sábado, 7 de agosto de 2010

passagem




Quem me pensava morto, destruído, acabado, vencido...
desconhece o que pode o meu escudo.
Não revido aos que a mim mostram o punho.
Mas firmemente me recolho ao que sou para ao alto tomar impulso.

Não estou onde você pensa,
nem caibo em sua mente definidora.
Nunca estou pronto: sou só rascunho.

Não me atrai ouro, título ou palavra que desperdiça o sentido.
Cativam-me gestos simples , pois só estes são amigos.
O camaleão é meu mestre.
E quem não fala de si, o monge que sigo.

Sou para fora, mas brotando de dentro.
Não conto quantos sou,
mas sei que sou muitos.

Já perdi quando ganhei,
e ganhei mesmo tendo perdido.
E tudo o que aprendi lhe ofereço,
e de graça,
pois mais falsa é a lição quanto maior for seu preço.

Não preciso mais ir,
pois já estou onde quero.
E preferiria a madeira mais simples ao mármore,
se fosse para me fazer esculpido.

Despi-me de toda leitura,
para em minha boca falar o simples.
Pois quem só diz palavra no que diz,
é porque já não nasce do coração o sentido.