segunda-feira, 28 de julho de 2008





A Bíblia só deveria ter folhas em branco:
que as palavras de Deus fossem os desenhos que nelas fizessem as crianças.

***

A lua só se torna cheia
quando nela o sol se reflete por inteiro ,
até de si se esquecer.

terça-feira, 22 de julho de 2008



Mínimas III


Nietzsche acreditava nas estrelas como divindades:
a luz que emanam bendiz todo caos.

O Deus de Descartes era a Régua:
no altar da Retidão,como vítima,
ele queria que fosse sacrificado o coração .

Platão invejava os pardais:
e como tais assobiou na palavra.

Como criança assaz curiosa,
Aristóteles queria desmontar toda a natureza,
ao preço de se perder o divino brinquedo.

Espinosa dava aulas sem dizer palavra:
de coração a coração se falava e se escutava.



Mínimas II


As ações são obras que se perdem
se nos detemos muito no esboço delas.

O bom livro é para ser lido com o ouvido.

Ao sutil vê quem é amigo das cores.

Não guarde palavras em sua alma:
são bagagens que limitam a viagem.

No desenho da criança
o inconsciente nos fala seu idioma.

Esquecer é aprender a viver de novo.

Ao seguirmos os passos do tempo na areia,
o tempo é o mesmo vento que apaga os passos atrás.

O melhor conselho é ação que se dá de presente.

Vive mais quem sabe ver as horas no coração.


MÁXIMAS MÍNIMAS


Mínimas I


O dia amanhecendo
na criança sorrindo se espelha.

A melhor maneira de ver no escuro
é mantendo a alma acesa.

A maior força não nasce do músculo,
mas do invisível impulso que pôs o coração a bater.

Pelo aroma da flor
a terra se transubstancia em alma.

Os sonhos são fronteiras que se apagam
assim que as atravessamos.

A insubmissão como meio;
a arte como fim;
o coração como princípio.

Só deve frutificar na boca
a palavra cuja semente na ação se plantou .

Amadurece-se não só na vida,
mas também na forma de expressão.

Há mais estrelas que mil vezes mil
todos os grãos de areia.

Estenda a mão como uma corda caída do céu.

O sol não tem memória do brilho que ontem fez.

O caminho para ir e o caminho para vir
não conhecem os mesmos pés.

Só as idéias que em visita passam pela nossa alma
podem nos trazer notícias de onde se esconde o Ser.

Quando um amigo lhe abre a casa
somente a entre se na porta deixar toda arma.

Ver seu próprio rosto na face do estranho
torna próximo o mais distante.

Os dias, os meses e os anos passam...
Mas nunca passa a eternidade.