sexta-feira, 29 de julho de 2022

a língua das borboletas

 

Segundo o filósofo Espinosa, a pior fase da vida é a infância. Não em razão de haver algo ruim em ser criança. A infância é uma fase difícil  porque é nela que mais dependemos da qualidade dos adultos e instituições que nos cercam: se o adulto for um tolhedor, correm sérios riscos de serem amputadas as asas com as quais toda criança nasce. E às vezes essas asas são cortadas antes mesmo de se abrirem...

O adulto pode fugir dos maus encontros, mas as crianças são mais vulneráveis a esses  maus encontros, de tal modo que o tolhedor pode passar  para dentro da criança,  fazendo  crescer nela  um adulto ressentido de tesoura na mão também.

Mas se os adultos e instituições que cercam a criança potencializam e encorajam seus voos e descobertas, ser criança se torna a experiência mais rica que pode existir, e dela nascerá de fato um adulto que não deixará morrer seus devires-criança, devires esses que são incapazes de viver os adultos infantilizados pelo Poder Autoritário, Pai e Padrasto dos ressentidos e vingativos.

O filme “A língua das mariposas” fala do encontro de um menino com a educação que lhe abre e potencializa as asas. Como o filme é espanhol, nessa língua “mariposa” é o que nós chamamos de “borboleta”. Dessa forma, o título correto é “A língua das borboletas”.

Às vezes a sensibilidade da criança está enrolada dentro dela  como a língua da borboleta enrolada em torno de si mesma. Assim como a  língua da borboleta se desenrola quando se vê diante do néctar, a sensibilidade da criança se desenrola e se torna exploratória do mundo quando é apresentada ao néctar das ideias.

Pois as ideias que abrem a criança para o mundo são  também ideias para serem sentidas, provadas, saboreadas. Não por acaso, “saber” e “sabor” são palavras primas com origem comum : aprender  é “tomar gosto” pelo conhecer.

O filme se passa durante a ascensão do fascismo na Espanha. E a ascensão do fascismo é igual em toda época e lugar : lá como aqui, coturnos do ódio ameaçando pisotear os jardins onde crescem as flores multicoloridas e seus néctares. Mas antes de pisotearam os jardins, os coturnos da ignorância ameaçam os jardineiros, que são os artistas, os pensadores, os educadores, os libertários.

 A primeira vez que passei esse filme foi num curso para formação de professores que ministrei tempos atrás. Era uma turma só com professores aprendendo a ensinar. Como diz Deleuze, “o aprender vem antes do ensinar”. Poucos filmes nos ensinam tanto acerca da potência libertadora da educação. E também poucos  filmes nos  mostram com tanta indignação e dor  o horror que se torna  a face fascista quando ela se encarna na face cotidiana do vizinho, do parente, enfim, de quem se diz “homem de bem”.






quarta-feira, 27 de julho de 2022

o lápis do poeta

  

Nesta semana se comemora o Dia do Escritor/Escritora. Homenageando Manoel de Barros, deixo aqui minha homenagem também a todas as escritoras, escritores, leitoras e leitores. Enfim, a todos aqueles e aquelas  que agem para que a força esteja nas ideias e nos livros, não em armas.

Manoel de Barros só escrevia à mão sua poesia, e sempre a lápis. Nunca lapiseira de plástico, sempre lápis de madeira.

Curiosamente, “digitar” é um ato que faz parte da atividade de “bater”, “golpear”. Quem digita, bate com os dedos nas teclas. Já escrever à mão expressa outro tipo de movimento: desenhar.

Quem escreve agencia sua mão com o corpo do lápis, e por intermédio deste é nosso corpo que também escreve, com seus nervos e fibras, incluindo as do coração. Quem escreve à mão desenha, parecendo às vezes que o lápis também dança na ponta de seu grafite, como a bailarina equilibrada na ponta dos pés.

Para que na palavra também se expresse a pluralidade sensória da vida, mais adequado é o lápis do que teclados . Pois palavra digitada é 1 e 0 combinados segundo a lógica digital  binária, mas o grafite que o lápis liberta veio da imanência da terra: primo do diamante, o grafite é feito de carbono, base da vida.

O cérebro não funciona da mesma maneira quando se digita e quando se escreve à mão, quando se bate e quando se desenha, quando se golpeia e quando se dança.

Há certa violência em bater-digitar. Talvez essa seja uma das razões que explique porque os fascistas gostam tanto de violentar também as teclas e, por intermédio destas, as ideias (encontrando no meio digital um ampliador de suas violências físicas e simbólicas).

 Além disso, sem que saibamos, há o risco de o capital cibernético reduzir a algoritmos tudo o que digitamos nas redes sociais  , para assim nos oferecer como mercadoria aos novos mercadores de gente, sempre ávidos por inescrupulosos lucros.

Na madeira do lápis do poeta ainda vive e resiste a árvore que um dia fez parte do Pantanal que os criminosos hoje incendeiam , para tudo reduzir a pasto de gado obediente .

Por intermédio do lápis do poeta continuam a falar as árvores, as florestas, os bichos, as plantas, os pássaros , as paisagens, os verdes e seus infinitos tons, o azul e seus horizontes... Enfim, fala tudo aquilo que os destruidores da vida querem calar e matar. Por meio da  palavra libertária que ele cria e ensina, no lápis do poeta o grafite se torna diamante.

Nada contra o digitar, porém escrever à mão, a lápis, é ato mais afim ao poema que , como gente, também nasce: “Na ponta do meu lápis há apenas nascimento”, escreve o poeta.







domingo, 24 de julho de 2022

Francisco e o muro...

 

Ouvi certa vez a seguinte história de autoria popular ( que aqui parafraseio e interpreto): de um lado estava São Francisco, do outro o Diabo. Separando a ambos ,  um muro; e em cima do muro estava  alguém que se dizia “Neutro”.

 Francisco  disse ao “Neutro”: “- Venha para este lado, aqui há luz e  empatia  pela vida do outro.” 

Do   lado oposto do muro , porém, o Diabo permanecia calado.

Vendo  o “Neutro” ainda indeciso e  parado, Francisco  prosseguia : “- Venha se juntar a nós , Buda também está aqui; também estão Lao-Tsé, Confúcio,  Orixás , Tupã, Mães-de-Santo,  pajés ... Bem como todos aqueles que, tendo ou não religião,  agiram para defender e libertar  os oprimidos e injustiçados.”

Estranhamente, o Diabo seguia mudo, ele que gosta tanto de se vangloriar...

Então, Francisco levantou a cabeça , olhou sobre o muro e indagou ao que reinava na treva  do outro lado : “- Por que você   permanece  calado?”

“- É que esse muro onde o ‘Neutro’ está  instalado  pertence a mim”, disse o Diabo.

Do certo lado do muro, o poeta Manoel de Barros assim poetizou: “São Francisco monumentou os passarinhos.”



(obs: A postagem se apoia mais no personagem social-popular Francisco, um personagem da literatura de  cordel , e não na figura religiosa. Não é tratado o tema do ponto de vista de uma religião. Inclusive , dei a entender que do lado do muro onde está o personagem Francisco também podem estar agnósticos e até ateus)


(imagem: montagem semelhante circula pela web. Mas como não consegui identificar a autoria, acabei produzindo uma versão. A foto de Lula é de autoria do fotógrafo Ricardo Stuckert)



 

sábado, 23 de julho de 2022

os cactos

 

Muito se fala, com razão, das flores. Rosas, girassóis, crisântemos, margaridas...Essas e outras flores já foram homenageadas em poemas , músicas e pinturas.

Mas pouco se fala das flores que o cacto também sabe produzir. Considero essa omissão  uma injustiça com esse artista da resistência. Na dele, sem chamar a atenção ou fazer propaganda de si, o cacto é capaz de atos que trazem a beleza da generosidade.

Assim age esse perseverante resistente: o cacto é a planta que possui a maior raiz. Em alguns cactos,  a extensão de sua raiz chega a nove ou dez vezes o tamanho do corpo do cacto que vemos à superfície do chão!

Quem mede o cacto apenas pela sua parte visível, e pensa que a parte que vê é todo o ser do cacto, por certo ignora o que o cacto é capaz de fazer. O cacto cria imensas raízes para sondar o subsolo , não se deixando vencer pela aridez que o cerca. As raízes do cacto tateiam procurando veios d’água metros abaixo da paisagem seca. Ele persevera procurando no coração da Mãe Terra a água que o Céu lhe nega.

Quando encontra a água, o cacto anuncia sua descoberta brotando flores: em pleno árido , ele inaugura uma primavera. Então, ele sorve o líquido e se intumesce , de água fresca ficando grávido. Basta um pequeno furo para a água jorrar matando a sede dos necessitados.

Foram os cactos do sertão nordestino que, no passado, não deixaram morrer de sede a rebeldia de Lampião e seu cangaço ; e a flor que Maria Bonita punha no cabelo também floresceu de um cacto : o mandacaru, símbolo da força do povo nordestino.

O cacto mandacaru expressa a resistência da vida, uma resistência que também se faz com poesia e beleza, apesar da aridez que a cerca. O mandacaru matou a sede de Lampião e deixou a Maria ainda mais Bonita.

 

“Quando não pode ser cristal, a poesia vale pelo que tem de cacto.”

(João Cabral de Melo Neto)

 

( em homenagem ao grande poeta João Cabral, ofendido recentemente por esses ignorantes obscurantistas que querem transformar tudo em deserto  . Enfeitando a capa do livro de João , os cactos resistentes do Nordeste)

 


 

Flores do cacto mandacaru:










quinta-feira, 21 de julho de 2022

os galos...

 

1-Quem já viveu ou passou uma noite no interior, e tem o sono leve, já viveu isto: no meio da madrugada mais profunda, onde o escuro parece que é eterno e dominará a todos e a tudo, de repente ao longe um galo canta quebrando o silêncio .  

Como um pequeno fio de luz sonoro, esse canto entra no nosso sono,  sem nos despertar totalmente, apenas em parte.

Antes que o sono volte a nos anestesiar, um canto toca de novo  nossos ouvidos. Já um pouco mais despertos, a gente acha que é de novo o mesmo galo solitário cantando em desespero por estar acordado enquanto todos dormem. Mas na verdade é um outro galo que  veio  ajudar o primeiro galo a tecer, cantando, o que parece impossível: uma nova manhã.

Até que se  ouve um terceiro galo também cantando, e logo  um quarto se soma . Depois um quinto galo toma coragem e canta forte. Um galo  canta perto, outro muito longe lá no horizonte...

Já não é possível mais contar quantos galos agora cantam: são vários e, embora diferentes no canto e na voz, todos cantam a mesma mensagem : a nova  manhã que , antes  mesmo de o sol nascer, já é anunciada no perseverante  coro cantante que também é sol , desperta e aquece.

Então, no meio da noite  acontece o “milagre poético”:  agora dentro de nós  já despertos também ouvimos um galo a  cantar para ousar, apesar da treva, tecer com outros galos uma nova manhã que virá.

2-Escrevi esse texto hoje numa área de muito verde, após ser despertado pelos galos  na alta madrugada, quando  o galo que há em mim também despertou e  ,de forma simples e modesta , viu a manhã antes de ela nascer.

A esse coro dos  galos que ouvi  hoje somam-se outros galos que aprendi a escutar ao longo da vida. Esses outros  galos   tecem as  manhãs existenciais que nos despertam para a necessidade ética, pedagógica e política de tecer um porvir.

São também galos tecedores e fazedores de auroras, alvoradas e  amanheceres:  Espinosa, Lucrécio, Nietzsche, Clarice, Carolina de Jesus, Lima Barreto, Cláudio Ulpiano, Cartola, Manoel de Barros, João Cabral ...

E também se esforçam para ser galos , cada qual com sua maneira, voz e jeito, aqueles que ensinando, aprendendo, cuidando, trabalhando, enfim, agindo, apesar da noite tremenda, ousam  tecer juntos  um porvir.

Às  primas Cristina Martins, Fabiane Martins e Laura Martins, em agradecimento .



 

O acontecido me lembrou este poema de João Cabral:

 

“Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito de um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.”






quarta-feira, 20 de julho de 2022

o ovo da serpente, ontem e hoje

 

O filme “O ovo da serpente”, de Bergman, mostra a ascensão do nazismo na sociedade alemã. O nome do filme compara o surgimento do nazifascismo com o que fazem certas serpentes traiçoeiras e venenosas : a serpente escolhe um momento de distração da ave dona do ninho e coloca seu ovo entre os ovos já postos pela ave.

Metaforicamente, não é qualquer ninho que tem a possibilidade de chocar o ovo da barbárie. A serpente autoritária escolhe pôr seu “ovo” em ninhos onde já são chocados o “ovo da intolerância”, o “ovo de uma crise econômica”, o “ovo do preconceito contra minorias”, o “ovo da busca por um ‘Messias-Mito’ que, em nome dos ‘homens de bem’, persiga e demonize os ‘Diferentes’".

É em ninhos onde já existem tais ovos que a serpente nazifascista aproveita para pôr dissimuladamente o seu ovo, que é então chocado por parte da sociedade incauta, ingenuamente crédula.

Quando a serpente nasce, a primeira coisa que faz é começar a devorar quem a fez surgir , inoculando seu veneno na sociedade onde encontrou condições para ser chocada. Depois, ela devora os outros ovos que foram gestados junto dela, pois tudo o que nos enfraquece a faz crescer. 

 A serpente protofascista que saiu do ovo em 2018 nos ameaça não só com seu veneno, ela também age usando constrição para nos provocar sufocamento . A ignorância, a idiotia , o preconceito...são alguns de seus venenos ( além do agrotóxico que envenena literalmente nosso alimento, enriquecendo ruralistas e bancos com suas “commodities”).

A serpente ainda tenta nos sufocar infiltrando milicos no Estado, aparelhando o Ministério Público e o Judiciário, cooptando a polícia e a PM, fortalecendo o poder das milícias, militarizando as escolas, acumpliciando teológico-politicamente a Bíblia ao revólver (como os pastores bolsonaristas mancomunados com traficantes para reprimirem as religiosidades afro-brasileiras nas favelas);a serpente também nos sufoca cultuando o obscurantismo negador da ciência, reduzindo o valor da vida a nada, para fazer da destruição e da morte a sua política de governo.

A serpente-fascista assim procede para nos roubar o ar aos poucos, querendo paralisar em nós a capacidade de ação.

E assim se chegou a este quadro: de um lado, os ignorantes envenenados e os cúmplices bem pagos desse envenenamento; e do outro lado estamos nós, que somos vários, porém ainda dispersos.

Precisamos encontrar um antídoto que nos proteja a tempo. Para o vírus, a vacina  já está nos protegendo , porém contra a serpente-verme só mesmo nos unindo para sermos maiores  do que a goela covarde dessa serpente oca.

(Amigas e amigos, fiz esta postagem em 2018, logo após a vitória da serpente-fascista. O texto de agora possui alguns acréscimos. Mais recentemente, alguns artigos e livros também foram escritos comparando o que vivemos hoje com este filme perigosamente atual)




sábado, 16 de julho de 2022

manoel antifa

 

Há certo tipo de seres  cuja tosca crítica deles a nós deve ser recebida como um elogio e nos dar ainda mais força para avançar .

Fiz essas considerações acima devido ao seguinte fato: a poesia de Manoel de Barros foi censurada e proibida de constar no exame do Enem , por ordem  dos fascistas. E o mais grave: foi uma censura motivada por questões teológico-políticas.

Como todo tirano que teme a liberdade de pensamento, dizem que foi o próprio genocida quem deu o parecer final sobre o que deve ou não constar na prova. Vocês conseguem imaginar o fascista tentando ler Manoel de Barros!? Deve ter sido algo semelhante ao vampiro diante do alho, ou como o asqueroso ácaro sendo fulminado pela luz do sol...

Essa censura engrandeceu ainda mais o valor pedagógico , político e libertário do poeta. Sei que soa paradoxal dizer isso, mas essa restrição dos fascistas a Manoel deve nos encher de alegria: estamos no caminho certo.

Ainda mais porque essa censura em nada diminui a grandeza da  obra do poeta, e só revela a pequeneza, tacanhez e estreiteza daqueles que o censuraram. Eles são como aquelas obscuras pedras citadas pelo próprio Manoel, que assim nos dá o exemplo: “Sou água que corre entre pedras: liberdade caça jeito.”

Viva Manoel!!🦋📚✊

 

( Na foto, Manoel de Barros lendo a seguinte obra: “Fragmentos”, do poeta-filósofo Heráclito)













sexta-feira, 15 de julho de 2022

Espinosa & Manoel: afetos revolucionários

 

Alguns poetas latinos ensinam uma etimologia muito original e rica da palavra “amor”. Essa palavra nasce da união da letra “a” com função privativa ( como em “a-fasia” = “sem fala”) mais a abreviação da palavra “morte” = “mor”. Assim, nesse sentido poético-pensante , “amor” é “não morte”.

“Morte” não apenas no sentido biológico, pois “ódio”, “ignorância”, “necropolítica”... são formas  doentias de  morte também.

Quando nutrimos de fato amor a algo ou alguém , cuidamos, agimos e lutamos pela não morte do que amamos. Amar a democracia , por exemplo, é agir pela não morte da democracia; amar a educação é agir pela não morte da educação.

O amor assim compreendido não é algo apenas  individual ou subjetivo, mas uma força que une as coletividades e as desperta para  a prática política  enquanto ação coletiva para não deixar   morrer a dignidade em nossas vidas.

 Platão é o pai da visão romântica e idealizada que vê o amor como a busca de algo que nos falta. Para os poetas latinos, ao contrário, o amor não é falta, ele é potência já presente em nós agindo  para nos proteger daqueles que negam a vida, a despotencializam ou a querem morta.

Seguindo a lição dos poetas latinos, Espinosa também concebe o amor como potência, e não como falta. Ao contrário do que pensam Platão e os românticos, Espinosa ensina que o amor não é apenas encontro de almas, ele também é a potência  que une alma e corpo, mente e sensibilidade, teoria e prática.

O amor não concerne apenas à alma e corpo individuais, pois também há a alma e o corpo coletivos. Numa democracia, a alma coletiva se potencializa educando-se   nas ideias que despertam nela a compreensão de que ela é, ao mesmo tempo, una e múltipla, singular e plural.

À alma coletiva rica corresponde um corpo social heterogêneo . A educação autêntica é prática para potencializar a alma coletiva como expressão de um corpo social plural-democrático.

Os tiranos, ao contrário, estão sempre querendo entristecer a alma coletiva inoculando nela a superstição e o medo, para assim despotencializar o corpo coletivo reduzindo-o a um rebanho homogêneo , dócil.

E uma das formas que o tirano tem de manter o rebanho coeso é fomentar nele o ódio a tudo aquilo que é diferente, potente, alegre, criador. Medo, ignorância  e ódio são as armas do tirano, ontem e hoje.

Segundo Espinosa, não é odiando a doença que se conquista a saúde: é o amor à saúde que nos faz vencer a doença. Não é o ódio ao tirano que nos dá força para vencê-lo: é o amor à democracia que nos potencializa ante toda forma de tirania. Vingança é ódio, porém indignação ativa é amor à justiça.

Agenciado  a Espinosa, Manoel de Barros nos ensina esta lição que é também clínica, ética, pedagógica ,  política , micro e macrorrevolucionária: “Se a gente não der o amor, ele apodrece dentro de nós”.

 

( este livro é apenas uma sugestão)



 

- outras sugestões:





terça-feira, 12 de julho de 2022

expressionismo cósmico

 

A nave Voyager , enviada ao espaço há mais de 30 anos, ultrapassou as fronteiras  do sistema solar:  ela agora navega  no oceano desconhecido do cosmos. As últimas coisas que a nave  viu não foram  sóis ou estrelas , mas os berçários nos quais estrelas e sóis  nasceram .   A nave é como uma carta que  tem apenas o endereço do remetente :  o planeta terra. E seu destino lembra   o  daquelas mensagens  lançadas ao mar no interior de uma garrafa.

A Nasa colocou um  cd feito de ouro nessa nave. Há sons gravados no cd :  são mensagens com as quais desejamos expressar quem somos  ao cosmos. O ouro foi escolhido pela sua durabilidade,  não pelo seu valor monetário.

Esse disco-cd pode durar até um milhão de anos, tempo superior ao que os cientistas supõem que a humanidade ainda durará.

Daqui a um milhão de anos , talvez sejamos apenas o relato de certo ser estranho já extinto , um mistério a decifrar gravado num disco de ouro.

Estão gravados  no disco , como poéticos testemunhos do que somos e sentimos: sons   de grilo e sapo; uma baleia cantando; as batidas do coração de um recém-nascido, e as primeiras palavras de sua mãe quando ele abre os olhos; o som das ondas cerebrais de uma jovem que acabou de se apaixonar; um cão  latindo feliz com o retorno à casa de seu amigo-dono; o estalar  de um beijo; sons de chuva e vento; o ribombar de um trovão ; o estrondo de um vulcão que acaba de acordar; risos de crianças brincando; o som suave de uma página de livro sendo folheada; e um “bom dia” dito em  diferentes línguas e dialetos, feito uma  multitudo sonora.

Daqui a um milhão de anos,   talvez já  tenha virado pó tudo o que o dinheiro hoje compra; e apenas pó também sejam  o Paraiso e o Inferno  que os fanáticos teológico-políticos vociferam e em nome dos quais nos ameaçam com  suas fogueiras ( literais e simbólicas).  Mas  para que  durem ainda muito nossas vidas, que não tarde o dia em que  virarão  pó o obscurantismo e a necropolítica.

O poeta Manoel de Barros dizia :“ poderoso não é quem descobre ouro, poderoso  é quem descobre as insignificâncias”. As “insignificâncias” são pequenos acontecimentos vitais cuja grandeza é ignorada pelos homens e suas “importâncias”. Naquele disco da nave estão gravadas “insignificâncias”  endereçadas a  olhos cósmicos .

Talvez sejam esses mesmos olhos que, no aqui e agora, abrem-se no  poeta :  alguém que vê essas “insignificâncias” e as  eterniza como palavra poética que faz pensar, sentir e educa. São essas insignificâncias sentidas , vividas  e partilhadas a verdadeira riqueza daquele disco de ouro que enviamos à eternidade.

 

(na imagem, a primeira foto do universo enviada pelo telescópio James Webb junto a uma   pintura expressionista de Pollock, ambas parecendo expressar o mesmo estilo e arte. Nome da obra de Pollock : “Reflexões sobre a estrela Ursa Maior”, de 1947)




 

- com tradução:




  

- Insignificâncias manoelinas = as coisas favoritas que Coltrane musicou:



domingo, 10 de julho de 2022

a "besta"...

 

Segundo Deleuze, “besteira” vem de “besta”. A besta não é um animal determinado, mas um “fundo indeterminado” oculto  em todo animal. Nos animais, porém, o instinto os dota   de certo comportamento reconhecível ,  impedindo que esse fundo obscuro da besta tome o animal.

O leão é o leão, a hiena é a hiena, o lobo é o lobo. A ferocidade desses animais não é maldade ou crueldade, mas ações que se explicam pelo instinto, pela natureza. Nenhum desses animais se comporta como uma besta indeterminada, pois seus comportamentos são explicáveis por sua natureza.

O homem é o único ser no qual o instinto não tem força para protegê-lo desse fundo indeterminado-obscuro,  tampouco pode a  inteligência , sozinha,  livrar o homem  da besta que vive nele.

As armas, por exemplo, são  ciências aplicadas ( física, mecânica, balística...)   a serviço da besta. O mundo digital, apesar de fruto da tecnologia avançada, também pode servir à mentalidade obscurantista e atrasada da besta.

Quando a besta toma a mente e a boca do homem, nasce então a besteira. Para quem sabe ouvir, crianças nunca dizem besteiras, somente os adultos que são uma besta  podem dizer besteiras que tanto doem ouvir.

 A besta pode até mesmo se servir da religião, tal como no fanatismo teológico-político  armado de intolerância. A besta pode se servir do Estado, nascendo assim o Leviatã Fascista raivosamente militarizado.

Quando a besta toma o homem, este se torna um ser irreconhecível , virando um bicho que nem  a natureza  explica mais , um bicho paranoico, persecutório , sombriamente covarde...

Incapaz de empatia, a besta zomba da morte, se compraz com a destruição e faz do negacionismo a sua   macabra religião.  Enfim,  a "besta" é a presença  no homem de um "buraco", de uma “obscuridade”,  de uma "morte".  Não a morte biológica, mas a morte como política: necropolítica.

Como a "besta" é movida por esse "buraco-negro", bestialmente se volta contra tudo aquilo que é criação de  luz,  como a educação, a cultura e as artes. A "besta" quer fazer tudo  ruir para seu buraco-negro para ver se o preenche, porém isso é impossível, o buraco é sem fundo.

 A besta  odeia  a natureza, e por isso quer  sempre  destruí-la : fisicamente, como faz com as florestas; ou simbolicamente,  com a “demonização” do corpo e do desejo.

A mídia corporativa, setores do judiciário, o sistema financeiro...foram cúmplices dessa besta que , há quatro anos, nos ameaça com suas besteiras e bestialidades , dele e de seus cúmplices.                                                                              

Na mitologia, a “Besta” era representada pelo Minotauro: metade touro, metade homem, a besta morava num lúgubre labirinto que prendia a todos e parecia não ter saída. Mas a bestialidade do Minotauro, sua “sede de sangue”,  não vinha do touro, que é herbívoro. A bestialidade vinha da  parte humana  acéfala,  que instrumentalizava a força bruta do touro  a serviço de sua existência doentia.

Devemos ter cuidado, mas não medo. Somente coletivamente , nas ruas, podemos criar um Fio de Ariadne que nos salve desse labirinto...

 

para o meu tatatataravô tupinambá

 

Entre os tupinambás que aqui viviam , quando um guerreiro da comunidade morria era necessário um último ritual.

Os tupinambás foram povos guerreiros que nunca aceitaram ser escravizados. Eles só consentiam como chefe aquele que maior capacidade tinha em se desapegar do poder. Os tupinambás não faziam guerra para ampliar posses ou fazer escravos. Eles guerreavam quando sentiam sua liberdade em risco, pois não aceitavam viver sem honra.

Para eles, a morte era a última prova, especialmente para os chefes e guerreiros tidos como corajosos, generosos, leais.

Então, quando um guerreiro morria, pintavam seu corpo com as tintas extraídas do jenipapo. Colocavam junto ao corpo seu arco e flecha, bem como a flauta feita do fêmur oco do inimigo vencido . Os tupinambás faziam flautas com o fêmur dos colonizadores. Quanto mais valoroso o guerreiro, mais flautas possuía. Quando os colonizadores invasores chegavam perto, ouviam então a música que deixava as pernas brancas deles tremendo. Não eram poucos os que saiam correndo...

Ao fim da tarde , como parte dos rituais fúnebres, punham o corpo do guerreiro numa canoa e a empurravam em direção ao horizonte. Os tupinambás não acreditavam na separação entre mar e céu. O azul comum de ambos confirmava suas crenças: o horizonte para eles era apenas um limiar, uma passagem. Guardando essa passagem ficava o Grande Ancestral.

Se o guerreiro na canoa fora um dissimulado, um traidor que a todos iludiu com esperta lábia, disso saberia o Guardião, que barraria o dissimulado na travessia ao mar do céu. Mas se o guerreiro de fato fora honrado , e não um farsante, o Guardião o deixava atravessar para no céu ser eterna estrela.

Na manhã seguinte ao ritual, ao raiar do dia, os tupinambás corriam à praia para ver se as ondas cuspiram uma estrela do mar. Se achassem uma, choravam envergonhados por terem sido enganados por tal imitação de homem virtuoso. Mas se não achassem tal estrela sem luz, na noite daquele dia faziam uma alegre festa, pois mais um guerreiro valoroso estava brilhando como estrela viva a protegê-los dos maus.

(Nesse momento, só na Amazônia há mais de 100 grupos teológico-políticos cúmplices do miliciano tentando “evangelizar” à força os povos da floresta. “Genocídio” é quando um povo extermina , com violência física, a existência de outro povo. Mas quando colonizadores  tentam roubar  a alma do outro povo  para engordar rebanhos e explorar dízimos,  essa violência na alma se chama “etnocídio”. O miliciano e seus cúmplices  pregam que os indígenas querem viver como nós. “Nós” quem, cara-pálida?)





- Este documentário é um triste relato da abominável associação entre genocídio e etnocídio  patrocinada pelo miliciano e seus cúmplices:

 







sábado, 9 de julho de 2022

aion

 

Aconteceu lá no começo das eras :  talvez tenha sido uma criança que, brincando,  pegou uma  semente  que recolheu da floresta  e a plantou em um pedaço de  terra próximo de onde  morava. Depois, os adultos tiraram proveito, assim começando um poder, uma técnica.

Antes, a planta crescia livre , sem cercas . Agora ela era cultivada  pelos homens  que a desterritorializaram   de um espaço livre e a reterritorializaram em uma terra cercada . Foi assim que  nasceu a agricultura: com a domesticação do que antes crescia e vivia livre, selvagem.

“Domesticar”  significa : “colocar sob o poder de um domicílio”. Mas não era apenas a planta  que era assim domesticada,  pois junto com ela  também era domesticada outra realidade .

O homem  de então percebeu que a planta nasce, cresce , dá  frutos e  morre.   Houve a compreensão de que a planta existe dentro de um período com fases e ciclos. O homem deu um nome para essa realidade feita de ciclos: ele a chamou de “tempo”. 

Depois, o homem  abstraiu o tempo do cultivo empírico das plantas, ficando  apenas com a ideia de ciclo , estendendo-a  ao cosmos e  a si mesmo. E assim se viu  criança,  adulto e idoso. Ele percebeu que sua vida tinha ciclos, como a vida da planta. Compreendeu que ele era nascimento, vida e morte.

A domesticação do tempo ensejou  também a descoberta do domicílio onde mora o homem: enquanto os deuses moram na eternidade, o homem tem por morada o tempo. Assim como a planta domesticada passou a viver dentro de cercas, o relógio se tornou  a cerca que limita o tempo domesticado.

Mas a domesticação da planta não fez morrer as florestas nas quais as plantas vivem livres, do mesmo modo que a domesticação do tempo não eliminou o seu existir não domesticado  enquanto duração para além do  relógio.

Esse tempo não domesticado  e livre é o que alguns filósofos chamam  de “devir”. O devir  está para o relógio assim como a floresta está para a agricultura, ou  como a poesia está para a linguagem: como realidade não domada, livre,  que nenhuma cerca simbólica domestica.

Os relógios muitas vezes nos fazem prisioneiros dos interesses predadores do Capital em cuja cerca está escrito : “tempo é dinheiro”. Lucro e juros capitalistas  não  são apenas trabalho não pago, juros e lucro também são  nosso tempo roubado. 

 A duração-devir somente pode ser experimentada se cultivarmos em nós um olhar livre de cercas, tal como o têm a criança e o indígena. A duração-devir expressa um valor que não pode ser medido por moeda ou dinheiro.

Enquanto os mercadores do tempo  vivem olhando para o relógio, indígenas, crianças e poetas  vivem a olhar para as estrelas, e por elas se orientam.

Na mitologia, o tempo do relógio é chamado de  Cronos, a divindade que a todos devora, ao passo que a  duração poética atende por  Aion, que era simbolizado por uma criança  que brinca.







quarta-feira, 6 de julho de 2022

linha de fuga...

 

Nietzsche diz que o homem pode passar por três metamorfoses :a do burro ( ou camelo), a do leão e a da criança.

O burro é aquele que diz “sim” ao que está dado: ele aceita, passivamente, os valores estabelecidos por intermédio dos quais o poder dominante se perpetua. Sua forma de aceitação é “oferecer as costas” para carregar, assim se entregando à “servidão voluntária” , nisso lembrando também um “gado”. É assim que o burro se sente “útil” : carregando o peso que em suas costas colocaram. Todos nascemos mais ou menos burros, pois carregamos , desde a infância , os valores de um mundo que já achamos pronto, dado.

Quando o poder diz que só se deve ensinar às crianças tabuada e gramática, e nada de artes e filosofia, o que ele quer é manter submissos seus carregadores também no futuro.

O leão pode nascer do burro quando este sofre uma metamorfose, aprendendo a dizer “NÃO”. Ninguém sobe no dorso de um leão: ele vê em tudo uma jaula onde querem prendê-lo. O leão é ferozmente crítico e cético, imaginando que ser potente é negar . O leão pode mais do que o burro, porém é incapaz de criar , pois para criar é preciso crer. E o leão em nada crê. O leão imagina que crer é ser como o burro que ele já foi.

Do leão pode surgir nova metamorfose: a criança, aquela que redescobre a força do “Sim”. Pois o Sim da criança não é como o sim alienado do burro. O Sim da criança sobreviveu ao não do leão, o incorporou como crítica, porém vai além dele, tornando-se afirmação de uma potência criativa .

A criança não carrega, como o burro; nem ruge e ameaça, como o leão. Ela libertou-se de todo peso, corre e dança, e há nela uma força mais poderosa que a dos dentes e garras.

O burro é refém dos valores do presente que o esmaga e aliena; já o leão nasceu quando esse presente virou passado que o leão não quer mais que se repita. Mas a criança é , ao mesmo tempo, metamorfose no presente e libertação do passado em razão de uma crença ativa no futuro , uma “linha de fuga”, como criação de novas possibilidades para a vida, a despeito das forças obscurantistas que ameaçam retê-la.

Não se trata de otimismo ou esperança, mas de perseverança: “Só podemos destruir sendo criadores”. (Nietzsche)






domingo, 3 de julho de 2022

as Marias do Brasil

 

Tempos atrás, o Teatro do Oprimido , de Augusto Boal, foi fazer uma apresentação na Uerj. 

Na primeira cena ,  um jovem da elite entra sorrateiramente   no quarto da mãe, surrupia  um relógio caro e vai  trocá-lo por drogas. Ao se dar  conta do furto,  a dona do relógio   grita: “Maria!!!” .

Mal a trabalhadora  doméstica entra,  já a fere um grito acusador: “Cadê meu relógio!?”Por ter feito faculdade, a patroa empregava sua destreza   com as palavras  para fazê-las de arma a serviço do preconceito e do ódio .

No auge da violência simbólica,  entra o Boal e diz: “parem a cena!”, e pergunta  à plateia variada de estudantes (sendo eu  um deles , um aluno da filosofia ) : “alguém quer tomar o lugar do oprimido para  tentar vencer o opressor?”

Uma estudante de psicologia levantou a mão, foi até  ao Boal  e pegou a vassoura da personagem (a vassoura  era o elemento cênico a simbolizar o oprimido). Como não havia roteiro, a estudante poderia interromper o fluxo verbal da opressora quando quisesse. Porém, a atriz-patroa, extremamente hábil e agressiva, pôs abaixo com facilidade as táticas psicológicas da estudante.  A aluna pediu para  sair...

Outro estudante levantou o braço ,  um estudante de direito.  Boal passou-lhe a vassoura , recomeçou a peça. O garoto argumentava bem , era confiante. Mas ele tinha um ponto fraco: comportava-se  mais como um advogado, não como a vítima de fato. Ele não sabia o que era ser mulher, pobre, preta, explorada...Também não resistiu.

Ninguém mais levantava a mão, fez-se um silêncio. Pensei comigo: “Será que a teoria nada pode contra a ignorância armada com palavras?”

Até que olhei para trás e vi, na entrada do banheiro feminino, a faxineira de verdade da Uerj espreitando a cena.  Ela estava “invisível” a todos. 

Quando  o Boal perguntou se deixaríamos a opressão vencer,   a faxineira  tomou coragem e gritou: “eu vou enfrentar ela!”, e  foi atravessando de vassoura na mão por entre os alunos .

O Boal a recebeu com um sorriso, perguntando o nome dela.  “Maria da Anunciação ”, respondeu nervosa.  Boal deu-lhe a vassoura da personagem  e  Maria passou ao Boal a vassoura que era seu ganha pão. E as vassouras, a da arte e a da vida, eram exatamente iguais!

Quando a peça recomeçou, a elitista retomou seus protofascismos. Maria ficou em silêncio, mas não de resignação. Ela segurou firme a vassoura , seu “ganha pão”,  e fez dela também seu instrumento de  indignação e "ira santa":  Maria saiu dando vassouradas na opressora casagrandista... E batia de verdade!

Foi preciso toda a equipe para segurá-la,  Maria era forte, muito forte... Explicaram para ela que era tudo de mentira. Maria respondeu: “Mentira!? É que isso não acontece com vocês!”.

Ainda nervosa, pediu água com açúcar. Bebeu,  foi se acalmando, recuperou-se. Cheia de dignidade, Maria  se despediu do Boal  e retornou para o seu trabalho  .

Quando ela passou por mim, sorri agradecido para ela e falei: “Obrigado pela excelente aula!”




 

- Quando me tornei professor, uma das maiores alegrias que tive foi levar , com a ajuda de estudantes, o grupo MARIAS DO BRASIL para se apresentar no teatro da faculdade onde eu lecionava. O grupo MARIAS DO BRASIL  foi criado pelo Boal e por um grupo de empregadas domésticas , para assim pensarem e agirem , de forma transformadora, a realidade em que vivem. Link para a página do grupo MARIAS DO BRASIL  no facebook:

 

https://www.facebook.com/grupomariasdobrasil