sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

ano novo




Arrumar a casa.
Limpar a poeira acumulada, para que as cores sufocadas respirem em nova aparição. Cuidar dos suportes físicos, para que eles sejam a imagem externa da integridade do nosso espírito.
Lustrar os vidros, para que nesta transparência nosso pensamento se possa ver.
Reorganizar as distâncias entre as coisas, para que o espaço não seja um vazio, e para que a presença dos objetos não impeça o deambular de nossa percepção.
Praticar o desapego daquilo cujo tempo passou, para que a luz do dia toque de novo os olhos do nosso desejo.
Fazer tudo ao som da música, cantando junto, para que na mente também se opere a faxina.
Depois de tudo revitalizado, alegrar que sejamos nossa primeira visita.

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Entre um segundo e outro do dia, unindo-os para a cotidiana travessia, é aí que se vive o verdadeiro ano novo: em nossas mãos, enquanto avançamos, ao invés de champanhe ou fogos, a água, o pão e o sonho.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

paisagem deslimite






Limpar da tela ainda branca os clichês que previamente a ocupam e impedem que sobre ela nasça de fato algo novo, singular;curar a mente das ideias confusas que encurtam toda visão. Quando tal clínica acontece, o que há para pintar e ver não é um outro mundo, mas este mesmo: o único mundo, simples e múltiplo, como o pintou Vermeer.


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Espinosa polia lentes.Antes de tudo, tal atividade expressava um paciente esforço nascido de um desejo aplicado sobre si mesmo. O que Espinosa desejava ver mediante a lente?Ora, Espinosa sabia que o ver não é uma atividade meramente passiva, que se apaga no objeto visto. Ver é uma atividade produtora do visto: "ver vendo-se" aumenta a compreensão de si mesmo naquilo que se vê, ao mesmo tempo que torna claro o que se vê quando este não é mais impedido de ser alcançado por uma lente opaca e turva.A lente é o olho do espírito. Este é polido pela prática de uma vida sábia, livre. A mão atua nesse trabalho de ampliação daquilo que o espírito pode tocar. Polir a lente é a atividade de autoconhecimento, de firme aperfeiçoamento. Através do que ele via, Espinosa queria ver a si mesmo vendo-se e diferenciando-se daquilo que ele via e que dependia dele ver.Ao ver vendo-se, Espinosa se compreendia como o visto de um outro Ver que era imanente ao seu próprio ver, uma vez que nada existe fora desse Ver como atividade de uma Luz em relação a qual nada se furta.Polir o nosso ver é desejar ver brotar nele o Ver que integra todo visto à sua atividade.Diante de tal Ver, nosso ver é ,também ele, um visto, isto é, um objeto que aumenta sua potência quando pacientemente lustrado e polido. O ver não nasce no visto, mas no instrumento de ver . Espinosa compreendida que seu ver não nascia nele, em seu ego, em sua pessoa; ele sabia que seu ver era instrumento de um Ver que tinha em sua imanência tudo o que pode ser visto.A clareza do que se vê depende da natureza da lente. Esta não é um mero vidro passivo,transparente; a lente do espírito é o espírito mesmo em sua atividade de ver, conhecer e compreender.Todavia, o visto não é inato ao ver, uma vez que o visto é o ver mesmo produzindo e desdobrando-se, para dentro e para fora, aumentando pelo meio.Ao invés da visão contemplativa do místico, o ver produtivo do artesão.
Etimologicamente, “idéia” significa , aproximadamente,“objeto visto”. Para termos ideias é preciso que tenhamos abertos os olhos, os olhos do espírito. Ao objeto visto precede um ver como atividade de pensar. O pensar não é o visto, ele é o abrir os olhos para ver; o pensar não é a idéia, ele é o produzir idéias. Nessa produção do visto, a idéia se descobre como sendo o afeto mesmo, porém apreendido de uma outra perspectiva. Então, já não somos dois, mas um só: o que o espírito vê, o corpo sente; o que o espírito sente, o corpo vê.
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Estende-se a paisagem sem pedir à natureza um limite:
nunca a pode conter a humana moldura que em nosso olho existe.

pietá

Com as duas mãos para trás, andando lentamente, o homem de meia-idade só pensava em uma coisa: no próximo passo a dar, o qual ele dava de forma hesitante. De repente, passa correndo por ele uma criança, sem nada nos pés, sem nada nas mãos, sem nada no estômago. Correndo atrás dela, o policial, o assistente social, o padre, o psicólogo, as balas de revólver. Dentro do homem escondeu-se aquela criança, entrando-lhe pela porta da sensibilidade apenas entreaberta: a criança se apossa , desfaz o laço e o nó das mãos às costas, e delas cai o passado que o homem segurava como uma pedra.

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Maria não falava sozinha. Ela falava com ela mesma, no interior de sua alma. Acontece que sua alma se estendia cerca de 30 centímetros além de sua pele , como se fosse uma aura. Maria descobriu que tinha esta alma externa quando ainda era uma menina, e como menina brincava a sério de ter uma alma que não cabia totalmente nela.Ela nunca mais parou de brincar assim, sem perceber que cresceu. Parte da alma de Maria estava fora dela. Esta parte da alma tomava chuva, sol e vento; não aquele vento que Deus soprou como espírito, apenas vento mesmo; não raro, tal vento se impregnava com os restos de comida que Maria cata por aí. Maria carregava uma mala que nunca abria, como também não estava aberta, apesar das aparências, esta alma fora dela. Apesar de não estar aberta, atravessavam-lhe os gritos, as sirenes, os pedidos de socorro, as fumaças de tudo quanto é incêndio e os fragmentos de todos os seres que um dia formaram um todo. Maria carregava a mala como se estivesse para ir ou para voltar: e no intervalo entre estes dois atos que ela de fato nunca fazia, neste intervalo todo lugar se tornava o estrangeiro onde ela não podia morar. Embora a alma externa não fosse inteira, metade dela era imaginação, metade desejo: a idéia que em uma parte morria, na outra ressuscitava pelo avesso. Como se fosse um espelho cujo aço se apagou, essa alma-fora não deixava Maria ver-se nela.Muitas vezes, era a partir desta alma-fora que Maria falava, sem ninguém ouvir ou entender. Esta voz que do fora nascia, por vezes entrava por dentro da boca de Maria, como se fosse uma prece ao contrário. Prestando atenção até onde essa voz ia, parecia que Maria ficava em silêncio. Mas a voz ia até onde não a podia mais escutar Maria; e tampouco o pode a Psiquiatria, a Psicologia, a Filosofia, a Teologia e tudo aquilo que o homem inventou para falar a si. Talvez escute essa voz de Maria apenas os ouvidos da Arte: talvez quando vier a resposta, se vier, já seja tarde.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

evento

Laboratório do Imaginário Social e Educação – LISEconvida


CICLO DE ESTUDOS Pensando com Arte
Palestra:MANOEL DE BARROS – UMA METAFÍSICA DO CHÃO

Prof. Dr. Elton Luiz Leite de Souza(UNIRIO) e Leonardo Maia (UFRJ)


Dia: 10 de novembro de 2011(quinta-feira)
Horário: 18h e 30min
Local: Sala de vídeo(220), Faculdade de Educação– UFRJ
Av. Pasteur, 250 - Praia Vermelha
Serão fornecidos certificados de participação ao final do Ciclo, no total de 8hs.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

o mestre

Hoje me veio à boca uma palavra que há muito eu não dizia. Andam me faltando as oportunidades para dizê-la, embora também fossem raras as oportunidades para dizê-la na época em que eu , como aluno, a dizia - pois a disse a poucos, pouquíssimos. Eu mesmo, não sei se merecendo, já fui designado recentemente por essa palavra, pois hoje sou professor. Embora seja honroso ser por esse nome chamado, nada se iguala a poder ter alguém a quem chamar por esse nome, que será sempre o professor do professor, fazendo-nos não esquecer que o aprender precede todo ensinar.
Hoje, como dizia, eu caminhava pela rua quando vi, vindo na minha direção, um senhor de cabelos muito brancos, como neve a adornar altos picos. Aliás, creio que apenas em homens elevados, e que auxiliam os outros a se elevarem, deveria nascer tal cobertura branca. Não obstante sua vida muito vivida, tal senhor se mostrava altivo, e seu olhar parecia estar lá naquele lugar que somente o espírito desperto alcança, e onde sempre há coisas novas para ver , descobrir e colher. Quando ele estava bem perto, pude enfim dirigir-me a ele, dizendo a tal palavra que há muito eu não dizia: “Mestre!”. Quando a dizemos a quem a merece, nada há de submissão em seu sentido. Ao contrário, merece esse nome quem ajuda a despertar , como dizia Espinosa, no olho de cada um o olhar que lhe é próprio, olhar este que nos ajuda a ver para além de nós mesmos.
Então, o Mestre me viu, reconheceu-me e sorriu. Estendeu-me a mão, encontrando a minha que já estava em sua direção. Trocamos poucas palavras. Mas nem precisavam muitas. Ele se foi, e segui meu caminho tendo agora a companhia de suas lições que ainda estavam em mim como se eu as tivesse escutado ontem, embora eu as tenha ouvido há mais de vinte anos, pois quanto mais o tempo passa mais se aviva em nós o que tem valor e mereceu ser aprendido .
Pensei comigo: “será que ele sabe o quanto suas aulas foram importantes para mim?”.
O nome do Mestre: Luiz Alfredo Garcia-Roza.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

CONHECIMENTO E AUTOCONHECIMENTO

Fui alfabetizado fora da escola, antes de conhecer qualquer cartilha. Confesso que disso me orgulho muito. Aprendi a ler, então, fora do Estado e em um espaço privado não regido pelo valor exclusivamente familiar determinado pelo sangue. Comecei a aprender a ler na casa da minha primeira professora particular. Sua casa virou minha casa, sem que o fosse. Ela não tinha meu sangue, mas tinha algo que é o sangue do espírito: o afeto. Por isso, não era um espaço meramente particular ou privado este em que me iniciei no alfabeto . Não era um espaço regido pelo valor econômico. Havia, isto sim, a economia do afeto. Lembro-me que em seu quintal havia um viveiro com passarinhos de todas as cores. Aprendi a ler ouvindo também o canto, igualmente plural, desses passarinhos ao fundo. Quando entrei para a escola, já sabia ler e escrever; por isso, entrei diretamente para o segundo ano. Desculpem-me pela pretensão do orgulho, mas me marcou, pelo resto da vida, essa inicial autonomia filosófica.
Aprendi a ler graças ao esforço da minha mãe, ao amor da professorinha que me dava aulas em sua casa e, claro, graças também ao meu desejo de aprender a ler. Esse desejo está associado a um encontro, a uma amizade. Edinho, meu primeiro amigo, era cerca de 4 anos mais velho que eu. Quando eu tinha 5 anos, ele possuía 9. Naquela época, era uma diferença considerável. Nesse sentido, ele era para mim um exemplo. Edinho adorava ler gibis. Ele me emprestava vários, e eu os folheava todos os dias, vendo apenas as imagens.
Então, numa certa noite antes de dormir, como de costume eu folheava um gibi. A professorinha havia me ensinado o nome de cada letra. A partir do nome que eu ouvia , aos poucos fui conseguindo identificar o referido nome à figura de cada letrinha que eu via desenhada no papel. Depois, a professorinha me ensinou que cada letra podia, ao se encontrar com outra, formar um novo ser: as sílabas. Estas não tinham nome, mas eram a base de todo nome de coisas. Porém, eu aprendera que “b” com “a” formava “ba”; e que “l” com “a” formava “la”. Mas quando eu via a palavra “bala” escrita no papel, na verdade não a via, pois eu não conseguia ver o nome : via apenas ora as letras b,a,l e a , ou então as silabas “ba” e “la”. Ou seja, embora a palavra estivesse escrita no papel, ela ainda não estava escrita na minha pequena alma. Eu via apenas fragmentos, ou a união destes, mas não via o todo, pois o todo está apenas na alma , e isto descobri depois ( pois a palavra, em relação à frase, é um fragmento desta; mas a frase, em relação ao texto, é um fragmento deste; mas o próprio texto também é um fragmento: um fragmento da língua; porém , a alma não escreve apenas com a língua:esta é sempre um fragmento quando comparada com as ideias que alimentam e constituem a alma; e o todo da alma não pode ser medido "com régua", pois é um todo medido em intensidade, em potência: potência de pensar, potência de sentir, potência de criar; nesse sentido, a alma também é um fragmento: um fragmento do absoluto, como nos ensina Espinosa).
Voltando então àquela noite de minha vida, talvez a noite mais decisiva em relação ao que me tornei depois. Mais do que do fato, lembro-me da alegria que senti - alegria esta que nem mesmo o meu mais querido brinquedo , a bola, me proporcionou !
Eu folheava naquela noite, como de costume, um gibi. Eu ia das letras às sílabas, e mais longe não ia. De repente, como se fosse um saber adquirido instantaneamente, e não por progressão, de repente saltei um abismo: diante dos meus olhos eu vi, enfim, mais do que o “ba” e o “la”. Eu vi a palavra “bala”. Esta sempre estivera lá, fora de mim, escrita no papel. Mas agora ela estava em mim, e também fora de mim, e ao meu pensamento ela pertencia agora como instrumento de exploração do mundo. Depois da primeira palavra, passei para outra, e depois outra, e outra...Eu estava com tanta alegria, que corri até minha mãe para mostrar que aprendi a ler. Vi nos seus olhos que ela não entendeu tanta alegria. Aliás, nem eu entendia.Depois, fiquei com medo de ir dormir e esquecer o mundo que descobri, mundo este que estava dentro e fora de mim. O curioso é que foi graças à influência do meu amigo, ao meu desejo de ser como ele, que me esforcei para ler os gibis. Mas este meu amigo nunca passou muito além dos gibis. Sou-lhe grato , porém, por eu ter ido muito além dos gibis, pois foi nos gibis que comecei: querendo ser outro, terminei por me descobrir.
Hoje, ao me lembrar dessa experiência, entendo melhor o que diz Espinosa acerca do conhecimento e do autoconhecimento. Segundo ele, uma coisa é o conhecimento; outra coisa é a relação que estabelecemos com ele . Por exemplo, se um homem imagina que o conhecimento serve apenas para ele conseguir um bom emprego , ou se um cientista acredita que o conhecimento é útil apenas enquanto possibilita o domínio das coisas externas, embora o conhecimento assim obtido seja verdadeiro, dele não brotará, contudo, um autoconhecimento. E metade da verdade não é verdade: a verdade é sempre inteira. E a verdade inteira é feita de conhecimento e autoconhecimento.Um conhecimento só se torna o instrumento de um autoconhecimento se , enquanto conhecemos , conhecemos também que somos capazes de conhecer. Quando descubro que sou capaz de conhecer, descubro também, ao mesmo tempo, a potência que tenho de pensar, e que esta potência pode ser aperfeiçoada e servir de orientação para que eu possa agir adequadamente: o autoconhecimento me torna autônomo em relação às coisas que o conhecimento conhece. O conhecimento pelo mero conhecimento é, no fim das contas, ignorância de si, tal como no caso do Fausto ( o cientista de Goethe que quanto mais aumentava seu conhecimento mais aumentava seu desespero e vazio existencial). Mas o desprezo pelo conhecimento, tal como acontece no fanatismo religioso, torna impossível, ao mesmo tempo, a compreensão da natureza e o verdadeiro conhecimento de si. E tais ignorâncias acabam por se corporificar, na imaginação dos ignorantes, no Senhor das Trevas: Mefistófeles.

Assim, mais importante que o conhecimento que obtemos, é o modo pelo qual nos relacionamos com ele. Se o tomamos como um fim em si, ele nenhum poder terá para nos ajudar a vencer nossa ignorância sobre nós próprios; o mesmo acontece quando o tomamos como um meio para obter poder, prestígio, etc.
O homem nasceu ignorante das causas. E muitos crescem sem vencer essa ignorância: herdam os medos e superstições dos adultos que lhes cercavam e, acreditando-se livres, passam adiante tais fantasmagorias aos seus filhos ameaçando com castigos, no caso de uma saudável desobediência dos mesmos, ou os premia com elogios e presentes por identificarem neles os mesmos traços de escravidão passados como herança. É por isso que não podemos nos conhecer diretamente sem o exercício do conhecimento das coisas que não dependem das opiniões herdadas. Pois tais conhecimentos servem, antes de tudo, para nos libertar da impotente criança que ainda somos.
Enfim, o verdadeiro conhecimento nos ensina, ao mesmo tempo, sobre aquilo que conhecemos e sobre a capacidade que temos de conhecer. E quanto mais desenvolvemos essa capacidade, mais nos conhecemos como um espírito que pensa. Não devemos dizer “penso, logo existo”; e sim : “conheço o mundo, logo sou capaz de conhecer o mundo, e isto porque sou um ser dotado de pensamento livre, e é através deste pensamento que me conheço como um ser do mundo, que possui um corpo que é a expressão do infinito; e que meu espírito não é inimigo desse corpo, pois quanto mais conheço meu corpo mais me autoconheço como espírito”. É uma ilusão achar que existe um autoconhecimento apartado de todo conhecimento. Essa ilusão alimenta a idéia equivocada de que existimos à parte do mundo que a razão conhece. Essa ilusão nos divorcia do mundo, e nos faz crer que existimos como um puro espírito sem corpo, ou que o corpo nada tem a ver com aquilo que somos. Essa ilusão nos faz crer que espírito e corpo vivem em mundos diferentes : apenas o espírito viveria em um mundo verdadeiro, ao passo que o corpo viveria em um mundo aparente. É a essa ilusão que conduz a filosofia de Platão quando ele diz que “o corpo é o túmulo da alma”. Mas Espinosa nos diz que o corpo e a alma são a mesma coisa vista de duas perspectivas diferentes. Uma alma que crê que o corpo é seu túmulo é uma alma que, ainda em vida, já está morta.
Em francês, a expressão para “conhecer” é perfeita: “co-naitre”. Isto é, “nascer junto”. Naquela noite, ao ler o gibi, aprendi que aprendia não apenas a ler: aprendi que aprendia a (re)nascer.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Evento sobre Poesia e Filosofia


Link para evento sobre Poesia e Filosofia do qual participarei:

http://estacaodasletras.com.br/cursos/cursos-setembro-de-2011/entrelacamentos-filosofia-e-poesia/

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Mínimas

Aumentei meu corpo,
embora diminuindo-lhe a sombra,
pois por dentro fiz crescer a luz da alma também.

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A melhor maneira de ver no escuro
é mantendo a alma acessa.
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Quando Cristo transformou água em vinho
era seu desejo começar uma festa.

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O temor do futuro
diminui o horizonte nos olhos.

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A pérola nasce dentro da ostra
porque sua confiança não depende do que lhe está fora.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Mínima ética

O Destino não deixa a alma escolher o caminho sozinha.
O Acaso diz que é igual qualquer caminho que a alma escolha.
Mas só a Arte dá ao acaso do caminho o andar que se fez destino.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

espinosa4

No "Tratado sobre a Reforma do Entendimento", vê-se Espinosa às voltas com uma questão existencial. Percebe-se, logo nas primeiras páginas, toda a gravidade de sua busca. Ele parece buscar um remédio. Além de buscar um remédio, ele mesmo precisa se transformar no seu próprio médico. Não que ele vivesse mal ou estivesse doente. Na verdade, ele buscava um remédio que lhe permitisse sobreviver a um mundo, este sim, doente.Seu remédio era, por isso, a manutenção de sua saúde.Porém, encontrar esse remédio não é tarefa fácil. E o remédio nada pode se , antes, não adotarmos certa conduta condizente com alguém que quer mudar de vida.Por isso, Espinosa nos diz que é preciso a prática de certos exercícios.Embora a compreensão do que é Deus seja algo acessível a poucos, o exercício de que ele fala é acessível a todos, e nos prepara para aquele conhecimento. Mas todo exercício é uma prática, e não uma teoria. E aqui está a sua beleza e , ao mesmo tempo, a sua imensa dificuldade. Um homem que é um especialista teórico em caminhadas, que sabe tudo sobre caminhadas, mas que ele próprio nada caminha, um homem assim nada sabe diante de um outro homem que nada sabe teoricamente sobre caminhada , mas que, no entanto, caminha.Aquele que caminha adquire um saber que não é teórico sobre a caminhada, um saber que é, ao mesmo tempo, uma prática. O exercício em questão, que não deixa de ser uma caminhada da alma, está apoiado em três pontos: a generosidade , a firmeza e a modéstia. Antes de tudo, tais virtudes são exercícios que a alma deve querer praticar sobre ela própria em contato consigo e com os outros. A generosidade é o exercício do desapego em relação a tudo aquilo que temos mais do que suficiente, e que outros têm pouco ou nada tem. A firmeza é o exercício que consiste em afastar de si toda volubilidade e inconstância. Por exemplo, se alguém precisa se apoiar em sua mão para fazer uma travessia, mantenha sua mão o mais firme que você puder. Se alguém precisa do seu ombro para não cair, ofereça-o ( com generosidade) com firmeza, antes que o outro lhe peça. E enquanto o outro se apoiar em você , seja firme, o mais que você puder, ao servir de apoio. Sobretudo, seja firme o máximo que você puder quando você mesmo precisar se apoiar em você ( quando todos pensam diferente de você, por exemplo).Seja firme também quando uma ideia ou valor precisar se apoiar em sua mente. Por exemplo, ser justo é apoiar a ideia de justiça em nosso ser. Para ser justo é preciso, antes, ser firme.Ser firme não significa ser rígido ou autoritário. Só nos tornamos autoritários quando confundimos o apoio com aquilo que se apoia, e acreditamos ser o beneficiado exclusivo daquilo que se apoia em nós. A modéstia, por sua vez, não deve ser confundida com a humildade. A modéstia é uma espécie de amor, ao passo que a humildade é uma espécie de ódio. O humilde é aquele que sente ódio por si, que apenas vê seus defeitos e fraquezas, e nada mais.O humilde é o vencido antes mesmo da luta.A modéstia diz , por sua vez, que a vitória do outro não é uma derrota nossa; sua alegria não é nossa tristeza; sua felicidade não é nossa infelicidade. O modesto é aquele que sente alegria com a alegria do outro; fica feliz com sua felicidade; sente-se livre quanto mais livre o outro é. Ele não se diminui com a grandeza do outro, tampouco se sente grande quando o outro é, sob algum aspecto, pequeno. A modéstia é a virtude característica daqueles que são mais sinceramente aptos à amizade.A modéstia, por isso, é a virtude mais social que há.Mas de todas as virtudes implicadas nesses exercícios sobre si, a mais necessária talvez seja a firmeza; pois, sem ela, seria mais difícil o esforço para nos tornarmos generosos e modestos.Ser firme é, no sentido o mais elevado da palavra,Crer.

terça-feira, 31 de maio de 2011

espinosa 3( trecho de livro sobre Espinosa, a sair)

No livro "Tratado sobre a reforma do entendimento", Espinosa persegue um fim: o aperfeiçoamento de si mesmo. Para esse aperfeiçoamento , porém, não existem modelos prévios a seguir, tampouco receita pronta para aplicar. Aperfeiçoar a si mesmo é, segundo ele e antes de tudo, aperfeiçoar a vida que se leva.Nesse projeto existencial de Espinosa, que ele colocou para si mesmo, o ponto principal diz respeito ao exercício do amor. Nesse sentido, uma frase do Tratado se apresenta como um estribilho, um refrão: "Nossa felicidade ou infelicidade depende da qualidade do ser com o qual nos unimos através do amor". Segundo Espinosa, o amor é a passagem a uma perfeição maior acompanhada da ideia de uma causa externa. A causa externa é exatamente o ser que amamos. Esse modelo vale tanto para pessoas como para as coisas.No amor , portanto, padecemos; isto é, padecemos a ação de algo externo, tanto uma pessoa como uma coisa ( um celular, um automóvel, um sorvete, uma bebida,etc.).No caso de um amor tendo como causa uma pessoa, devido ao fato do amor vir de fora, este mesmo fato pode produzir no homem a incerteza sobre existência do amor que o outro sente.Quando esta incerteza nasce, nasce também com ela um outro afeto: o ciúme ( embora o ciúme também possa ser aplicado ao amor pelas coisas materiais...). Imaginemos que um sol ilumina nosso rosto. De sua luz em contato com nosso rosto nasce um prazer, uma alegria: o calor. O amor é como esse calor que nasce quando a luz do sol toca nosso rosto. O amor não é a luz do sol, tampouco nosso rosto. Ele, o amor, é o calor que nasce desse encontro. Visto assim, ele é um efeito de um ser que existe fora de nós. Uma dúvida pode nascer naquele que ama desse modo: será que esse sol aquece melhor um outro rosto diferente do meu?Será que essa luz não me é exclusiva?Será que ele ilumina mais esse outro rosto do que o meu? Dessas comparações nasce uma flutuação dentro da alma. Essa flutuação é exatamente o ciúme. O sol que antes eu amava, eu agora o odeio, o odeio ao mesmo tempo em que o amo, e isto porque suspeito que sua luz ilumina mais um outro rosto que não é o meu. O ciúme é uma espécie de ódio. O ódio é o sentimento de uma passagem a uma imperfeição acompanhada de uma causa externa. O ódio, segundo Espinosa, é uma forma de tristeza. No ciúme, nossa alma passa do amor ao ódio, ou seja, vive sentimentos irreconciliáveis, irredutíveis, mas que dentro da nossa alma se tornam indiscerníveis, como se fossem a mesma coisa. Além da flutuação do amor ao ódio, do ódio ao amor, o ciúme também produz uma inveja do outro ser que acreditamos ser mais amado pelo ser que amamos.
Como então sair desse sofrimento do qual somos, de certa forma, causa?
Segundo Espinosa, devemos também conceber o amor como um afeto que nasce de uma causa interna.Não se trata, claro, do nosso ego essa causa, mas de um ser que não nos é externo, e que é interno igualmente a toda coisa, inclusive ao ser que nos é externo e que amamos na primeira forma de amor: é o sol que está dentro de cada coisa.Na vida ordinária, na qual o amor se confunde com a posse, vivemos o amor como algo que nos vem de fora. Mas há essa outra forma de amor que pode vir de dentro. Nessa forma de amor, não mais padecemos, mas somos de certa forma causa do amor. De certa forma, nós o produzimos: descobrimos dentro de nós um sol no qual nós nos irradiamos, possibilitando-nos ir além de nós mesmos; para assim, no doar-se e não na posse, encontrarmos a nós mesmos.

sábado, 21 de maio de 2011

espinosa 2


É interessante a imagem que Platão e Espinosa fazem do amor. Tão interessante quanto diferem radicalmente entre si. A imagem de Platão é mais conhecida, embora muitos conheçam a história sem reportá-la ao seu verdadeiro autor.
Platão acreditava que o amor é desejo. Desejo daquilo que falta. O desejo seria a marca de uma incompletude radical. Só desejamos porque nos falta aquilo que nos faria voltar à unidade originária, no tempo perdida. Obtida a outra metade que nos falta, restituída assim a unidade perdida, finda o desejo , como se extingue o fogo quando não há mais madeira para queimar. O objetivo do desejo é encontrar aquilo que ele deseja :uma outra metade também perdida, para assim findarem ambos em uma unidade que apaga a diferença de cada um dos desejos em suas diferenças. O destino do desejo é ser apagado, morto. Tornar-se completo, segundo Platão, seria fundir-se em uma unidade que revelaria que a diferença é ilusão.
Espinosa pensa de outro modo. Para ele,  desejar é buscar um outro desejo que se componha com o nosso. Desejar é , junto com outro desejo do nosso diferente, criar um terceiro indivíduo, do qual meu desejo e o outro desejo sejam partes vivas.
Enquanto em Platão a unidade originária pré-existe ao desejo que a busca, em Espinosa a unidade não pré-existe aos dois desejos que a inventam, ao se conjugarem. Mediante o terceiro indivíduo que nasce dos dois desejos conjugados, cada desejo não é negado ou suprimido, mas potencializado : um vive no outro por meio da Vida que ambos inventaram em comum.Vida que se alimenta das diferenças que se auto-enriquecem, que se auto-inventam. Quando dois desejos se unem e criam um terceiro indivíduo superior, nasce desse terceiro indivíduo um desejo também superior, concernente à alma e também ao corpo, desejo que não é mais de um ou do outro, porém  dos dois desejos transformados e potencializados em um único desejo que se quer a si mesmo. O desejo não se torna mais falta do que se deseja, pois ele se possui a si mesmo ao se dar para o outro. Assim conjugados, ambos desejam a mesma coisa: manter vivo o terceiro indivíduo que só existe mediante eles. Por intermédio  dele, ambos podem cada vez mais desejar não o que falta, mas o que potencializa o que já se é, singularmente.

sábado, 14 de maio de 2011

Espinosa

Uma das afirmações mais mal compreendidas de Espinosa é aquela que diz:"A infância é a pior época da vida".Na verdade, Espinosa não quis atribuir ao fato de ser criança nenhum elemento negativo que fizesse intrinsecamente parte dessa fase da vida. O que ele quis dizer é que é ruim ser criança tendo em vista a qualidade dos adultos que cuidam da vida das crianças. São os adultos, com suas ignorâncias e superstições, com seus medos e intolerâncias, que tornam difícil o fato de se ser criança, roubando desta toda inquietação e interesse na descoberta do que é a vida. Se os adultos buscassem mais a liberdade do que a escravidão, se eles cultivassem mais a compreensão do que a ignorância,nada haveria de melhor do que ser criança diante de adultos assim.Aprender seria , em todos os sentidos, uma alegria( pode-se ver isso perfeitamente no filme "A língua das mariposas").

quarta-feira, 13 de abril de 2011

a semente

Há muito tempo que isso aconteceu.A sala de operação, muito branca, me encerrava nela. Muito nervoso, eu esperava pelo médico. Tratava-se de uma operação de coração, e eu era o paciente.Não sei como fui parar ali, por quais caminhos andei ou fui levado. Sabia apenas que haveria uma operação e eu era o paciente. 
De repente, entra o médico. Ao vê-lo, meu medo desaparece, pois o médico que me operaria era nada mais nada menos que o poeta Fernando Pessoa! Em princípio, achei estranho ; depois me pareceu ser verdadeiro um poeta ser o cirurgião dos corações que precisam curar-se. Diante do poeta nasceu em mim a confiança de que ele era o ser certo para agir em mim. Com o jaleco branco, mas de chapéu, o cirurgião-poeta me olhava com um olhar atrás do qual viviam incontáveis almas, e todas estavam ali para me acudir.
Após abrir meu peito e retirar meu coração, o poeta-médico me disse que aquela parte de mim estava consideravelmente pesada. O poeta  segurava meu coração com as duas mãos, como se fosse um pedregulho. Ele prosseguiu dizendo  que era preciso extrair do meu coração o excesso de peso. Assenti com o poeta, demonstrando minha concordância e confiança no poder da poesia para curar um coração que sofre.
Então, o poeta-médico foi extraindo do meu coração coisas que não eram físicas, embora pesassem. Primeiro, ele retirou o cadáver de palavras que outrora foram vivas, mas que hoje evocavam fantasmas apenas; depois extraiu a dor que eu pensava já não mais sentir , mas que em mim doía ainda , feito um parasita que se alimentava de mim às escondidas; encontrou ocultas dentro do meu coração , ainda intactas, as fotos que minha mão rasgou ; por fim, jogou fora do meu coração decepções, ingratidões... e o que mais o adoecia: saudade.
Depois de extrair tudo isso que me pesava o coração, o poeta se preparava então para recolocá-lo novamente no meu peito. Quando olhei para o meu coração na mão do poeta, fiquei surpreso. Pois meu coração estava tão pequeno que eu pensava que , daquele tamanho, ele não seria forte suficiente para me fazer de novo vivo.
Porém, recolocando o coração no vazio do peito, o poeta por fim me disse: “ele está assim pequeno porque do seu velho coração retirei o inessencial e deixei apenas a semente: dela brotará , com o tempo, um ser novo”.Uma clínica fez-se.Vivi um poema por dentro, como parte dele, e ele como parte de mim: arte e vida as experimentei como sendo o mesmo.E logo quis me pôr de pé para ensinar a boa nova que aprendi.
E foi então que despertei do sonho. Ainda estava aberto sobre meu peito o livro que adormeci lendo: O Eu Profundo e os outros Eus, de Fernando Pessoa, o próprio. Olhei o relógio ao lado da cama: eram quatro horas da manhã de um dia que nascia como nunca antes outro nasceu.Fui  à janela para  ver chegar  a aurora.

quinta-feira, 31 de março de 2011

evento na SPCRJ

"Mesa Redonda: O Tempo do Por Vir e a Poesia de Manoel de Barros"

09/04/2011, às 09:00
Convidados: Auterives Maciel e Elton Luiz Leite de Souza
Coordenação: Anna Elisa Penalber

link:http://www.spcrj.org.br/agenda/eventos_agenda/


segunda-feira, 28 de março de 2011

o escudo

Embora eu desconfie muito daqueles que colocam a razão em um altar, e diante dela se põem de joelhos, não obstante isso devo minha vida, em parte, ao progresso tecnológico e científico, que é a maior expressão da racionalidade ocidental. Explico-me:não nasci de parto normal, mas sim de cesariana. Foi um parto difícil, extremamente arriscado. Ele só foi possível graças a todo um aparato técnico-científico. Portanto, se minha família vivesse em um lugar bucólico e parnasiano, perto da natureza intocada e imaculada, cujos únicos vizinhos fossem o gado, a grama e as estrelas, certamente ali eu não sobreviveria. Aliás, nem mesmo nasceria.
E isto pelo seguinte fato: perto da hora do parto, os médicos perceberam que eu me encontrava em uma posição fora do comum e diferente. Pois ao invés de a minha cabeça estar na direção da “saída” do útero, minha cabeça se encontrava, ao contrário, como que encostada no coração de minha mãe. Na verdade, eu fazia desse coração uma espécie de travesseiro bom, e era com a cabeça apoiada aí que eu sonhava o eterno sonho que comecei a sonhar quando ainda era um simples anjo brincando na eternidade. O som do palpitar do coração de minha mãe era uma espécie de hino sagrado que não me deixava esquecer que o mais sagrado de tudo é a inocência de não saber e não saber-se, pois somente assim podemos nos ligar a algo sem interesse algum, e com tudo o que existe nos fazermos Um.
Porém, quando os médicos enfim abriram o corpo dentro do qual eu estava, para assim me fazer nascer, lá de dentro ainda despertei daquele sonho, e ouvi o ruído rabugento de homens se digladiando pelo poder. Soube depois que aquelas vozes ameaçadoras eram as vozes dos generais que, àquela época, dominavam com terror o meu país.
Então, tentei fugir para o coração de minha mãe... Mas descobri que o coração não tem porta e nem poderia ter, pois as pessoas que nos amam de verdade já nos carregam dentro de seus corações , desde a eternidade.
Quando os médicos enfim me puxaram para fora, agarrei-me de tal modo ao coração de minha mãe que acabei trazendo ele comigo. Agarrei-me, claro, não ao coração físico, mas sim ao coração do seu espírito, e fiz desse coração, desde que nasci, o doce escudo que sempre trago comigo: atrás dele não temo nenhum inimigo, e atrás dele também cabe quem quiser se juntar a mim e lutar comigo.

o estilingue

Quando tinha 8 anos,mirei com meu estilingue o Céu das Idéias de Platão.Municiei o estilingue não com críticas ou conceitos teóricos, pois meu estilingue não era uma metáfora e nem uma abstração.Era sim, para o meu espírito-menino, a lúdica e desejada filosófica arma : insubmissa e arteira, talhada na madeira do meu inquieto coração.
Armei o estilingue com uma bolinha de gude, dessas que trazem dentro pequenas bolhinhas de ar rodeadas por alvas massas em relevo, semelhantes a nuvens, como se um céu de verão lhes vivesse dentro - e desse mesmo dentro quisesse escapar.
Quando então atirei com o estilingue, acertei em cheio a principal Idéia, o motor daquele inacessível Céu pairando acima de tudo: atingi a testa da Idéia de Verdade. Um brilho acendeu no céu, como se o infinito risse: era o céu de verão que se libertava do seu pequenino casulo de vidro.
A Idéia de Verdade tombou aos meus pés. Então vi, com meus olhos de menino que vê o mundo como poesia, que tal Idéia era apenas como um pardal empalhado: sem sangue, sem vida - rígida, oca, estéril. Para minha felicidade de garoto que se arma apenas com a inocência , mirei também em outros pássaros empalhados daquele Mundo Fictício: quedaram então, um após o outro, o Dogma, a Lei, o Inferno , o Juízo Final, o Bem, o Mal... Até cair, por fim, o ninho de todos esses pássaros sinistros: a Morte.
Esse estilingue tinha a forma da letra “V”, de “Vida”. Para os pardais que voam livres eu o oferecia como um poleiro amigo. E se hoje tento talhar aquele estilingue nos escritos do adulto, é no desejo de ainda estar vivo em mim aquele mesmo livre menino.