domingo, 5 de novembro de 2023

O humanismo de Sartre

 

Sartre foi um dos maiores pensadores  de todos os tempos. Porém, ao invés de teorizar nas academias,  ele preferia escrever e filosofar nos cafés e ruas .  Já perto do fim da vida, quando passava por dificuldades financeiras, Sartre ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, que pagava uma  fortuna. Mas Sartre recusou o prêmio, dizendo que jamais se deixaria comprar pelo dinheiro  burguês.

Sartre  foi muito perseguido pelos intolerantes religiosos da época. Gritavam para ele: “comunista, ateu!”, como se isso fosse o pior dos xingamentos. Sartre respondia que , antes de tudo,  ele era  um humanista.

Sua fé era na história e no ser humano, embora dissesse que o ser humano ainda era apenas um projeto a ser criado, cuja criação dependia que se transformasse a sociedade para  libertá-la das garras dos homens que são lobos de  outros seres humanos.

Sempre provocativo, Sartre dizia mais ou menos o seguinte:

“Sou humanista, porém combato o poder falocrático e predatório do homem.  Pois  se nós perguntássemos às florestas o que elas acham  desses homens que as derrubam por ganância, e se pudessem falar, as árvores diriam: esses predadores não são seres humanos, eles são demônios! Se indagássemos  aos mares e rios o que eles acham que são os homens que os poluem com lixo industrial , os mares e rios diriam: são demônios esses poluidores! Se perguntássemos aos animais que são caçados e exterminados por caçadores  que arrancam  suas peles , cortam suas asas e decepam  suas cabeças por mera diversão doentia,  se perguntássemos a eles o que  é o homem, esses animais diriam: é uma besta,  um demônio! Como um ser  assim, que massacra seus semelhantes em guerras fratricidas, como pode um ser assim   se proclamar à imagem e semelhança de um Deus que ele diz ser  do Amor? De minha parte, busco construir um humanismo em relação ao  qual os bichos, as árvores, os rios, enfim, a própria terra   não veriam nesse humanismo um  carrasco  , mas um amigo e aliado . E o mais importante: no  humanismo que defendo, o amor e a fraternidade entre os seres humanos não dependeriam de um Deus iracundo  que a isso obrigasse. Pois meu humanismo é  liberdade .”

Quando Sartre faleceu, seu cortejo fúnebre percorreu as ruas lotadas de Paris, milhares de pessoas foram se despedir do filósofo. Nem todos os que ali estavam concordavam com ele, tampouco compreendiam totalmente seus escritos.

Mas o afeto presente em cada uma daquelas pessoas do povo era o testemunho da seguinte lembrança : quando Paris foi ocupada pelos nazistas e seu terror, Sartre não se escondeu, ele resistiu e lutou , sempre à frente e com coragem, mesmo quando a liberdade e a paz pareciam apenas um sonho, uma utopia. Ser livre, dizia Sartre, é se engajar na luta contra os inimigos da liberdade.

Influenciado pelo existencialismo de Sartre, Caetano assim cantou: “Existimos, a que será que se destina?”, “Vida sem utopia, não entendo que exista...”

 








Trecho do filme Waking life sobre o existencialismo: 


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