Sabedor
disso, e querendo fugir dos olhos de Hera, certa vez Zeus pediu para que Eco,
com suas histórias, entretece sua esposa Hera. O plano de Zeus era sair do
Olimpo para ir viver aventuras amorosas...
Sem
saber das reais motivações de Zeus, Eco fez o combinado: encontrou Hera e a
abduziu com suas inesgotáveis histórias.
Durantes horas e horas, Hera se esqueceu de tudo , absorvida que estava pelas
cores e paisagens criadas pela voz e palavras de Eco.
A
noite já avançava quando Hera se deu conta da ausência de Zeus. De imediato,
ela deduziu a estratégia de Zeus empregando Eco. Embora esta não tivesse culpa,
Hera fez cair uma maldição sobre Eco.
Os
gregos acreditavam que as palavras que chegam à boca carregadas de vivências e
cores, tais palavras vêm do coração e se mantêm ligadas a ele por tênues fios,
como os de Ariadne. As “cordas vocais” atestariam que as palavras que narram
histórias que envolvem mantêm fios e cordas ligadas ao coração, como se este
fosse um novelo.
Para
alguém como Eco tão rica de palavras que afetam, Hera pensou na pior maldição
possível. A pior maldição para alguém como Eco não é ficar muda. A pior
maldição foi o que Hera fez: ela cortou os fios entre as palavras e o coração
de Eco, de tal maneira que Eco não ficou muda, porém toda palavra por ela dita
viria de fora : seria apenas palavra repetida, mera cópia do que o outro diz.
Hera
atingia assim Eco em sua riqueza, uma vez que o nome dela significa que toda
riqueza por ela falada, partilhada e
comunicada era eco da riqueza que ela trazia dentro dela, enquanto
riqueza de ideias, de sentires, de pensares e imaginações...
Sentida
com a terrível maldição , Eco saiu do Olimpo e veio se esconder num bosque. Foi
nesse bosque que Eco viu pela primeira vez Narciso. Antes que Narciso a visse ,
Eco foi para trás atrás de uma moita,
pois não queria ser vista de imediato.
Ao
mexer-se atrás da moita, sem querer Eco fez com que os galhos balançassem e
fizessem barulho. Narciso voltou-se para moita e perguntou: “Quem está aí?”.
Atrás da moita ouviu-se então a voz: “Quem está aí?”. Narciso insistiu:
“Apareça agora ou vou embora". Ouvindo então da voz atrás da moita:
“Apareça agora ou vou embora”.
Narciso
deu de ombros e se foi... Sentindo-se rejeitada, Eco foi se esconder no fundo
de uma caverna. Até hoje quando entramos numa caverna e chamamos por Eco, com
nossa própria voz ela responde...
________
Obs: Narciso teve por pai um rio, o Cefiso, que seduziu uma ninfa. Assim, Narciso é filho das águas: realidade fluida e inconstante , como o tempo que passa e a tudo arrasta. Ao serem seu espelho , as águas mostraram a Narciso a sua origem , onde nada se fixa, tudo passa. Etimologicamente, o nome “Narciso” tem por raiz o termo “nark”, que significa “entorpecido”, “anestesiado” ( tal como “narcótico”). A própria imagem entorpece Narciso, o impede de ver a realidade, como uma droga que vicia.
“Narciso acha feio o que não é espelho.”
Caetano Veloso
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