domingo, 29 de outubro de 2023

conversações

 


 

“A universidade deveria ser uma instituição puramente filosófica , uma faculdade única. Todo o sistema universitário deveria tender para estimular e exercer, de uma maneira apropriada, a faculdade de pensar.”

                                                                       Novalis


Oriundo do grego, o termo  “logos” pode significar “palavra”, “discurso” e “dizer”. “Lógica”, enquanto dizer ou discurso da razão, nasce de “logos”. As palavras socio-logia, antropo-logia , museo-logia e  psico-logia , por exemplo,  também têm “logos” em sua grafia e semântica, pois “logia” igualmente se origina de “logos” e significa “estudo” ( enquanto discurso científico sobre um objeto ou realidade).

 Assim, “diálogo” é  : “dois dizeres que trocam” ( o prefixo “dia” também pode significar “através de”, já que  em um diálogo ideias passam   de um logos a outro através do discurso). Já “monólogo” tem por raiz “mono” :  “um” ( tal como em “mono-grafia”: “escrita sobre um tema”). De maneira geral, o  monólogo não é algo ruim. Inclusive, monólogo pode ser um gênero literário-teatral. O monólogo se torna  negativo  quando quer ser  uma fala, uma opinião ou um dizer que se quer impor como se fosse “verdade única” que reprime outros dizeres diferentes. Enfim,  um monólogo se torna perigoso quando quer ser e exercer  monopólio de fala.

 Um diálogo se torna ainda mais rico quando vira uma “conversa” ou “conversação”. Essa palavra tem por raiz o termo latino “vertere”: “voltar-se para”. Assim, conversar é: “voltar-se junto” , para olhar e ter uma perspectiva sobre determinado tema. Ou seja, uma conversa ou conversação pode implicar mais do que dois, sendo a prática de convivência e cultivo  de perspectivas diferentes sobre um mesmo tema. Por isso, uma conversação sempre enriquece um tema, nunca o diminui ou nega.

Autoritários querem sempre  impor monólogos , já os que  defendem a  liberdade individual do eu e do tu exigem diálogo “liberal”. Porém, educadores exercitam sempre conversações emancipadoras ,  das quais fazem parte não apenas o eu e o tu, mas também o nós enquanto pluralidade social de perspectivas que podem convergir sem virar seita, que podem divergir sem gerar ódio.

Platão imortalizou sua filosofia sob a forma literária do “diálogo”. Contudo, muitos acusam Platão de disfarçar  monólogos sob a forma de um aparente diálogo, uma vez que é Platão que está por trás dos diálogos que ele escreve, sempre fazendo prevalecer sua perspectiva ( que está subtendida mesmo nos chamados “diálogos aporéticos”, nos quais aparentemente não se chega a uma resposta ou certeza).

Deleuze propõe um meio de expressão filosófico  diferente: a conversação.  É como conversação, inclusive, que a filosofia encontra pontos em comum com a literatura, nos quais um personagem literário levanta questões   que também podemos achar em um filósofo, ou filósofos que criam conceitos que um personagem literário parece também pensar, sentir e viver.




 

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