Adão entrava na escuridão do sono toda vez que dormia. Certa vez,
porém, surgiu no meio do sono uma imagem difusa que aos poucos foi tomando forma, uma forma de mulher: era Eva.
Um dia Deus viu Adão falando sozinho enquanto
dormia. Deus entrou na alma de Adão e percebeu
que era com Eva que ele falava.
Tomando como modelo o que Adão via em
sua fantasia , Deus esculpiu tal imagem numa
das costelas de Adão. E assim ganhou corpo
Eva: a mulher surgida da fantasia
solitária de Adão.
Porém , antes de Eva houve Lilith, que
existia em igualdade com Adão. Lilith foi expulsa do jardim adâmico por
não aceitar submeter-se
ao poder de Adão.
E foi assim que Adão sonhou alguém para moldar à sua maneira e suprir seu
desejo de dominação frustrado .
Eva nasceu do desejo de Adão, ao
passo que Lilith era outro desejo tão real quanto o de Adão : Lilith era plena realidade , e não mero apêndice do
homem. Lilith não nasceu do sonho de
poder de Adão, pois ela era a realidade de outro desejo em sua liberdade.
Antes de Eva não havia apenas Adão e
Lilith, também existia o Amor.
Mas julgando que o Amor inspirava em Lilith o desejo de liberdade e
igualdade, Adão estigmatizou o Amor com a
culpa.
Lilith foi então expulsa
, para que da costela do homem fosse esculpida a mulher dos sonhos de todo
patriarcado : “bela, recatada e do lar”.
Mas Lilith , tal como Afrodite, fazia nascer flores onde
pisava: mesmo quando atravessava
desertos , nasciam jardins de suas
pegadas, pois o Amor a fecundou antes de
ela ser , como Espinosa, excomungada.
Por isso, onde quer que Lilith vá ,
um jardim libertário nasce dela e cobre de vida a terra. Desse jardim brotam mais do que flores: nascem lutas por direitos.
Desse jardim lilithiano nasceram
flores singulares com nomes
variados : Rosa de Luxemburgo, Frida Kahlo , Lhasa de
Sela, Lou Salomé, Nina Simone, Josephine
Baker, Simone de Beauvoir, Tia Ciata, Dandara, Carolina de Jesus, Elza, Marielle...
E outras continuam a florescer , Lilith
mais viva do que nunca.
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