sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Manoel: força e potência

 

Há forças dominantes e dominadas. A diferença entre dominante e dominada se estabelece em razão da quantidade de força. As dominantes têm mais força, as dominadas o  têm menos. Força em relação a quê? Força como capacidade de dominar outra força, fazendo-se “vencedora”.

 Assim, o estado natural das forças é estarem em luta.  Esse modelo quantitativista  vale para tudo o que é força, incluindo  as forças políticas e até mesmo as forças psíquicas, pois certas ideias dominam nossa mente pela força que têm em vencer outras ideias. Mas uma ideia que vence pela força , como “ideia fixa”, não significa exatamente que ela nos torna pensadores...

Dessa diferença quantitativa entre as forças surge uma distinção qualitativa: as forças dominantes serão chamadas de “ativas”, ao passo que as dominadas serão as “reativas”. Mas as   reativas-dominadas  podem enfraquecer  as ativas-dominantes , contaminando-as com reatividade : é o que pode acontecer quando a força ativa busca apenas se manter no poder, submetendo-se a  “alianças” com as forças reativas. A busca pelo poder alterna, às vezes com tons de comédia noutras de tragédia, dominantes e dominados.

Seria  isto então ser “poderoso”: ser dominante a todo custo, não importando por quais meios?

A  potência não  é a mera força. Para que a força se metamorfoseie em potência é preciso que nela nasça um querer,  um “minadouro do criar”, como diz Manoel de Barros.

A potência  não é  quantidade ou qualidade: ela é intensidade, e aprende a doar força aos que não a tem,  sem pedir força-obediência em troca, pois força não lhe falta, transborda.

Esse querer que metamorfoseia o mero poder em potência  precisa ser , no entanto, conquistado: ao modo como um pintor conquista as tintas, ou um músico os sons, ou o albatroz o ar sobre o qual aprende a voar.

Não raro, é ao preço de derrotas que se conquista essa força-potência : "A força de um artista vem das suas derrotas", ensina Manoel de Barros.






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