Propagando ideias
equivocadas , setores da mídia corporativa vêm chamando o trevoso
candidato à presidência da Argentina , o
tal Milei, ora de “libertário”, ora de
“ultraliberal”, como se essas expressões fossem sinônimas. Mas libertário e liberal são modos
completamente diferentes de praticar e viver a liberdade.
Não é difícil encontrar a palavra
“liberdade” na boca daqueles que a evocam como se fosse um direito para eles
dizerem e fazerem atrocidades. Por exemplo, o inelegível e seus comparsas sempre evocam a ideia de liberdade para eles falarem
mentiras e fazerem ameaças autoritárias. E tudo aquilo que se opõe a tais falas
e atos autoritários , eles chamam de
“censura”, mesmo as leis .
Já libertário é
aquele que põe a liberdade em prática, nascendo
dessa prática uma mudança transformadora enquanto qualidade potencializadora partilhada
em comum na relação com os outros.
Um livro, um poema, uma filosofia...podem ser
libertários, desde que despertem ações
libertárias na prática, aqui e agora. A primeira vez que li a palavra
libertário foi num livro de Maiakóvski , cuja poesia era definida como
libertária.
Um autoritário pode evocar
cinicamente a ideia de liberdade para realizar seus autoritarismos, porém nunca
um autoritário pode realizar um ato libertário : ao contrário, é o ato libertário que, quando realizado, põe fim
ao poder autoritário. O ato libertário
está para um ser autoritário assim como o alho está para o vampiro...
Em nome de tal mundo “conservador-liberal”,
querem nos impor hoje um infame conluio
entre o autoritarismo político e o “autoritarismo do Mercado” , ambos fornecedores
de capital e armas ao messianismo “teológico-colonialista” exterminador de crianças.
Em geral, tanto autoritários como
liberais advogam ser a liberdade uma propriedade individual sua
, algo que emana de seu ego. Já libertário é quem , singularmente, vive e
promove relações emancipadoras , pois toda singularidade o é em uma relação :
toda singularidade é parte de uma multiplicidade, ensina o libertário Espinosa.
Ao se referir ao Milei como um “libertário”, na verdade a mídia corporativa confunde “indivíduo” com “singularidade”, “liberal”
com “libertário”. Essa confusão é proposital, e visa afastar as pessoas da
compreensão do que é realmente
libertário e antiautoritário.
Pela mesma razão , é uma contradição
entre termos a expressão “anarco-capitalismo”. O anarquismo autêntico não
promove a rivalidade competitiva do capitalismo, e sim a cooperação com
autonomia, base e fermento de uma sociedade realmente democrática.
Tanto o liberal quanto o autoritário
se unem em seus ódios destrutivos ao que é o Comum. Já o autêntico libertário zela pela produção em comum do Comum, pois de
“comum” vem “comunidade”.
O Comum não é aquilo do qual todos
são donos e proprietários, o comum é aquilo que não pode ser reduzido à lógica
da propriedade: do Comum ninguém é o dono, e mais participa do Comum quem
promove relações libertárias, tais como a cooperação, a justiça, a empatia e a
solidariedade, bases igualmente de uma educação libertária .
NECESSIDADE E LIBERDADE EM ESPINOSA
Espinosa distingue “necessário” de
“coação” ou “constrangimento”. Por exemplo, todo ser humano deseja amar, ter saúde, crescer material e espiritualmente, enfim,
realizar suas potencialidades. Essa realização de potencialidades é uma necessidade mais do que humana: é uma
necessidade vital. Realizar essas potencialidades é a mesma coisa que exercer a liberdade : a liberdade de ser o que
se deseja ser . A liberdade concerne tanto ao desejo singular quanto aos meios sociais para se efetivar as
potencialidades. Para Espinosa, somente
a democracia é o meio necessário para a realização da necessária liberdade,
pois a autêntica liberdade é uma necessidade singular e coletiva.
Já a coação é aquilo que obriga a um
comportamento contrário à necessidade e que, por isso, fere a liberdade. Toda
coação constrange, limita; ao passo que
tudo aquilo que é necessário liberta, horizonta ( como diria Manoel de Barros).
Tiranos-autoritários coagem e
constrangem, já educadores educam para o que é necessário: e necessário é tudo
o que é libertário.
Um comentário:
Rio de margens que buscam me conter. Rio, e as conduzo até meu estuário.
Não é pouco o cascalho retirado do meu leito. Muito... se comparado ao escasso material reluzente (ouro ou pirita) que cega os tolos.
Assim, servirá à pavimentação do caminho e à construção da cidadela.
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