Há forças dominantes e dominadas. A
diferença entre dominante e dominada se estabelece em razão da quantidade de
força. As dominantes têm mais força, as dominadas o têm menos. Força em relação a quê? Força como
capacidade de dominar outra força, fazendo-se “vencedora”.
Assim, o estado natural das forças é estarem
em luta. Esse modelo
quantitativista vale para tudo o que é
força, incluindo as forças políticas e
até mesmo as forças psíquicas, pois certas ideias dominam nossa mente pela
força que têm em vencer outras ideias. Mas uma ideia que vence pela força ,
como “ideia fixa”, não significa exatamente que ela nos torna pensadores...
Dessa diferença quantitativa entre as
forças surge uma distinção qualitativa: as forças dominantes serão chamadas de
“ativas”, ao passo que as dominadas serão as “reativas”. Mas as reativas-dominadas podem enfraquecer as ativas-dominantes , contaminando-as com
reatividade : é o que pode acontecer quando a força ativa busca apenas se
manter no poder, submetendo-se a “alianças”
com as forças reativas. A busca pelo poder alterna, às vezes com tons de
comédia noutras de tragédia, dominantes e dominados.
Seria
isto então ser “poderoso”: ser dominante a todo custo, não importando
por quais meios?
A
potência não é a mera força. Para
que a força se metamorfoseie em potência é preciso que nela nasça um
querer, um “minadouro do criar”, como
diz Manoel de Barros.
A potência não é
quantidade ou qualidade: ela é intensidade, e aprende a doar força aos
que não a tem, sem pedir
força-obediência em troca, pois força não lhe falta, transborda.
Esse querer que metamorfoseia o mero
poder em potência precisa ser , no
entanto, conquistado: ao modo como um pintor conquista as tintas, ou um músico
os sons, ou o albatroz o ar sobre o qual aprende a voar.
Não raro, é ao preço de derrotas que
se conquista essa força-potência : "A força de um artista vem das suas
derrotas", ensina Manoel de Barros.
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