdeu os pelos, as unhas estão
cortadas : ela se tornou a mão do homem branco que se autointitula “civilizado”.
Mas impulsionando essa mão coberta de
sangue inocente está o mesmo impulso
cego e irracional do proto-primata.
Porém naquela mesma época primeva outros se valiam
das mãos para criarem arte na parede das cavernas. Eram os ancestrais dos artistas e educadores,
que faziam da parede das cavernas a ancestral das lousas e telas.
De um lado, as mãos destrutíferas a
serviço da morte; de outro, a mão
criadora-artística afirmadora da vida.
Alguns teóricos “utilitaristas”,
quase todos estadunidenses, consideram
que a guerra é o preço a ser pago pelo progresso material da humanidade. Eles
elencam vários apetrechos tecnológicos
que “evoluíram” a partir da guerra.
Ou seja, esses teóricos “pragmático-realistas”
consideram que a guerra não apenas destrói, ela também construiria tecnologias
que , após a guerra, melhoram a vida do homem no planeta. Em geral, esses
teóricos consideram que a mão da guerra, e não a mão artística, seria aquela
que , no fim das contas, produziu a “evolução” da humanidade.
Porém, esse raciocínio que associa
guerra a progresso se mostra absurdo quando se considera o último fruto dessa
árvore da violência: a arma atômica com poder para destruir o próprio planeta e
a humanidade inteira.
Portanto, é uma ignorância falaciosa usar os raciocínios para tentar justificar a
existência da irracionalidade, sobretudo essa que hoje ameaça o planeta, seja
pela guerra , seja por um sistema
econômico desumano-predador, que são as duas faces da mesma moeda da involução
iniciada naquele fêmur ameaçador.
A guerra nos mostra que a evolução
tecnológica pode estar a serviço de uma involução que faz o homem regredir a uma mente semelhante
àquela do proto-primata, ainda mais agravada pelo fanatismo religioso messiânico.
A humanidade não começou naquele fêmur levantado em ameaça, ela começou naquelas mãos que transfiguraram a realidade em arte, em linguagem, em cor e forma. E foram essas mesmas mãos que , exercendo o cuidado, ampararam o semelhante ferido com o fêmur quebrado ( certa vez, perguntaram à antropóloga Margaret Mead quando começou a civilização, e ela respondeu dizendo que a primeira evidência de civilização foi um fêmur fraturado de 15.000 anos encontrado curado em um sítio arqueológico).
Nenhum comentário:
Postar um comentário