Como se sabe, a palavra “filósofo”
tem por raiz o termo “philo”. Essa palavra vem de “philein”: “amar”. É por isso
que se diz: filósofo é quem ama a sabedoria ( Sofia).
Mas não se deve compreender philein como
um sentimento subjetivo-romântico. Era comum os filósofos pré-socráticos
afirmarem : “o vento ama soprar”, “a luz ama iluminar”...Esses exemplos mostram
que a ação de amar é um acontecimento que decorre da própria natureza do vento
e da luz. “Philein” é amar nesse sentido.
Esse acontecimento da luz amar
iluminar e do vento amar soprar não expressam uma escolha, e sim uma
necessidade. É essa necessidade que também nos faz compreender que nunca o
soprar do vento e o iluminar da luz poderiam nascer de um odiar. Quem faz o
que faz por necessidade sempre o faz amando.
E é assim que o filósofo deve amar o
pensar: por necessidade. Não se deve confundir necessidade com obrigação. O
vento não é obrigado a soprar, nem a luz a iluminar: eles o fazem por
necessidade, uma necessidade idêntica à liberdade. Pois a autêntica liberdade
não está em escolher entre isso ou aquilo, mas em realizar algo por
necessidade, amando. É soprando que o vento se afirma vento, é iluminando que a
luz se afirma luz.
Enfim, é soprando que o vento é livre, é iluminando que
a luz é livre. E é da mesma maneira que
deve ser livre o filósofo : vivendo o pensar com a mesma necessidade que o
vento vive o soprar e a luz o iluminar.
Não é o filósofo que projeta antropomorficamente
no vento e na luz esse amar; ao contrário, é a natureza que ensina ao filósofo como
ele deve amar o pensar: por necessidade, fazendo do pensar também Pneuma ( "Sopro") e Luz.
( esse texto é um comentário à
análise que Hadot faz do dizer de Heráclito: “ A natureza ama [philein]
ocultar-se.")
Um comentário:
Também existe amor no erotismo. Muito focado na percepção sensorial e numa estética ilusória; porque sob dominação do ego. É um amor, sim; regulado por apetites.
Tem amor na vida, como nas abelhas, por exemplo; serve e é servido em uma interação entre seres e necessidades várias. Atende parcialmente às necessidades que demandamos em nossa integralidade.
Tem amor truísta que se prova pela experiência de amar. É vivê-lo e sabê-lo. Recebemos e expandimos, numa potencialização universal.
Nenhum amor é, por si mesmo, bastante. Há complementaridade no amor. Há amor e o objeto desse amor, seja físico ou não. Seja você ou o que você sequer vê como você também, na relação de afeto e sentimento. Nenhum amor é reconhecido se não fala primeiro ao próprio ser.
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