domingo, 12 de abril de 2009

jardim de outono 13



Da semente sai a árvore;
da árvore nascem incontáveis frutos;
em cada um deles, novas sementes;
e em cada uma delas, esperando para nascer,
outras árvores, outros frutos , outras sementes...
Na simples semente uma floresta inteira está guardada,
como divino segredo que a vida dá a conhecer a quem aprende a cultivá-la.
Mas a floresta só nasce se a semente for plantada.
Assim, pode a semente morrer de duas maneiras:
quando plantada, renascendo na árvore que dela nasce;
quando desperdiçada, morrendo junto com uma floresta inteira que ainda nem nasceu.

A alma individual é como a semente existindo entre duas florestas:
aquela da qual proveio,e aquela que dela pode brotar.
Dentro dela se encontram os frutos da humanidade inteira,
que só nascem quando a alma , plantando-se no tempo,
dos mesmos frutos colhe e aprende a ofertar.

jardim de outono 11

jardim de outono 10

quinta-feira, 2 de abril de 2009

jardim de outono 3





A CARRUAGEM DE DIONISO


Platão imortalizara a idéia da carruagem ao empregá-la como modelo para a compreensão da alma humana. A carruagem de Platão compõe-se de três elementos: o cocheiro e dois cavalos. Na carruagem de nossa alma, diz Platão, o cocheiro é a Razão: é esta que tem as rédeas e guia a carruagem para um rumo determinado, ao passo que aos cavalos cabe a obediência à disciplina imposta pela razão-cocheiro. Um dos cavalos, de cor branca, é dócil e receptivo aos comandos da razão: trata-se da Vontade. Mas o outro cavalo, de cor preta, é indisciplinado, convulsivo, rebelde. Quanto mais a razão quer comandá-lo, mais rígida ela precisa ser. Porém, somente à força o cavalo preto se submete às rédeas do cocheiro. Este cavalo preto é o Desejo.
Segundo Platão, na carruagem de nossa alma a razão e o desejo, o cocheiro e o cavalo preto, estão sempre em conflito. A disciplina provém da razão, enquanto que o caos atrai o desejo. Seguir o desejo é perder-se, acreditava Platão. Mas a alma não pode prescindir desse rebelde cavalo preto, uma vez que é dele que provém a maior parte da energia que a faz mover-se.
Curiosamente, uma outra imagem da carruagem inspirou Nietzsche. Trata-se da Carruagem de Dioniso, o Deus das Artes. Segundo o mito que cerca este Deus, Dioniso se locomovia em uma carruagem , sendo ele próprio o cocheiro. Mas, ao invés de cavalos, sua carruagem era puxada por duas panteras. Eram duas feras transportando o deus e mostrando o grande poder de Dioniso para guiar a natureza. A arte não nega ou reprime a natureza ( como o faz o cocheiro de Platão), mas a põe a seu serviço conforme uma disciplina que não é estrangeira à potência das panteras. Na natureza, as panteras são solitárias e jamais se unem. Porém, sob as mãos da arte, as panteras se tornam forças que se conjugam, que se agenciam, e conduzem a alma por sendas onde a razão não ousa ir.
Dioniso transforma a agressividade destrutiva e mortífera das pulsões-panteras em potência criativa afirmadora da vida. Dioniso é o próprio desejo que se tornou guia, cocheiro, domador: somente se pode segui-lo com a condição de transformar-se, conjugando disciplina e inventividade na condução da carruagem . Esta segue para onde não se sabe, pois seu destino é o próprio percurso enquanto este se faz.