quarta-feira, 23 de março de 2022

o poder teológico-político

 

Conforme argumenta Espinosa em seus livros sobre política, um dos maiores inimigos da democracia é o poder teológico-político.

O discurso  teológico  se apoia em um livro que considera sagrado: o Alcorão, para os muçulmanos; o Talmud, para os judeus; a Bíblia, para os cristãos.

Mas o  que fundamenta um Estado livre, ao contrário,  é que seu poder emana  de uma Constituição laica livremente instituída , podendo ser emendada ou substituída por outra mediante uma assembleia constituinte, obra humana, fato este que não pode acontecer com o Texto que fundamenta a teologia.

O poder democrático nunca é teológico, porém o poder teológico, saindo de sua esfera própria, às vezes  ambiciona ser político e ter poder , mas nunca será democrático. Ao contrário, o poder teológico-político verá na democracia um inimigo a ser destruído em nome de Deus. Mas qual Deus? De qual religião?

 E aqui está o que revela a impossibilidade de um poder teológico-político se manter a não ser com a força ( não a de Deus, mas a das armas bem humanas, demasiado humanas...ou então a força do dinheiro distribuído eleitoreiramente pelo  miliciano aos seus cúmplices travestidos de pastores).

Na democracia, a Constituição é um texto que todos seguem , mesmo os que pensam diferente, como liberais e socialistas. Mas judeus, cristãos e muçulmanos seguem livros sagrados diferentes que lhes conferem uma identidade religiosa incomunicável com a religião diferente da sua .

Então, quando um poder teológico quer se tornar também poder teológico-político, ele quer na verdade não apenas desfazer a essência da política, que é pautar-se em uma Constituição livremente instituída que preserva a diversidade, como também quer afirmar-se como  religião única.

Assim, quando o poder teológico, saindo da esfera que lhe é própria ( a esfera subjetiva-privada) ,  quer se tornar também poder político , correm risco não apenas a democracia e os partidos, como também as outras religiões que, mais cedo ou mais tarde, também serão perseguidas . As outras religiões serão perseguidas logo depois de serem perseguidos artistas, filósofos, educadores, enfim, democratas.

O poder teológico-político , quando alcança o poder, traz para este certos dogmas inspirados em “gurus” ou “iluminados” que se creem governados diretamente por algum Deus  vingador, um Deus cheio de ódio, nunca o Deus do amor ( como aquele que São Francisco dançou...). Além disso, tal poder exigirá a força bélica de polícias e exércitos a serviço de seu delírio , pois um dos traços do poder teológico-político é a paranoia de ver o “Diabo Vermelho” em tudo...

E o alvo mais frequente desse tipo de poder é a educação pensante, libertária. Pois somente ela pode nos livrar desses oportunistas que lucram com o sofrimento e miséria  do povo.






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