Um dos mais famosos teóricos dos
meios de comunicação foi McLuhan. Quando eu fazia faculdade, ele era uma
espécie de “celebridade” midiática-acadêmica.
Ele formulou a ideia, que aqui
simplifico, de que os meios de comunicação “estenderam” os órgãos de percepção do homem. Com isso, o
mundo teria ficado menor, quase uma
“aldeia”.
Por exemplo, o rádio estendeu a voz,
de tal modo que o rádio leva nossa voz a ir muito mais longe do que a mera voz
que sai de nossa boca. A tevê, por sua vez, estendeu “nossa” visão: em cada
parte do mundo a visão pode estar.
Porém, McLuhan não percebeu que uma coisa é diminuir a
distância no espaço entre nossa voz e olhos e a realidade que eles podem
alcançar, e outra coisa bem diferente é
dotar nossos olhos com a capacidade de enxergar e nossa voz com a potência de
ter realmente o que falar.
E há outro aspecto relacionado com
esse primeiro: os olhos estendidos da televisão não são os nossos, a voz
estendida do rádio não é a nossa voz. A visão da tevê é a visão do seu dono e
proprietário, isto é , o poder do capital e seus interesses. Uma visão assim
nos quer mais cegos do que realmente
acontece no mundo do que nos quer enxergando; e a voz estendida do rádio
comercial também não é a nossa voz , e muitas vezes essa voz do capital nos quer calar.
McLuhan viu apenas o começo da
internet, porém ele vislumbrava que os computadores estenderiam nosso próprio cérebro.
Hoje, a internet incorporou voz e
olhos ao cérebro cibernético , de tal modo que o mundo virtual se tornou o
cérebro, os olhos e a voz de grandes interesses que querem nos alienar do
pensar ,com isso nos calando e cegando.
Pensar não é uma questão de
algoritmo, mas de inquietação e questionamento acerca da visão e voz que o
cyberpoder veicula como se fossem as nossas. Pois o mundo não ficou menor em sua riqueza e variedade,
são nosso pensar e ver que foram
apequenados, reféns de “bolhas”.
De fato, os meios de comunicação
estenderam os órgãos da sensibilidade e até mesmo o cérebro. Mas estender não é
a mesma coisa que ampliar. Com a visão
teleguiada até às entranhas do local da
guerra não significa que estejamos vendo de verdade o que é a guerra, o seu
horror e o pérfido jogo de interesses, inclusive o jogo de interesses de uma mídia que tem lado:
o lado do capital alienante-predador.
O que amplia nossa visão ,
audição, voz e pensar são a filosofia, a sociologia , a
história, as artes, a literatura... bem como ouvir quem tem experiência de
vida, sabendo conjugar crítica, criatividade, afeto, conhecimento e ,
sobretudo, amor incondicional à vida, assim nos educando.
Como ensina Manoel de Barros, somente
o pensar e o sentir críticos e criativos nos horizonta, pois nos
coloca próximos existencialmente da vida, aqui e agora.
(imagem: “Guernica”/Picasso)
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