quinta-feira, 25 de abril de 2024
25 de abril: a Revolução dos Cravos
quarta-feira, 24 de abril de 2024
Filosofia e Literatura
Acabou de sair essa publicação da qual sou um dos organizadores. Deixarei aqui o link para quem quiser depois acessar:
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/araticum/issue/view/382
domingo, 21 de abril de 2024
sociedades fechadas e sociedade aberta
Segundo o
filósofo Bergson, existem dois tipos de sociedade: a fechada e a aberta. A
sociedade fechada é representada sobretudo pela ideia de “pátria”, extensão
simbólica da família patriarcal , uma
microssociedade igualmente fechada .
Muito se fala em “amor à pátria”, porém inúmeras vezes esse amor se alimenta do ódio às outras pátrias: incontáveis
guerras foram deflagradas em nome do “amor à pátria”. E há ainda os que se acham “donos da pátria”,
paranoicamente sempre perseguindo
aqueles que eles consideram “inimigos internos da pátria”. Os pretensos “donos da pátria” consideram
“inimigos internos da pátria”
aqueles que agem por uma sociedade mais igualitária e plural, uma
Mátria não patriarcal.
Já a sociedade aberta, segundo Bergson, não é nenhuma pátria, por maior que uma
pátria seja. A diferença entre a sociedade fechada e a sociedade aberta é a
mesma que há entre o finito e o infinito, ou entre a cerca que limita e o horizonte que amplia.
Existem muitas
sociedades fechadas, porém a sociedade aberta é uma só, ao mesmo tempo una e
múltipla. A sociedade aberta é a humanidade. O inimigo de uma pátria pode ser outra pátria, mas o inimigo da
humanidade é quem governa com insanidade uma pátria pondo em risco não só os
que moram nela, mas toda a humanidade .
Toda pátria é um
recorte feito sobre a humanidade, de tal modo que todo habitante de uma pátria
também o é, primeiro , da humanidade. Quando uma pátria se acha superior ao
restante da humanidade, surge então a
pátria n-a-z-i-f-a-s-c-i-s-t-a cujo poder se alimenta da
desumanidade.
O amor à pátria
se torna excludente e negacionista se
não for inserido no amor à humanidade enquanto prática ética e política de
proteção da humanidade de cada um.
Os defensores da
pátria excludente em geral idolatram o militarismo e imitam , com as mãos, armas; mas os
defensores da humanidade seguram com as
mãos livros, pincéis, lápis... sem largar a mão daqueles que os “donos da
pátria” perseguem ou deixam sem teto, sem terra, sem justiça, sem dignidade,
com fome.
Nenhuma pátria
pode ser realmente livre e independente se o culto do “amor à pátria” encobre crimes contra a humanidade.
sexta-feira, 19 de abril de 2024
empoemamentos originários
A palavra
“mitologia” tem dois sentidos: 1- conjunto dos mitos produzidos por um povo ( e
não apenas pelo povo grego); 2- estudo dos mitos. Infelizmente, nenhum desses
dois sentidos traduz a experiência originária dos povos que viveram e criaram
os mitos, pois são sentidos teóricos
nascidos bem depois daquela experiência originária.
Devido ao
desconhecimento dessa experiência originária com o sentido da vida e da
existência , muitos hoje desdenham da
mitologia, e consideram que é mais “útil” ensinar aos jovens “cartilhas
técnicas” e “tabuadas” que adestrem para
o mercado.
Assim,
“mitologia” ou “mito” não são bons nomes para designar a experiência originária
que vários povos fizeram, e fazem, para darem sentido à existência pessoal e
coletiva. Em vez de “mitologia” ou “mito”, prefiro empregar o termo
“empoemamento originário”.
É Manoel de
Barros quem ensina que poesia não é só escrever rimas e versos, pois poesia é,
antes de tudo, experiência de empoemamento.
Empoemar-se não
é apenas ler versos, empoemar-se tampouco é somente contemplar o que é “belo”,
romanticamente.
“Poesia” vem de
um verbo grego que significa “produção”. Assim, empoemar-se é produzir a si
mesmo agenciado com o outro, com o mundo, com o cosmos. Empoemar-se é o
contrário de anular-se .
Empoemar é um
verbo que se conjuga em todos os tempos, em plurais modos e em todas as pessoas
do singular e do plural. Empoemar-se também é ação clínica, política , ética e
pedagógica.
Sob essa
perspectiva , a experiência originária que gerou os mitos não está apenas no
passado . O sentido de se ler os mitos hoje
é para fazer reviver em nós, aqui e agora, aquela experiência. Não para
que repitamos o que disseram os antigos, mas para que possamos (re)aprender a
produzir sentidos que repotencializem a
vida com força regeneradora e criativa.
Não apenas os
gregos fizeram essa experiência com a poesia originária, nossos povos
indígenas também o fizeram e
perseverantemente ainda o fazem para se manterem vivos.
Segundo Krenak,
o poeta da tribo tem o seguinte nome: “pessoa coletiva”. O poeta da tribo trava
batalhas diferentes daquelas que os guerreiros travam; ele exerce um tipo de
poder mais poderoso do que o do cacique;
e promove curas ainda mais necessárias à vida da tribo do que as curas
do pajé.
Com suas
narrativas originárias, o poeta da tribo
empoema a coletividade e evoca a força dos ancestrais para que as florestas de
Pindorama resistam de pé plenas de vida
. Com sua palavra geradora , o poeta da tribo
age para adiar o fim do mundo...
Até f-a-s-c-i-s-t-a-s
às vezes são chamados de “mito”... Porém é sempre antiautoritária a experiência originária que empoema a
existência e a fortalece ante tudo aquilo que , ontem e hoje, a põe sob
risco.
Como ensina
Deleuze: “A literatura é o esforço para
interpretar engenhosamente os mitos que
não mais se compreende, por não sabermos mais sonhá-los ou produzi-los.”
Hoje, 19 de
abril, dia da luta dos povos originários.
“Tenho em mim um
sentimento de aldeia e dos primórdios. Eu não caminho para o fim, eu caminho
para as origens. Não sei se isso é um gosto literário ou uma coisa genética.
Procurei sempre chegar ao criançamento das palavras (...). Essa fascinação
me levou a conhecer melhor os indígenas.” (Manoel de Barros)
Esta música do vídeo é cantada nos ritos de iniciação dos jovens Kayapós à vida em comunidade. A letra lembra aos jovens que os Ancestrais também sãos os rios, as árvores, enfim, a terra que dá alimento e proteção; e que não há futuro digno sem manter viva a memória coletiva dos Ancestrais:
sábado, 13 de abril de 2024
Os hiperbóreos...
Segundo
Nietzsche, há filosofias do “sol nascente” : nestas filosofias, o pensamento
é como o sol que nasce e ilumina a natureza que a noite obscura
ocultava. As filosofias do sol nascente coincidem com a própria origem da
filosofia: assim foi a filosofia dos pré-socráticos, como um sol nascente a
revelar a natureza, a “physis”.
Mas
existem também filosofias do “sol poente”, filosofias do ocaso: elas
coincidem com a filosofia europeia, na qual este mundo em que vivemos hoje foi
, em grande medida, gestado. Essas filosofias substituíram a luz nascente da
physis poética , tal como existia em Tales ou Heráclito, pela luz poente da razão tecnocrática , sendo o niilismo reativo a sombra que acompanha essa luz fria ,
utilitária e despoetizada.
Porém há ainda , segundo Nietzsche, a “filosofia dos
hiperbóreos”. Entre os gregos , “bóreo” era o nome do vento mitológico
conhecido como “vento do norte”. Esse vento por vezes também era chamado de
“vento da morte” ( nos vários sentidos que a morte tem). Assim, o hiperbóreo
era um lugar que ficava além do que
podia alcançar o vento bóreo, o vento da morte ( em grego, o prefixo “hiper”
também significa: “o que está em lugar superior”).
Os gregos diziam
que para as regiões hiperbóreas iam
alguns deuses, como Apolo, quando queriam recuperar e renovar as forças. A região hiperbórea não é
exatamente o norte da Europa, e sim o
limiar desta .
Diferente do que
se imagina, não é para o norte que as
bússolas apontam ; as bússolas apontam para o hiperbóreo , sobretudo as
bússolas que indicam necessárias direções novas para revitalizarmos nossas
forças.
O que mais
caracteriza a região hiperbórea da terra é que nela o sol jamais morre : ele está sempre no horizonte e
corre sobre as montanhas,
horizontalmente, mantendo sempre translúcido
um céu de imortal azul. Na região hiperbórea é sempre aurora, alvorada, amanhecer...
“Hiperbóreos”, assim deveriam ser os pensadores
do futuro, acreditava Nietzsche,
para assim vencerem o vento da pulsão de morte e suas formas negacionistas,
necropolíticas e niilistas, que sempre
tentam subordinar o valor da vida ao
dinheiro e ao mercado , incluindo o mercado da fé .
Como reconhecer
um hiperbóreo? Um hiperbóreo é aquele em cujo horizonte aberto o sol da Arte ,
como um farol, sempre brilha intensamente
e nunca morre.
( imagem: capa
do livro “O fazedor de amanhecer”, do poeta-hiperbóreo Manoel de Barros; a capa e as ilustrações do
livro foram feitas por Ziraldo, a quem deixamos esta pequena homenagem)
Bethânia lendo o hiperbóreo-Manoel ( trecho do filme "Língua de brincar", de Gabraz Sanna):
O hiperbóreo-Cartola:
sábado, 6 de abril de 2024
o monturo
Há um poema de
Manoel de Barros no qual ele descreve o
que aconteceu num monturo que ele encontrou
no meio de um caminho ermo.
Monturo não é
exatamente um monte de lixo. No monturo
estão coisas que já deram sentido a uma vida, coisas que eram partes de um todo, mas que agora são apenas
fragmentos que a natureza recolheu sem julgamento ou desprezo.
No monturo
podiam ser vistos: os cacos do que sobrou de uma taça que
outrora já esteve repleta de vinho ; os
restos de um diário cujos dias anotados há muito viraram passado ; a
metade de uma concha que talvez já tenha guardado uma pérola dentro; as penas
que já voaram no céu aberto como partes
de uma asa; a casca seca de uma cigarra que já encheu de cantos a floresta; a
mortalha de folhas amarelas que
vicejaram verdes na primavera; os ponteiros parados de um relógio que já
marcaram horas apressadas ; um pé de chinelo solitário e roído pelos anos em seu solado gasto ; os retalhos
desbotados do que antes foi uma fantasia
colorida; um álbum de retrato cujas fotos
o esquecimento apagou.
Junto a esses
restos também estavam: cacos de certezas
que pareciam inquebrantáveis , farrapos de verdades que pareciam eternas...
Mas debaixo do
monturo aconteceu uma surpresa, um “milagre poético”: sob os cacos e pedaços,
uma semente ainda estava inteira . E depois de a chuva regar o monturo e o sol
o aquecer, o tempo sarou o monturo e deu à semente forças para germinar.
Da semente
brotou um caule em rascunho
. O caule se enroscou e subiu
por um pequeno raio de sol que furou a noite do monturo. E do túmulo que o
monturo era, a perseverante semente fez
dele um útero do qual nasceu uma flor: um reluzente lírio.
“Poeta é ser que vê
semente germinar.
Nas fendas do insignificante ele procura grãos de
sol.”(Manoel de Barros)
"Não é por fazimentos cerebrais que se chega ao milagre
estético.”(Manoel de Barros)
“Fornecer aos pensamentos fechados uma corrente de ar fresco.”
(Bob Dylan)
“A noite fria me
ensinou a amar mais o meu dia,
e pela dor eu
descobri o poder da alegria.”
(Belchior, trecho da música “Fotografia 3x4”)
sexta-feira, 5 de abril de 2024
a origem do sentido
A ORIGEM DO SENTIDO[1]
A palavra “semântica” vem do grego “sema”, que também costuma ser
traduzido por “signo” ou “sinal”. Signo ou sinal é tudo aquilo cuja presença
aponta ou sinaliza para outra coisa . Por exemplo, a palavra “casa” é o signo
que “representa” ( re-apresenta) a casa concreta.
Na Grécia antiga quando alguém morria o corpo era cremado. Mas o fogo não
consumia tudo. E antes que ele se extinguisse totalmente, as últimas chamas
eram apagadas com água e vinho. A água para apagar o fogo, e o vinho para
co-memorar, criar memória, daquela vida. Morte não é apenas despedida, também é
celebrar que houve aquela vida.
Ao fim do rito, restavam apenas os fragmentos dos ossos alvos se
destacando sobre o fundo das cinzas. Esses fragmentos eram recolhidos e
guardados numa pequena urna, que então era plantada no seio da terra. Para os
Gregos , colocar a urna no seio da terra era um processo semelhante ao plantar
a semente , para que dela brote outra vida. Para os Gregos, só a vida é
absoluta, nunca a morte. “Ab-soluto”: o que não é soluto, o que não se
dissolve. Por mais que o fogo dissolva os ossos, algo daquele que viveu permanece
ainda vivo.
Depois , era confeccionada uma pequena tabuleta com o nome da pessoa ali
plantada e um epíteto , isto é, uma pequena frase semelhante a um verso que
expressasse e traduzisse a vida daquele cujo nome estava escrito na tabuleta,
que então era afixada sobre a terra onde
a urna foi plantada.
A tabuleta “sinalizava” e dava a conhecer uma vida, agora ausente. A
tabuleta era uma presença que sinalizava uma ausência. Os gregos chamavam essa
tabuleta de “sema”, pois ela era um signo que representava uma vida ausente.
Isso talvez ajude a compreender a enigmática frase de Platão na Carta Sete, na qual o filósofo
afirma que a filosofia não pode ser
escrita, a não ser secundariamente. Pois a filosofia nasce de uma experiência
originária do filósofo com a Ideia que o
torna filósofo, sem a mediação de signos. O texto escrito é o relato dessa
experiência ou experimentação transcendental. A filosofia é expressão da alma e
corpo vivos expressos sobretudo pela palavra viva , e não pela palavra escrita
como sinal que aponta para uma ausência, para uma morte.
A palavra “sema” é prima da “palavra “soma”, que em grego significa
“corpo” ( como em “psicossomático”).Assim o sema é o corpo da palavra ( ou
significante) , ao passo que a alma da palavra é seu sentido, que aponta ou sinaliza para o ser ausente que a
palavra re-apresenta.
Mas acontece algo diferente com a palavra do poeta, pois a palavra poética
potencializa ainda mais o sentido. A palavra poética não re-apresenta algo
ausente , ela faz com que se torne presente nela uma existência que se torna
absoluta.
“A palavra abriu o roupão para mim: ela quer que a seja”, explica-se o poeta Manoel de Barros. A
palavra poética abre-se para o poeta amorosamente, para que a poesia que o
poeta escreve não seja apenas re-apresentação do mundo, mas criação de outros
mundos cujo sentido não se esgota apenas na palavra. É por isso que o poeta
também diz: “Poesia pode ser que seja fazer outro mundo”, pois poesia não é
representação do mundo dado , mas criação de outros mundos possíveis. O poeta também diz que “escreve com o corpo”.
O corpo expressivo[2] do
poeta não é apenas carne e osso, mas
também espírito tangível que igualmente é fogo. Não como aquele fogo que destroi e
consome, como o fogo do ritual funerário, e sim fogo que aquece e ilumina,
chama que é da vida. Fogo assim é o Princípio ou Arqué de tudo, ensina
Heráclito.
[1] Texto-aula
elaborado pelo prof. Elton Luiz.
[2]
Esse corpo expressivo é o que Deleuze, inspirando-se em Artaud, chama de “Corpo
sem órgãos”. Tal corpo expressivo não pode ser explicado apenas pela ideia de
função, isto é, mediante um sentido utilitário ou “orgânico”. Quando Espinosa
afirma que “Ninguém sabe tudo o que pode um corpo”, ele também está se referindo
a ações que não se explicam pelo aspecto orgânico e funcional do corpo. Quando
a bailarina dança, por exemplo, ela põe em ação seu Corpo sem órgãos; quando a
cantora canta, igualmente é seu Corpo sem órgãos que se expressa por ela.
Quando o poeta escreve seus versos, o corpo da palavra não se explica mais pela
funcionalidade da gramática, uma vez que a palavra , ela também, se torna um
Corpo sem órgãos, um corpo expressivo.
segunda-feira, 1 de abril de 2024
ditadura nunca mais
Eu tinha cerca
de 12 anos e fazia o antigo ginásio. Era uma época difícil, sufocante...A ditadura militar censurava, perseguia , prendia e torturava quem pensasse diferente
do poder autoritário dominante.
Quem não passou
por isso não faz ideia da violência, violência física e simbólica, da ditadura
. Somente quem nela foi carrasco, cúmplice ou capitão do mato tem saudade
daquela triste época.
Quando cresci e
estudei história , aprendi que esses perseguidos pelo terror eram pessoas que
sentiam que o mundo precisava ser mudado , e agiam para isso. Ainda criança, eu
também sentia que o mundo dos homens estava errado , mas não encontrava nos
livros lições que dissessem isso, pois pensar estava proibido.
Àquela época, a
escola não era um espaço de descobertas : a ditadura controlava tudo, e usava
as cartilhas e tabuadas como meios de
adestramento.
Poesia e
literatura? Só eram aceitos os parnasianos, como aquele poeta elitista autor do
Hino Nacional que a gente não entendia
nada da letra , porém nos obrigavam
a cantar em posição militar,
rigidamente, batendo continência para a bandeira, como se ela fosse um general
sisudo sobre o Monte Parnaso.
Até que chegou à
escola uma professora nova de língua e literatura. Tudo nela era diferente: a
roupa, o jeito , o olhar , enfim, a
pessoa. Foi a primeira vez que entendi de verdade o que era uma educadora e
tudo o que a arte pode em termos de (auto)descoberta .
Em vez de adotar
livros parnasianos para a gente ler decorando datas e palavras que a gente não
entendia, palavras mortas que nada nos diziam a não ser: “obedeçam!”, ela
adotou um livro diferente cujas palavras
a serem interpretadas eram letras de música dos Festivais da Canção acontecidos
recentemente.
Assim , foi como
poesia que li , pela primeira vez, Chico Buarque, Caetano , Paulinho da Viola e
Gilberto Gil. Antes de conhecer a música deles , eu me empoemei , ainda
criança, com a poesia sob a forma de
letra. Algo em mim se horizontou e veio para fora: era eu mesmo, ainda de mim desconhecido.
Foi a primeira
vez que experimentei o que é ler, pois ler é ler-se. Eu não
entendia todas as palavras , mas sentia que eram palavras vivas que me
ensinavam um sentido que eu sabia ser o
mesmo que os milicos não queriam que a gente aprendesse, um sentido libertário
da plural e popular poesia.
A querida
professora transformava a sala de
aula numa lúdica academia , uma academia
livre de adestradoras cartilhas, onde a
gente era alfabetizado no pensar lendo a poesia de Chico, Caetano, Gilberto Gil , Geraldo Vandré
e Paulinho da Viola.
Ditadura nunca
mais! Democracia sempre!
quinta-feira, 28 de março de 2024
Uma das palavras mais bonitas
Uma das palavras mais bonitas da
filosofia grega é “eudaimonia”. No
coração dessa palavra está o nome “Daimon”, pois “eudaimonia” é : “estar na
companhia de um bom Daimon”.
Em português, “eudaimonia” significa “felicidade”. Para os gregos, felicidade não
é andar sozinho, mesmo que seja numa carruagem de ouro; felicidade é andar na
companhia de um “bom Daimon”, agenciado.
Na mitologia, o Daimon não mora no
inacessível e aristocrático Olimpo, o Daimon mora onde houver a necessidade de
uma travessia, pois ele é a divindade dos caminhos, sobretudo dos caminhos que urgem ser criados quando
precisamos atravessar desertos ,
escapar de labirintos ou transpassar
rochedos.
Para os gregos, a felicidade não é propriedade
egoica de um indivíduo, a felicidade é
agenciamento coletivo: impossível o indivíduo ser feliz se a pólis está
triste, tampouco pode o indivíduo ter saúde com a pólis doente.
Aristóteles dizia que a felicidade é o
que a ética visa alcançar , já Espinosa
ensina que felicidade não é um prêmio por sermos éticos, a felicidade é a vida
ética mesma. A felicidade não está no ter, e sim no ser.
Mas o Daimon só nos faz companhia se
aprendermos a ser companhia. Nietzsche diz que certa vez um Daimon soprou esta
lição em seu ouvido: “Não aprecio seguir
ou ser seguido: para me acompanhar aonde
vou, é preciso aprender a amar andar ao lado”.
“Companhia” vem de “com-pane”. E “pane”
é, em português, “pão”. Assim, fazer companhia é saber “dividir o pão”. Companheiros: “aqueles
que dividem o pão”.
Há o pão que alimenta o corpo, como
aquele que faltou ao povo e trouxe o sofrimento
da fome. A elitista Maria Antonieta, zombando, disse: “Não têm pão? Que
comam brioches!”
Quando um povo não aceita ser rebanho de Marias Antonietas de ontem e
de hoje, nasce nele a fome por outro pão: o pão da dignidade e
da justiça, pão que tem o fermento da
arte, da educação e da poesia, pão que
alimenta a luta contra as tiranias.
( este livro é apenas uma sugestão )
quarta-feira, 20 de março de 2024
Outonos
Certa vez, eu estava
explicando para uma turma um poema de Fernando Pessoa. Era uma turma muito
simpática e atenciosa, que sempre pedia para eu tocar nesses temas poéticos-filosóficos
, apesar de não caírem na prova...rs...
Quando terminei a
narrativa, uma aluna perguntou de
repente : “Professor, qual seu signo?”
Quando respondi “touro”, ela ficou incrédula, e disse com humor : “professor,
você não pode ser touro, os professores de touro gostam de ensinar apenas
coisas utilitaristas sem poesia ...rs...”
Então, ela me pediu a
data e hora do meu nascimento, incluindo os minutos, ela queria fazer meu “mapa astral”. Como eu
sabia esses detalhes, passei a
informação para ela. Na aula seguinte, ela entrou sorridente na sala e disse:
“Sabia que havia alguma coisa diferente, você
é assim por causa de seu ascendente: Aquário!”
Em homenagem àquela turma
simpática ( e a todos que , presencial
ou virtualmente, apoiam meu trabalho), elaborei um pequeno “horóscopo
filosófico”, no qual o céu sob o qual nascemos expressa a atmosfera que irradia
de determinado filósofo .
Àquela época, eu morava
perto de uma pracinha. De minha janela via as mães com seus filhinhos nos
carrinhos de bebê. Deitados dentro dos carrinhos, os bebês ficavam o tempo
todo olhando para o céu. Pensei comigo:
“se tudo nos influencia, ainda mais quando somos crianças, deve haver uma
profunda influência dessa primeira
imagem do céu na alma e personalidade dos bebês”.
Assim, os que nasceram no
verão veem um céu com um sol intenso. Os
bebês que trouxerem esse sol para dentro
deles se tornarão criadores-artistas . Chamei esse céu de CÉU DE NIETZSCHE.
Os que nasceram no
inverno, ao contrário, veem um céu cinza, e assim terão que buscar criar um sol dentro de si . Os que nascem sob
esse céu tenderão a ser mais introspectivos, buscando mais a “luz interior” .
Chamei esse céu de CÉU DE SCHOPENHAUER.
Os que nasceram sob o céu
da primavera veem um sol que é como uma grande semente que faz tudo germinar.
Os que plantarem dentro de si esse
sol-semente tenderão a ter uma crença
inabalável na vida, acreditando que a vida pode de novo sempre brotar, apesar
do deserto. Chamei esse céu de CÉU DE EPICURO.
Enfim, os que nasceram no
outono veem um céu de um azul profundo porém transparente, onde o sol brilha
vivamente mas sem ofuscar, um sol como parte do infinito sempre aberto para
voos emancipatórios: “Eu tentei me horizontar
às andorinhas” (Manoel de Barros). Os que nasceram sob esse sol e céu ,
se aprenderem com esse sol e céu a se horizontarem, crescerão pensadores. Chamei esse céu de CÉU
DE ESPINOSA.
Hoje começa o outono. Que
a gente consiga criar uma abertura na
mente e no coração para que possam entrar a luz e o azul desse “Céu de Espinosa”, e que a perseverança do
pensar luminoso desse filósofo nos
inspire e fortaleça diante de toda forma de treva.
(Imagem: “Outono”/ Monet)
Obs: Nesse
“horóscopo-brincativo” ( “brincatividade” é ideia criada pelo poeta Manoel de
Barros) poderíamos colocar outros filósofos ainda ao lado desses que mencionei
para cada estação poético-existencial. Lucrécio e Sêneca, por exemplo, também
são outono; Sartre , creio, é verão;
Epicteto , Bergson e Marx, primavera; e Cioran, inverno.
segunda-feira, 18 de março de 2024
Livro
Foi publicado
recentemente este livro do qual participo. Apoiando-me em Plotino, falo no
livro das relações entre poesia, ciência e filosofia.
Plotino possui
uma maneira muito poética de ver o mundo, talvez uma das visões mais poéticas
que a filosofia já produziu. Na verdade, não era sua visão que era poética,
pois poético era o próprio mundo que Plotino sentiu , viveu e pensou. Assim,
para ver esse mundo poético era preciso criar em si olhos para vê-lo, olhos
também poéticos.
Porém, não se trata do poético no sentido restrito de palavra e versos, pois em Plotino, assim
como em Espinosa, poético significa “produção”( poiésis ), no sentido do
pintor que produz seu quadro, ou do músico que produz sua música, ou ainda do
maestro que produz a unidade compósita, porém variada, dos diversos
instrumentos que participam de uma polifonia.
Plotino diferia
dos gregos também no seguinte ponto: os gregos achavam que Eros ( o Amor)
deveria escolher entre a Alma ( Psiquê) e o Corpo ( Afrodite). Escolhendo a
Alma, tal escolha conduziria ao amor à
filosofia; escolhendo o Corpo, nasce
dessa escolha o amor à arte e à poesia. Para Plotino, ao contrário, o autêntico
Eros deve viver entre Psiquê e Afrodite, entre a Alma e o Corpo, para assim ser
o elo que une a ambos. Assim, segundo Plotino,
para ser filósofo é preciso ser também poeta, pois em todo poeta existe
também um filósofo.
Referindo-se a
Plotino, o filósofo Pierre Hadot afirma: “Hoje se toma por sonhador aquele que
vive o que ensina .”
“O homem livre nunca termina de esculpir sua própria estátua, pois a arte viva não está na pedra enfim moldada, mas no ato de fazer-se que nunca termina.” (Plotino)
tornam-se pássaros canoros após morrer o corpo." (Plotino)
domingo, 17 de março de 2024
Elis Regina
"Descanse tranquilo onde cantam,
os maus não cantam."
Schiller
Hoje, 17 de março, Elis Regina faria 79 anos.
sábado, 16 de março de 2024
A "caverna" e a luz
Em sua famosa
alegoria, Platão compara a uma “caverna”
o mundo no qual vivem os homens alienados, ontem e hoje.
Esses homens não
entraram na caverna para explorá-la. Ao contrário, eles são explorados
dentro dela : nela vivem como prisioneiros
acorrentados.
Eles estão
acorrentados de costas para a saída da caverna e de frente para o fundo dela.
Como esses homens naturalizaram essa
condição, ignoram que são prisioneiros, não se dando conta que estão
acorrentados.
As correntes não
são de ferro ou aço, elas são feitas de um material que vem dos próprios homens
aprisionados: elas são feitas com suas
passionalidades reativas e opiniões ressentidas, limitadas .
Ódio,
ressentimento, preconceito, medo...são
exemplos de “paixões tristes” que , como
ensina Espinosa, tornam os homens prisioneiros deles mesmos e partes de um
rebanho manipulável.
O mundo da
caverna não é totalmente escuro, pois entra nele um pouco da luz que vem de
fora. Por isso, no fundo da caverna se
projeta o reflexo, apenas o pálido
reflexo, das coisas reais que existem fora da caverna.
Mas como os
acorrentados não sabem que existe um mundo fora da caverna, aprisionados que estão ao negacionismo, eles
imaginam que o reflexo distorcido do mundo é o próprio mundo, e assim tomam por
real apenas sombras, “fake news”.
Os prisioneiros
carregam a caverna não importa onde estejam:
ela é o mundo estreito dos que estão acorrentados na ignorância e submetidos aos que os mantêm nessa condição
de servos voluntários.
Na abominável
caverna militar-teológico-política em que está aprisionada parte da sociedade
brasileira, os prisioneiros dela ,
autointitulando-se “homens de bem” , estão sempre falando em pátria e Deus; mas a pátria e Deus deles são apenas sombras
no fundo da obscura caverna da ignorância.
Platão chamava de
“espertalhões da caverna” os que se
aproveitam dessa alienação trevosa : eles
posam de governantes e “líderes
espirituais”, quando na verdade são tiranos do corpo e da alma.
Ontem e hoje ,
os tiranos da caverna odeiam a luz e contra ela fazem sua suja guerra , pois
temem o lume da educação emancipadora.
Pois a razão de
ser dessa luz é fortalecer quem a
conhece e se autoconhece a partir dela, adquirindo assim força para agir
individual e coletivamente em defesa da
dignidade e da justiça, para enfim pôr os tiranos da caverna num outro lugar igualmente em penumbra, lugar esse que deve
ser o destino deles : após o devido
processo legal, sem anistia, a cela de uma cadeia.
( este livro é
apenas uma sugestão)
Um dos “bons
conselhos” de Foucault para uma vida não-fascista : “nunca se apaixone pelo
poder”. Como ensina Espinosa, poder ( do latim “potestas” ) não é o mesmo que
potência ( “potentia”).
quinta-feira, 14 de março de 2024
A porta de Marielle
No Museu da Maré
há um espaço dedicado a Marielle Franco. Na exposição que leva seu nome, foi
escolhido um objeto singular para nos fazer lembrar a vereadora: a porta do seu
gabinete .Em sua atuação política, Marielle costumava colar mensagens na porta
, além de sempre mantê-la aberta àqueles que vinham procurar por sua ajuda.
Pela ação de
Marielle , aquela porta continha uma potencialidade de sentidos. E
“potencialidade de sentidos” é o outro nome pelo qual atende a poesia enquanto
prática de ressignificar as coisas e o mundo.
Pois poesia não
é só versos: poesia também é produção de sentidos que podem transformar uma
simples porta em um agente coletivo de enunciação . Transportada então para o
interior do Museu da Maré, aquela porta se tornou um símbolo-mensagem do
próprio ser de Marielle: porta aberta, receptiva, como seu sorriso.
Não por acaso,
na mitologia era sob uma porta aberta, espaço de travessias, que se manifestava
Hermes, a divindade associada à comunicação das mensagens que requerem a
prática da interpretação.
Em grego,
“interpretação” se escreve “hermenêutica”: “arte relativa a Hermes”. Mensagem
não é a mesma coisa que informação. “A capital do Brasil é Brasília”, “dois
mais dois é igual a quatro”, tais coisas não são mensagens. Mensagem é tudo
aquilo cujo sentido requer a atividade de interpretação: “A palavra abriu o
roupão para mim: ela quer que eu a seja”, este verso de Manoel de Barros não é
informação, é mensagem. “O homem é um ser político”, outra mensagem. Mensagens
não são para se decorar ou reproduzir, mensagens existem para despertarem nosso
pensar e nosso sentir , para assim aprendermos a ler mais do que frases ou
palavras: crítica e criativamente, aprendermos a ler também o mundo.
Nem sempre
mensagens se vestem com palavras, às vezes as mensagens vêm inscritas nas
coisas ou são as próprias coisas portando sentidos a serem interpretados.
A porta de
Marielle é mensagem que simboliza o sentido da travessia e da abertura ao
outro, sobretudo ao outro que é marginalizado, injustiçado, explorado,
perseguido.
Os Museus Casas
são espaços que já foram residência, quase sempre palácios e mansões (em geral
de gente oriunda da elite) . O museu Casa de Rui Barbosa, por exemplo, foi a
casa de verdade de Rui Barbosa.
Mas pessoas do
povo como Cartola, Nelson Sargento, Lima Barreto, Maria Carolina de Jesus, e
tantos outros, não tiveram casa para ser patrimônio musealizado. A casa deles é
a favela, a cultura popular, a criatividade e a inventividade do povo que luta.
A porta de
Marielle é parte de uma casa assim: uma casa plural, aberta,
heterogênea...espaço de resistência à Casa-grande f-a-s-c-i-s-t-a.
Exatamente há seis
anos, 14/3/2018, Marielle foi assassinada. Mas a porta que ela simboliza ,
enquanto abertura à justiça, à educação e à cultura, esta porta nós não podemos
deixar fechar, nem sua luta esquecida.
E permanece a
pergunta a ser respondia: quem mandou matar Marielle ?
(Imagem: a porta de Marielle e suas mensagens)
Este texto da postagem é parte de um artigo que escrevi:
Link para a Dissertação de Mestrado de Marielle:
Uma visita virtual ao Museu da Maré e sua exposição sobre Marielle:
sexta-feira, 8 de março de 2024
Sofias...
A filosofia não
nasceu na Grécia. Ela foi deixada lá ainda criança, como aqueles bebês
deixados à porta de alguém que inspira
confiança. Inclusive, a tez da filosofia é mais escura e mestiça do que a
branca pele grega.
Há quem diga que
seus pais eram Egípcios, povo da África
ancestral; outros afirmam que foram sábias gentes do Oriente que a conceberam; e há quem defenda ainda que os
pais da filosofia foram os nômades do deserto que se guiavam pelas estrelas e
que nenhum império , por mais que
tentasse, conseguiu prender e escravizar .
A porta em que a
filosofia foi deixada para ser cuidada pertencia à casa de um ser humano digno chamado Tales, morador de Mileto.
Tales deu o nome
de Sofia à criança, dedicando-lhe amor e
amizade. Em grego, amor e amizade se escrevem assim: “philo”.
Tales criou Sofia
e a ensinou a ficar de pé, nunca de joelhos. Com Heráclito , Sofia aprendeu a
brincar; com Nietzsche, a dançar; e a
fazer-se mais viva Sofia aprendeu com Espinosa, diante dos obscurantistas que a querem morta.
(Neste Dia Internacional de Luta das Mulheres , este livro sobre Sofias é uma boa sugestão)
sábado, 2 de março de 2024
Midas
Midas era um
homem que alimentava por dentro uma ambição desmedida por posses , dinheiro
e poder.
Querendo
aparentar ser o que não era, certa vez Midas
ajudou um homem em dificuldades , e a essa ajuda Midas deu grande publicidade, querendo dela extrair
popularidade.
Parecia que ele
se preocupava com o outro, mas na verdade ele estava usando o outro como meio
de obter fama, poder.
Dioniso viu
Midas ajudando o homem em dificuldades , pensou que ele agia por genuína bondade e quis recompensar Midas dando-lhe o poder de
realizar seu mais íntimo desejo. É no que mais se deseja que cada um revela
como é por dentro.
Midas então
revelou em seu pedido o quanto era pobre interiormente: seu desejo era que
virasse ouro tudo o que tocasse. Midas imaginava que assim teria a felicidade.
Dioniso
compreendeu que Midas não era por dentro como aparentava ser por fora. Mas
realizou seu mesquinho desejo, pois sabia que dali viria uma lição, ainda que
dolorosa.
Assim, sob o
toque ganancioso de Midas viravam ouro a
colher, a mesa, a cadeira, o copo...Mas viravam ouro também , uma estátua de
ouro, alguém que ele abraçava, o cão que
ele afagava, o passarinho que vinha pousar na sua mão...
Para seu desespero, igualmente virou estátua de frio ouro seu filho recém-nascido que ele pegou no colo . Depois,
viravam ouro a água, o arroz, a carne, a
maçã, o pão...antes que Midas pudesse matar a fome e saciar a sede.
Aflito, Midas
suplicou conselhos a um sábio,
ajoelhando-se de cabeça baixa e
segurando sua mão. Diante do silêncio do sábio, Midas levantou a cabeça e viu apenas uma estátua boquiaberta. Midas então chorou, e de longe eram ouvidas suas lágrimas quicando no chão como moedas.
Midas descobria
assim que a loucura por acúmulo é a
pior das misérias...Então, ele
busca Dioniso e pede uma cura para aquela pobreza de apenas no ouro ver riqueza.
Dioniso conduz
Midas até um rio que passava perto de uma aldeia pobre e o lava no fluxo de
suas águas. O rio ficou repleto de pepitas de ouro que Dioniso partilhou com os necessitados. Midas enveredou por uma estrada e sumiu...
Passou o
tempo, todos pensavam que Midas já estivesse
morto. Até que um dia ele retorna. Vestia-se parecendo um andarilho,
tinha a companhia de um cãozinho vira-lata e estava pousado em seu ombro um
passarinho como se ali fosse um ninho.
Midas se
mostrava simples por fora, mas por
dentro parecia enfim rico. Tal riqueza
vinha da cura que lhe fez Dioniso, que escondeu uma das pepitas no peito de
Midas , e de ouro se tornou seu coração
renascido solidário.
Midas agora
parecia ter aprendido, praticando-a, esta
lição de ouro de Espinosa: "Nossa suprema felicidade consiste em realizar
apenas aquelas ações que o amor e a generosidade nos aconselham". (Ética,
Parte Dois, proposição 49, escólio)
“Poderoso, para
mim, não é quem descobre ouro. Para mim, poderoso é quem descobre as
insignificâncias”(Manoel de Barros). Em Manoel, “insignificâncias” são coisas cuja
riqueza é ignorada por aqueles que apenas ao dinheiro e ao poder dão importância.