quinta-feira, 3 de março de 2022

diferença entre estender e horizontar

 

Um dos mais famosos teóricos dos meios de comunicação foi McLuhan. Quando eu fazia faculdade, ele era uma espécie de “celebridade” midiática-acadêmica.

Ele formulou a ideia, que aqui simplifico, de que os meios de comunicação “estenderam”  os órgãos de percepção do homem. Com isso, o mundo teria ficado  menor, quase uma “aldeia”.

Por exemplo, o rádio estendeu a voz, de tal modo que o rádio leva nossa voz a ir muito mais longe do que a mera voz que sai de nossa boca. A tevê, por sua vez, estendeu “nossa” visão: em cada parte do mundo a visão pode estar.

Porém, McLuhan  não percebeu que uma coisa é diminuir a distância no espaço entre nossa voz e olhos e a realidade que eles podem alcançar, e outra coisa bem diferente  é dotar nossos olhos com a capacidade de enxergar e nossa voz com a potência de ter realmente o que falar.

E há outro aspecto relacionado com esse primeiro: os olhos estendidos da televisão não são os nossos, a voz estendida do rádio não é a nossa voz. A visão da tevê é a visão do seu dono e proprietário, isto é , o poder do capital e seus interesses. Uma visão assim nos quer mais  cegos do que realmente acontece no mundo do que nos quer enxergando; e a voz estendida do rádio comercial também não é a nossa voz , e muitas vezes essa voz do capital  nos quer calar.

McLuhan viu apenas o começo da internet, porém ele vislumbrava que os computadores  estenderiam nosso próprio cérebro.

Hoje, a internet incorporou voz e olhos ao cérebro cibernético , de tal modo que o mundo virtual se tornou o cérebro, os olhos e a voz de grandes interesses que querem nos alienar do pensar ,com isso nos calando e cegando.

Pensar não é uma questão de algoritmo, mas de inquietação e questionamento acerca da visão e voz que o cyberpoder veicula como se fossem as nossas. Pois o mundo não  ficou menor em sua riqueza e variedade, são  nosso pensar e ver que foram apequenados, reféns de “bolhas”.

De fato, os meios de comunicação estenderam os órgãos da sensibilidade e até mesmo o cérebro. Mas estender não é a mesma coisa que ampliar. Com a  visão teleguiada até às entranhas do local  da guerra não significa que  estejamos  vendo de verdade o que é a guerra, o seu horror e o pérfido jogo de interesses, inclusive o  jogo de interesses de uma mídia que tem lado: o lado do capital alienante-predador.

O que amplia nossa  visão ,  audição,  voz e  pensar são a filosofia, a sociologia , a história, as artes, a literatura... bem como ouvir quem tem experiência de vida, sabendo conjugar crítica, criatividade, afeto, conhecimento e , sobretudo, amor incondicional à vida, assim nos educando. 

Como ensina Manoel de Barros, somente o  pensar e o sentir  críticos e criativos nos horizonta, pois nos coloca próximos existencialmente da vida, aqui e agora. 


(imagem: “Guernica”/Picasso)





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