domingo, 28 de novembro de 2021

a educação e seu tempo

 

Esta ideia está esboçada no filósofo e poeta Emerson ( que aqui interpreto): a educação autêntica, aquela que realmente muda as vidas individualmente  e prepara um futuro  social digno, essa educação emancipadora tem que começar sempre o mais cedo possível. Mas qual é esse “mais cedo”?

Em relação ao adulto, o jovem está nesse tempo mais cedo, pois o jovem  vem antes do adulto. Mas a criança vem antes do jovem, pois ela  vive num tempo ainda mais cedo. 

O que caracteriza o “mais cedo” é que ele é um tempo cujo sentido é a abertura ao futuro. Assim, a criança é pura abertura ao futuro, mais do que o jovem. Por isso, a criança é pura potencialidade, assim como a semente da qual virá o fruto.

Segundo Emerson, porém, existe ainda uma realidade anterior à criança, um “mais cedo” ainda mais cedo. E é nesse tempo mais cedo de todos que a educação libertária precisa começar.

Mas Emerson não está se referindo à vida no interior do útero, pois o tempo mais cedo fundamental vem antes até mesmo  dessa existência uterina.

Contudo, esse tempo mais cedo originário  não é uma vida anterior no sentido de outras vidas vividas num além religioso ou metafísico. Pois esse “mais  cedo” referido pelo filósofo é a realidade social. A sociedade é anterior ao indivíduo, e é portanto nela que é preciso começar a educação.

 Nesse sentido, a educação é a mais elevada, potente e necessária das práticas políticas e éticas, pois  educar não é apenas  tornar o indivíduo um empreendedor-consumidor econômico, tampouco um mero soldado  da "Ordem" estabelecida, e sim um agente-cidadão transformador de sua realidade social e política.

No adulto, o jovem que ele foi ainda está dentro dele e o influencia . E o jovem, por sua vez,  ainda traz dentro de si a criança que também o influencia ( como mostra a psicanálise).

Se a criança sofreu traumas , estes ainda persistirão , como sintoma, no comportamento do jovem. Contudo, o jovem pode procurar ajuda,  tomar consciência, agir sobre si e superar esses traumas do passado que limitam sua vida presente.

A sociedade vem antes da criança, imprime-se nela  e influencia seu  ser futuro.  Uma sociedade injusta, desigual, autoritária e individualista imprime traumas na criança que ela sozinha não tem como vencer. Traumas que roubam seu futuro, como o trauma da violência  e da miséria, tanto as misérias e violências  materiais como  as simbólicas.

Assim, a educação autêntica precisa começar nessa realidade social “ o mais cedo possível”, inclusive detectar seus efeitos limitadores na criança, pois a realidade social influencia decisivamente   o desenvolvimento psicológico, afetivo, social e  cognitivo da criança.

É preciso agir nesse “mais cedo” para  que não seja “tarde demais” a construção de um futuro digno.




sábado, 27 de novembro de 2021

dos sultões, ontem e hoje

 

O fascista  esteve recentemente  lá pelas terras do Oriente Médio e ficou encantado com algumas coisas  que viu por lá, tanto que nem queria voltar, estendendo ao máximo  seu  turismo de mau gosto bancado  com nosso dinheiro público.

Ele adorou o abominável machismo institucionalizado daquelas sociedades , onde as mulheres são tratadas como seres inferiores. Ele também se identificou profundamente com as estranhas monarquias daquelas terras, obscuras  ditaduras   do deserto.

O genocida ficou tão encantado com esses aspectos deploráveis que até sonhou que era sultão. Traidor que é, no  sonho ele  trocou o tal “Deus Acima de todos ” por Alá e Maomé.

Dizem que ele quer implantar por aqui coisa parecida,  porém adaptada ao seu jeito tacanho:  um sultanato teo-miliciano.

Isso me lembra uma história :

Havia uma aldeia onde um sultão  resolveu vingar-se das mulheres. Seu ressentimento era devido ao fato de que nenhuma mulher o amava espontaneamente, apenas à força. Rico e poderoso , ele conseguia ter tudo, menos amor. 

Valendo-se de seu poder, e querendo se vingar, ele resolveu obrigar  todas as mulheres solteiras da aldeia a se casarem com ele , uma a uma. Seu plano era, após a  lua de mel, tirar a vida de cada uma.  Ele aprisionou as mulheres em seu castelo . E antes que ele escolhesse uma para ser sua primeira vítima , tomou a frente de todas e ofereceu-se  uma jovem chamada  Sherazade.

Quando o sultão a levou para o quarto  e ordenou que ela fosse para a cama, Sherazade pediu: “Posso lhe contar uma história?”. E ouviu como resposta: “uma história a uma hora dessas!? Conte, mas seja rápida...”. Mas quando Sherazade começou a narrar a história, o sultão ficou tão absorvido que não reparou o passar do tempo.

Quando já estava amanhecendo, Sherazade disse: “não consegui terminar a narrativa, posso recomeçar amanhã?”.  “Sim, mas de amanhã você não passa!” , ameaçou  o sultão .

No dia seguinte, Sherazade  prosseguia com a história e logo a emendava com outra. O sultão não conseguia ficar imune a esse poder que ele desconhecia: o poder da  palavra  que cria mundos (o sultão imaginava, ao contrário, que poderosa é a palavra que ameaça de morte) . 

Sherazade  tecia suas histórias mais do que com palavras: ela as tecia com o fio da vida, e a este estendia  como linha de fuga, “Fio de Ariadne”. A narrativa durou uma, duas, dez, cem... mil e uma noites: “inventar aumenta o mundo”, já dizia Manoel de Barros.

  Sherazade simboliza a vida que se expressa    múltipla nas escolas, museus, teatros, cinemas e livros,  apesar dos sultões de hoje que ameaçam      calá-la . Como ensina Manoel de Barros, “poesia é afloramento de falas.”

 

( imagem: “Sherazade”, obra-instalação de Sami Hilal  . Os livros se agenciam num mesmo fluxo de vida  que segue em frente , como um  rio inaprisionável )

 



 



quinta-feira, 25 de novembro de 2021

a origem das artes

 

                                                  ARTES, ARS E TECHNÉ[1]

 

 

                                                                                                                                            Só a arte salva.

                                                                                                                                                      (Deleuze)

 

                                                                                              Temos a arte para não morrer da verdade.

                                                                                                                                                   ( Nietzsche)

 

A razão vê

a memória revê

e a imaginação transvê.

É preciso transver o mundo.

   (Manoel de Barros)

 

 

No mundo grego, não existia exatamente a noção de “arte” tal como a entendemos hoje. A começar pela origem da palavra “arte”, que vem do latim “ars”, significando aquilo que é criado pelo homem, em contraposição às coisas que são produzidas pela natureza (physis).

Na Grécia, o que nós chamamos de “arte” ( pintura, música,etc.) era designado com  a palavra “techné”[2]. Mas essa palavra também designava atividades que nós hoje não consideramos arte. Inclusive, a palavra “técnica” também se origina de techné. Quando pensamos em técnica hoje, não imaginamos que ela tem origem no mesmo termo que também designava, entre os gregos, a arte.

Portanto, havia vários sentidos para a palavra techné. Uma das abordagens iniciais mais famosas sobre o assunto foi realizada por Platão. Deixando de lado as complexidades do assunto ( cuja abordagem mais detalhada requereria um texto-aula muito longo), podemos resumir que Platão considerava principalmente dois tipos básicos de techné ou arte: as artes por produção ( ou artes poéticas) e as artes por aquisição.

As artes poéticas são todas aquelas cujo produto ou obra depende das habilidades do produtor. Por exemplo, a arte de fabricar sapatos. O bom sapateiro conhece bem a arte de fabricar sapatos. É claro que o bom sapateiro conhece bem o conceito de sapato, tal como aquele que apenas teoriza sobre essa arte. Mas o bom sapateiro não apenas possui o conceito, ele não apenas teoriza sobre os sapatos, pois ele , sobretudo, sabe FAZER um sapato, e ele faz um sapato singular, não um sapato enquanto conceito universal pensável pela mente. Enfim, o bom sapateiro transforma o conceito ou ideia de sapato em algo real e concreto. Ele sabe as habilidades para dar realidade às ideias. E este é o sentido original de poiésis ( ou poesia): produção.

A diferença entre o sapateiro e o autor de uma peça de teatro não está no aspecto da produção, e sim no produto, pois um sapato e uma peça de teatro diferem dos usos para os quais foram feitos. Porém, tanto um sapato quanto uma peça teatral eram vistos como produtos de uma habilidade de saber-fazer, habilidade essa que o produtor tirava de si mesmo ( ou sob influência das Musas).

Somente na Modernidade é que surge a preocupação com o Sentir ( aisthesis) a obra de arte, nascendo assim a Estética. Enquanto a Poética é a marca do mundo grego, a Estética  só pôde surgir na Modernidade, quando então a arte era vista nela mesma, e não para fins técnicos ou utilitários. Surge assim  a Ideia de Belas Artes.

Mas estávamos falando de dois sentidos originais da palavra “techné” tomando por referência Platão. Além da arte por produção ( arte poética), Platão nos fala da arte por aquisição. Aqui, como a própria palavra indica, o produto da arte não é produzido, e sim adquirido.

Para exemplificar a  arte poética ( arte de produção) demos o exemplo do sapateiro que produz sapatos. Continuando nessa mesma área, podemos dizer que o comerciante de sapatos representa a arte por aquisição. Pois o comerciante de sapatos não produziu os sapatos que vende, eles os adquiriu do sapateiro. Ele os adquiriu empregando um meio : o dinheiro. Então, fica claro que , ao contrário da arte poética, aquele que exerce a arte por aquisição não conhece muito bem o conceito ou ideia daquilo que ele adquiri , pois o que define a arte por aquisição não é a produção ou saber-fazer , e sim o possuir os meios para adquirir algo que um outro produziu.

Platão amplia ainda mais seu raciocínio explicativo. Ele diz que não apenas o dinheiro pode ser um meio para se adquirir aquilo que não se fabricou, também as palavras podem ser um meio de aquisição de algo que não se conhece bem e nem se produziu. E aqui reside um perigo, diz ele. Platão  passa da questão dos sapatos para uma questão mais profunda: as palavras. A gente sabe para que servem os sapatos, mas para que servem as palavras?

As palavras têm vários usos: expressar emoções, informar sobre fatos, construir narrativas, ser o instrumento para o conhecimento  do mundo. De todos esses empregos, o mais importante é o conhecimento do mundo, pensava Platão.

Mas a palavra é apenas um instrumento para tal conhecimento, ela não é a protagonista, pois a protagonista é a razão ( titular da episteme ou ciência). E aqui estaria a diferença entre a techné , a ciência e a filosofia: ciência e filosofia não produzem o objeto que conhecem , pois esses objetos existem no mundo, fora da mente ( e são reais) . Para dar a conhecer esses objetos, o cientista e o filósofo empregam as palavras, mas apenas como um meio para servir aos conceitos. O cientista e o filósofo empregam a razão para conhecer o mundo, e só depois se valem das palavras .

Contudo, diz Platão, há aqueles que empregam as palavras como meios de aquisição do conhecimento, sem de fato conhecerem o que estão adquirindo com as palavras. Ao invés de emitirem  conhecimento, eles propagam mera opinião ( doxa).  Eles são como os comerciantes , só que agora são comerciantes do saber. Pois creem que saber usar as palavras é  o mais importante, e assim se passam por sábios, embora não tenham o conceito daquilo que falam.

Esses “sábios” em aparência são aqueles que sabem apenas usar as palavras, porém nada sabem daquilo que as palavras deveriam nos ajudar a conhecer. Com eles, a palavra não é apenas meio ou instrumento , ela se torna um fim em si mesmo, um fim para obter poder. Esses comerciantes de conhecimento, segundo Platão, são os sofistas. Eles produzem apenas retórica, não produzem conhecimento.

Mas e o escritor-poeta, ele também é tão perigoso quanto os sofistas? Para Platão , e isso mostra seu extremo racionalismo, o escritor-poeta também faz um uso desviante da palavra. Pois o escritor-poeta não conhece de fato aquilo sobre o qual fala, ele inventa. E entre a invenção e a verdade, Platão opta esta última, dando a entender que apenas a ciência e a filosofia, por não serem techné mas episteme, podem colocar o homem no caminho da verdade, ao menos na verdade em que Platão crê ( Nietzsche, por exemplo, criticará profundamente essa noção de verdade platônica excludente da criação e poesia).

Aristóteles difere em Platão acerca desse e outros assuntos, embora também mantenha a arte em lugar subordinado em relação à ciência e à filosofia. Porém, ele reconhece um valor social da arte, incluindo o teatro e a poesia.[3]Com ele, a noção de arte começa a se aproximar do sentido que hoje compreendemos .



“Aristóteles contemplando o busto de Homero”(1653), de Rembrandt. Aqui se pode observar a postura de admiração do filósofo ao poeta. Aristóteles pousa com cuidado a mão direita , a mão com a qual ele escreve sua filosofia, sobre a cabeça do poeta, como se buscasse nela a inspiração. Homero, que era cego, faz o filósofo olhar longe...muito além de meras teorias e conceitos abstratos. Há uma luz transversal e intensa, como a luz do sol, que parece se desprender dos livros ( no alto à esquerda) , passar pela  cabeça do poeta, envolvendo-a, e se irradiar sobre o filósofo absorto. “Contemplar” vem de  “com-templo”:  “entrar onde mora o divino”. Divino não no sentido religioso, mas enquanto espaço transfigurador das Musas.  

 

 






[1] Texto-aula elaborado pelo professor Elton Luiz. Como complemento dessa aula, sugerimos a leitura do texto-aula sobre o GOSTO.

[2] Uma boa entrada no tema é o texto intitulado “Elogio da literatura: defesa da poesia”, Prefácio escrito por Enid Dobranszky  ao livro Defesas da poesia, de Philip Sidney e Percy Shelley, São Paulo, Iluminuras , 2002.

[3] Tratei desse assunto no texto-aula sobre Aristóteles e as artes.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

manoel & espinosa

 

1- Desde menino, o filósofo Espinosa demonstrava uma capacidade impressionante para  “ler” as pessoas.  Ele possuía o que hoje se chama “inteligência afetiva ou emocional”, característica presente  nas pessoas  dotadas de grande saber intuitivo acerca da natureza humana, tanto as suas luzes como as  sombras.

Sabedor disso, o pai de Espinosa, que era  comerciante e se chamava Miguel, sempre pedia conselhos ao seu filho acerca da índole de determinado devedor. Embora contasse   apenas 11 anos de idade, com olhos penetrantes o menino Espinosa conseguia distinguir quem estava em reais dificuldades (cuja dívida não era cobrada) ,  de quem fingia aperto apenas para bancar o esperto e “se dar bem” às custas dos outros.

Certa vez, “Seo” Miguel  nutria  esse tipo de dúvida acerca de uma senhora que lhe devia  determinado valor. Ele pediu ao menino Espinosa para ir à casa de tal senhora. O menino foi.

Quando o menino Espinosa  bateu à porta da residência da senhora  , esta semi-abriu a porta , mal conseguindo disfarçar certo nervosismo ( pois ela  já adivinhava  o motivo da visita).  Antes de fechar de novo a porta, ela disse ao menino: “Espera um instante ,  estou lendo a Bíblia, primeiro nossos compromissos com Deus”.

Ela leu bem alto a Bíblia , de fora dava para ouvir. Depois, reabriu a porta já com certa soma de dinheiro na mão. Ao mesmo tempo em que colocava rapidamente a soma na mão do menino, disse-lhe: “Os homens de bem sempre leem a Bíblia e falam de Deus, nunca  se esqueça  disso menino. Agora vá”, e fechou abruptamente  a porta.

Após alguns segundos, ela ouviu novamente batidas à porta. Quando abriu, viu de novo o menino Espinosa, que com calma, mas firmeza, lhe falou: “Minha senhora, o valor que a senhora me deu está faltando.” Após isso, estendeu a mão aguardando que nela fosse depositada não exatamente o  dinheiro faltante, mas sim a verdade.

 

2- Manoel de Barros se formou em Direito. No entanto, seu primeiro cliente foi também o último. Tratava-se de um peixeiro  acusado de desonestidade no uso da balança : na hora de pesar a mercadoria, sorrateiramente ele apoiava o dedo para aumentar o peso de forma fraudulenta.

Uma senhora prejudicada pela desonestidade do mau peixeiro   resolveu  abrir um processo contra ele. Era a palavra do peixeiro   contra a da senhora que o acusava, pois não havia outra testemunha, embora a fama do denunciado  não fosse boa.

Na primeira vez em que esteve com o peixeiro, Manoel pediu para conversar a sós com  ele, e indagou: “É verdade o que ela diz? Você burlou o peso?” E o dissimulado respondeu: “É verdade. Mas fique tranquilo: pagarei  bem a você.” Manoel pediu  licença   ao farsante e foi conversar com o dono do escritório de advocacia, dizendo: "Desisto do caso, não vou defender a mentira desse homem.  A invenção de que gosto é de outro tipo: é a  poesia”.




 

domingo, 21 de novembro de 2021

os fascistas tentam calar o poeta...

 

Não só o elogio que recebemos indica que estamos indo na direção certa em nosso trabalho , pois muitas vezes  a censura recebida  também deve nos encher de satisfação, quando ela vem dos tolos e néscios.

Como ensina Nietzsche, mais importante do que aquilo que  se diz é quem diz. Há certo tipos de pessoas que  a tosca crítica delas a nós deve ser recebida  como um elogio e nos dar ainda mais força para avançar .

Fiz essas considerações acima devido ao seguinte fato: soubemos agora que a poesia de Manoel de Barros foi censurada e proibida de constar no exame do Enem de 2019, já sob o  poder dos fascistas. E o mais grave: foi uma censura motivada por questões teológico-políticas.

Como todo tirano que teme a liberdade de pensamento, dizem que foi o  próprio genocida quem deu o parecer final sobre o que deve ou não constar na prova. Vocês conseguem imaginar o fascista tentando ler  Manoel de Barros!? Deve ter sido algo semelhante ao vampiro diante do alho, ou como o asqueroso ácaro sendo  fulminado pela luz do sol...

Essa censura engrandeceu ainda mais o valor pedagógico ,  político  e libertário do poeta. Sei que soa  paradoxal dizer isso, mas essa restrição dos fascistas a Manoel deve nos encher de alegria: estamos no caminho certo.

Ainda mais porque essa censura é nada frente à obra do poeta, e só revela a pequeneza,  tacanhez e estreiteza daqueles que o censuraram. Eles são como aquelas obscuras pedras citadas pelo próprio Manoel, que assim nos dá o exemplo: “Sou água que corre entre pedras: liberdade caça jeito.”

Viva Manoel!!🦋📚✊


( Na foto,  Manoel de Barros lendo a seguinte obra: “Fragmentos”, do poeta-filósofo Heráclito)



https://www.campograndenews.com.br/lado-b/comportamento-23-08-2011-08/manoel-de-barros-foi-vetado-do-enem-por-contrariar-a-biblia





sábado, 20 de novembro de 2021

o canto crítico , criativo e libertário da arte

 

Costuma-se dizer que poeta é quem conhece e ama as “Musas”. Mas o sentido da palavra “Musa” foi  enfraquecido pela interpretação romântica , que fala do tema das  Musas de forma  “Idealizada” .

Pois, no seu sentido original ,  “Musa” significa : “Conhecimento que vem das artes”. As artes também ensinam.

E esta é a riqueza de tal ensino: para aprendê-lo, é preciso que o corpo também participe do aprendizado , e não apenas a mente ou a razão.

As artes ensinam a ver ( pintura, cinema), ouvir ( música), tocar ( escultura),  fazer ( bordadura, artesanias) , além de  libertar o corpo de todo peso ( como ensina a dança).

As Musas eram nove, pois as artes são plurais e heterogêneas, como deve ser todo aprendizado que emancipa corpo e mente agenciados.

O primeiro a ver as Musas foi Orfeu, o poeta originário. Ele as viu e nunca mais foi o mesmo, tornando-se “aedo”.

“Aedo” é como se diz “poeta” em grego. “Aedo” significa: “aquele que canta”.  Cantando, Orfeu também  foi  filósofo, educador, revolucionário, enfim, o primeiro dos libertários.

Tal como  no mundo de hoje, havia naquela época as obscuras forças antiMusas, antipoesia, anticonhecimento. Elas eram representadas pelas Fúrias, deusas do ódio e da vingança. Foram elas que, certa vez, torturaram e violentaram o poeta Orfeu, por fim decepando macabramente a cabeça do poeta, achando que assim o calariam para todo o sempre.

Imaginando  que a barbárie delas venceu, as Fúrias deram as costas e se foram. Porém, mal deram alguns passos,  elas ouviram  o poeta cantando ainda , e cantando  com mais força. 

Elas se viraram e viram que o poeta resistia cantando apenas com sua cabeça, pois era na sua cabeça pensante que viviam as ideias emancipadoras  que o faziam cantar e ensinar a lição   que ele aprendera com as Musas: a lição da luta pela vida,  pela dignidade , enfim, pela liberdade.

Em toda música, peça de teatro, exposição, filme,  poema, enfim, em todo ato crítico e criativo que , cantando a vida,  resiste  à barbárie, em todo ato assim se pode ouvir ainda, mais atual e vivo do que nunca ,  o canto libertário de Orfeu.

De “Musa” vem “música” e “museu”, pois música e museu também ensinam essas resistências.

“Comemorar” é “co-memorar”: “criar memória junto”. Neste dia em que se co-memora as lutas de Zumbi, Dandara , Tereza de Benguela, Luísa Mahin, Tia Ciata, Clementina , Carolina de Jesus  e tantas outras e outros , faço uma pequena homenagem ao Museu da Maré, espaço de aprendizados, lutas e resistências , no qual se encontra expressa , como lição a não ser esquecida,  a luta de Marielle.


“Descanse tranquilo onde cantam,

 os maus não cantam.” (Schiller)






quinta-feira, 18 de novembro de 2021

afetos e virtudes em Espinosa

 

Segundo Espinosa, nós só conseguimos vencer alguma coisa que , de fora, tenta nos diminuir e apequenar se dentro de nós já houver algo que nos engrandece.

Para Espinosa , o amparo interno para nos  fortalecer tem um nome: virtude.

A virtude é a força criativa e  ativa que nasce do desejo: a virtude é o afeto em ação. A virtude não é apenas o afeto que se sente, ela é o afeto que ganha braços e pernas para pôr-se em ação.

A virtude não é uma força que surge e logo depois desiste e desaparece. Pois quanto mais potente é a virtude, mais ela é perseverante.

Perseverar não é esperar que venha até nós o que desejamos, perseverar é o exercício de caminhar sobre as pernas do desejo que se faz ação e segue em frente. “O andarilho abastece de pernas as distâncias”, ensina Manoel de Barros , nisso poetizando as lições de Espinosa.

Espinosa se difere muito da maneira tradicional de se falar do tema das virtudes. Essa palavra vem de “virtu”, que significa “força”, porém não qualquer força.

Virtu é a força potencial, é a força da potência criativa. Por exemplo, quando se quer lançar uma flecha, é preciso tensionar a corda do arco. Quando se deseja produzir música com o violão, é necessário tensionar as cordas do violão. E mesmo nosso coração só consegue impulsionar o sangue que o atravessa porque suas fibras são tensas.

Originalmente, “virtu” era o nome que se dava a essa força intensa que nasce de uma fibra. Daí vem a expressão popular: “nada somos ou fazemos, se não tivermos fibra.”

 “In-tenso”: “ir para dentro da tensão”. Assim, ser intenso não é ser nervoso ou agitado. O monge meditando vive uma intensidade, embora não esteja se agitando. Há silêncios intensos. Dessa maneira , a virtude é uma intensidade capaz de  lançar ao horizonte aberto nossas ações e palavras como flechas.

As virtudes são intensidades que aumentam a potência de pensar da mente e a potência de agir do corpo, pois a virtude é o desejo intensificado de vida. A virtude, enfim, é a potência prática e ética que enfrenta as tiranias.

Amor, amizade, alegria, indignação, coragem...são afetos. Mas esses afetos só se transformam em ação concreta sobre o mundo se , entrando no coração do nosso desejo, converterem-se também em virtudes, isto é,  em força que age.




domingo, 14 de novembro de 2021

deleuze & manoel: agenciamentos

 

O filósofo Deleuze ensina que só conseguimos mudar alguma coisa fazendo agenciamentos, pois ninguém muda nada, inclusive a si mesmo, sozinho . No coração da palavra agenciamento se encontra o termo “agente”. Mas o que é um agente?

Um agente pode ser qualquer coisa que favoreça um agenciamento. Por exemplo, uma música pode ser o agente de um agenciamento. Também podem ser o agente de um agenciamento um livro, um filme, um quadro... Mesmo algo considerado inútil pelo poder dominante pode servir a agenciamentos cuja “utilidade” não se mede em dinheiro.

Nem sempre um agente para um agenciamento se mostra evidente. De certo modo, é preciso saber achar um agente para nossos agenciamentos, ou até mesmo criá-lo . Sobretudo, é preciso aprendermos nós mesmos a sermos um agente para agenciamentos que potencializem os outros quando eles se encontram conosco. Quando nos agenciamos para mudarmos uma situação social, por exemplo, nos tornamos agentes uns dos outros.

Há um poema de Manoel de Barros que narra a potência que pode ter um agenciamento: o agente do poema é um pote que o poeta encontra no meio do mato jogado fora de "barriga vazia para cima". Não faz muito tempo esse pote deve ter sido o centro das atenções: todos ficavam felizes e o queriam perto. Ele assim era tratado por guardar algo que despertava interesse: ele era um pote cheio de sorvete...

Tamanha deve ser a dor que o pote sente agora, abandonado . Rejeitado pelos homens após estes o sugarem, apenas a natureza quis o pote. A natureza nunca despreza: ela recebe e regenera, preenche vazios - disso também já sabia Espinosa.

“Inútil”, o pote já não servia para nada, a não ser para metamorfoses, pois é isto que a natureza produz em tudo aquilo que, ao receber os cuidados dela , sofre um contágio, uma comunhão: "depois desse desmanche em natureza, as latas podem até namorar com as borboletas", pressagiou o poeta.

Tempos depois, o poeta teve que passar pelo mesmo lugar ermo. Lembrou do pote e se preparou para rever aquela imagem triste do sofrimento.

Porém, nesse intervalo de tempo , sem que o poeta soubesse, um passarinho passou voando “atoamente” sobre o pote e cuspiu uma semente em seu ventre vazio. Ali já havia areia e cisco que a natureza depositou: “as chuvas e os ventos deram à gravidez do pote forças de parir". E onde antes crescia o vazio, um poema vivo o pote partejou: do ventre do pote um pé de rosas desabrochou... "Se a gente não der o amor ele apodrece dentro de nós”, agradeceu o poeta ao pote por essa lição que recebeu sob a forma de rosas.

Em seu agenciamento com o pote, o poeta metamorfoseou as curativas rosas que recebeu em poesia generosa, para que seja  mais do que palavras o que o poeta   nos oferta para   perseverantes agenciamentos que potencializem  a vida.




sábado, 13 de novembro de 2021

gil & paulinho

 

Eu tinha cerca de 12 anos e fazia o antigo ginásio. Era uma época difícil, sufocante...A  ditadura militar censurava, perseguia ,  prendia e torturava quem pensasse diferente do poder autoritário dominante.

Quando cresci e estudei história , aprendi que esses perseguidos pelo terror eram pessoas que sentiam que o mundo precisava ser mudado , e agiam para isso. Mas ainda criança, eu também sentia que o mundo dos homens estava errado , mas não encontrava nos livros lições que dissessem isso, pois pensar estava proibido.  

Àquela época, a escola não era um espaço de descobertas : a ditadura controlava tudo, e usava as cartilhas e   tabuadas como meios de adestramento.

Poesia e literatura? Só eram aceitos os parnasianos, como aquele poeta elitista autor do Hino Nacional que a gente não entendia  nada da letra , porém nos obrigavam  a cantar em posição  militar, rigidamente, batendo continência para a bandeira, como se ela fosse um general sisudo sobre o Monte Parnaso.

Até que chegou à escola uma professora nova de língua e literatura. Tudo nela era diferente: a roupa,  o jeito , o olhar , enfim, a pessoa. Foi a primeira vez que entendi de verdade o que era uma educadora e tudo o que a arte pode em termos de (auto)descoberta .

Em vez de adotar livros parnasianos para a gente ler decorando datas e palavras que a gente não entendia, palavras mortas que nada nos diziam a não ser: “obedeçam!”, ela adotou um livro diferente cujas palavras  a serem interpretadas eram letras de música  dos Festivais da Canção acontecidos recentemente.

Assim , foi como poesia que li , pela primeira vez, Chico Buarque, Caetano , Paulinho da Viola e Gilberto Gil. Antes de conhecer a música deles , eu me empoemei , ainda criança, com a poesia  sob a forma de letra. Algo em mim se horizontou e veio para fora: era eu mesmo,  ainda de mim desconhecido.

Foi a primeira vez que  experimentei  o que é ler, pois ler é ler-se. Eu não entendia todas as palavras , mas sentia que eram palavras vivas que me ensinavam  um sentido que eu sabia ser o mesmo que os milicos não queriam que a gente aprendesse, um sentido libertário da plural e popular poesia.

A querida professora transformava  a sala de aula  numa lúdica academia , uma academia livre de adestradoras cartilhas, onde  a gente era alfabetizado  no  pensar lendo a poesia de  Chico, Caetano, Gilberto Gil e Paulinho da Viola.

Desde aquelas antigas resistências poéticas, que devem inspirar as necessárias resistências de agora,  Gilberto Gil já era membro  da Academia Brasileira  de Letras Pensantes para cantar !

E viva também o grande acadêmico-pensador  do samba Paulinho da Viola, o aniversariante de ontem!








quarta-feira, 10 de novembro de 2021

evento /Dostoiévski/UFF

 


pequeno vocabulário de Manoel de Barros

Mesmal: o mesmal é uma vida, pessoal ou coletiva, que se acostumou com aquilo que a impede de ser diferente. O mesmal é a antipoesia.


Velhez: a velhez não é a velhice, a velhez não é uma idade. A velhez é o mesmal com outro nome. A velhez pode acometer a uma pessoa ou a parte da sociedade, que então se torna mesmal-conservadora-reacionária.

Ignorãça : Espinosa dizia que “ninguém sabe tudo o que pode um corpo”. Esse não saber não é a ignorância negacionista , e sim uma forma de pensar criativo que Manoel pôs em prática escrevendo com o corpo. A ignorãça é potência corpórea que cria saber novo.

Empoemar: o empoemar-se não é apenas ler versos. Empoemar-se é viver intensamente uma ideia libertária, até que ela esteja em cada ação nossa, por mais simples que seja , não importa onde ou diante de quem.

Desabrir: o desabrir-se é mais do que o mero abrir-se ; desabrir-se é desfazer os limites do ego, até fazer comunhão com a natureza, a mesma de que fala Espinosa.

Agroval: o agroval é uma multiplicidade heterogênea onde se agenciam singularidades livres, como um Quilombo onde se resiste e luta pela liberdade.

Horizontamento: horizontar-se é conectar-se em todas as direções, em todos os sentidos, desfazendo fronteiras, cercas, nãos.

Criançamento: o criançamento não é voltar à infância de forma infantil; o criançamento é o antídoto à velhez . Criançar a linguagem é dizer com ela algo que nunca foi dito, ou dizer diferente o já muito dito, assim reinventando o sentido e subvertendo as cartilhas.

Agramaticalidade: a agramaticalidade não é errar nas regras da gramática; a agramaticalidade é produzir um dizer que , de tão potente , reinventa outras gramáticas. A gramática é poder, a agramaticalidade é potência.

Delírio ôntico: Manoel diz que “poesia é delírio ôntico”. A palavra “delírio” vem de “lira” , o instrumento musical do poeta Orfeu. “Lira” também é o nome dos sulcos feitos na terra para plantar as sementes. "De-lirar” é : “lançar a semente fora dos sulcos”. Mas há dois sentidos de delírio: o poético e o sombrio, o da saúde do espírito e o da mente doentia. O delírio mórbido lança a semente fora do sulco , e assim a nega e destrói; já o delírio ôntico lança a semente fora dos sulcos costumeiros, porém cria sulco novo para a semente ser plantada e dela germinar ideia nova. “Ôntico” vem de “on” : “ser”, em grego. Delírio ôntico é criar novos sentidos para o ser, ao passo que o delírio mórbido é mera fantasia doentia de poder.

Natência: a natência é a perseverança da vida em renascer ainda mais viva onde a querem derrotada e morta.



domingo, 7 de novembro de 2021

espinosa: poema do pensar

 

Segundo Espinosa, nós nunca somos um “copo vazio”. Também nunca estamos apenas pela metade. Nós estamos sempre cheios, embora nem sempre tenhamos consciência disso.

A questão importante está no conteúdo que vem preencher-nos. Há os que são preenchidos pelo ódio , ressentimento... até mesmo pela ignorância, pois a ignorância não é um vazio, ela é um conteúdo tóxico  do qual nascem ações e palavras destrutivas, apequenadoras.

Nesse ponto, Espinosa diverge de certas visões orientais da felicidade e do (auto)conhecimento, segundo as quais é preciso “esvaziar” o pensamento.

Para Espinosa, é impossível esvaziar o pensamento , pois é impossível anular  o corpo. Pensamento e corpo , segundo Espinosa, são aspectos diferentes de uma mesma realidade.

O corpo não é um entrave ao pensamento, pois não há pensamento potente e ativo sem um corpo que  , no campo da ação, coloque as ideias em prática.

“Prática” não é mera agitação motora, pois saber olhar, ouvir,  respirar,tocar e mesmo meditar, também são práticas corporais de um corpo expressivo, sensível, não narcísico.

Assim, para Espinosa, a questão não é nos esvaziar, pois isso é impossível. A liberdade, e com ela nossa saúde mental,  está em buscar , como a primeira das necessidades, a realidade-conteúdo  com o qual devemos nos preencher para sermos de vida fortalecidos.

E aqui é preciso fazer um ajuste nessa imagem do copo, pois o copo de que fala Espinosa não é o copo literal, e sim nossa mente. No copo literal, o recipiente recebe e amolda o líquido à sua forma, sem que ele, o copo-recipiente,  mude de tamanho.

Mas quando se trata dos conteúdos que preenchem a mente, acontece algo diferente. De fato, o copo-mente nunca está vazio, porém há certos conteúdos que diminuem a amplitude da mente, conforme a mente é preenchida por eles.

O ódio, a ignorância , o medo...preenchem a mente fazendo-a diminuir de tamanho e amplitude , de tal modo que nada mais consegue entrar nela: cada vez mais, ela pensa e compreende menos. E o mais estranho: mesmo a ignorância diminuindo a mente, mesmo assim alguns se sentem preenchidos, reativamente,  por esse conteúdo que os apequena.

Ao contrário, quando o copo-mente é preenchido por ideias e afetos potentes, ideias e afetos que são aberturas para o infinito, a mente se amplia de tal forma que supera até mesmo os limites estreitos do ego, tornando-se criativa, afirmativa, generosa - sem deixar de ser também crítica e ativa, individual e coletivamente.

Embora nunca possamos estar vazios,  podemos porém  transbordar: como a fonte que , saindo de si mesma, torna-se riacho, rio...  E  avança até ser um com o mar.

 

“Sou água que corre entre pedras:

liberdade caça jeito.”(Manoel de Barros)

 

“A cisterna contém;

a fonte transborda.” (W. Blake)

 

(este belo livro é apenas uma sugestão de leitura : “Espinosa: poema do pensamento.”)



 

sábado, 6 de novembro de 2021

evento Nise & Espinosa ( no MII - Museu de Imagens do Inconsciente)

 

Nise da Silveira  dizia que nossa saúde mental , ou a falta dela, depende  mais do que fazemos com nossas mãos do que daquilo que teorizamos com nossa mente .

Esse pensamento de Nise me lembra Espinosa . Depois de filosofar sobre o Infinito empregando a potência de sua mente, Espinosa sentia a necessidade de  empregar  suas mãos para polir cuidadosamente  lentes, como um simples artesão.   Vinha gente de longe para comprar as lentes, tal a qualidade delas. Mas Espinosa vendia somente o necessário para sua sobrevivência: suas mãos eram felizes em polir, não em contar dinheiro.

Creio que isso também explica a famosa frase de Espinosa: “Ninguém sabe tudo  o que pode um corpo.” Não apenas o corpo cuja uma das partes é a mão, pois o corpo de que fala Espinosa tem um sentido amplo e variado.

Por exemplo, o corpo do palavra. Ninguém sabe tudo o que pode o corpo da palavra antes de ela ser  empregada como  veículo de expressão educadora-libertária.

Ninguém sabe tudo o que pode o corpo social quando se agencia , democrática e coletivamente, para não se deixar dominar por tiranias.  

Ninguém sabe tudo o que pode um corpo, seja ele qual for, até alguém  ousar criar realidade nova empregando esse poder, essa potência.

Ninguém sabe tudo o que pode um fio, um simples fio aprisionado em um tecido, na forma acostumada de uma roupa, de um uniforme. É mais fácil descobrir tudo o que pode o corpo de um fio aquele que  não veste uniformes e tem a alma nua, às vezes ao preço da dor,  como Arthur Bispo do Rosário.

Desfazendo a forma das roupas e uniformes com os quais o poder excludente o vestia,  Bispo do Rosário  desconstruiu  essas fôrmas , fôrmas físicas e simbólicas, até (re) descobrir o fio livre que ali estava preso.

Com sua mão sendo o instrumento para libertar criativamente sua mente,  Bispo do Rosário reinventou  um Fio de Ariadne para bordar sua  linha de fuga:  e por esse fio , Fio do Afeto,  nossa mente também se liberta e sara. 

 

____

Em comemoração ao relançamento do livro de Nise sobre Espinosa, haverá este evento do qual participarei. Segue a programação ( as falas acontecerão sempre às 20h):


25 de outubro – Apresentação - Histórias dos caminhos de

 Nise a Spinoza / Luiz Carlos Mello e Euripedes C Junior


9 de novembro – Carta I  / 
Maddi Damião Junior


23 de novembro – Carta II / Elton Luiz Leite de Souza


7 de dezembro - Carta III / Walter Mello


Texto de apresentação do evento elaborado pelos organizadores :"O recente lançamento da 3a edição de Cartas a Spinoza e a emoção que sua leitura desperta, inspirou-nos a compartilhar com os frequentadores do Grupo de Estudos as preciosas reflexões de Nise sobre os ensinamentos do grande filósofo. A experiência transformadora provocada pelo encontro de Nise com Spinoza foi a base filosófica e afetiva onde ela alicerçou o trabalho revolucionário de toda a sua existência.”