Na entrada de sua Academia, Platão afixou a seguinte placa:
“Não entre aqui quem não for geômetra”. Isso porque na Academia só se estudavam
coisas exatas: artes e poesia eram barradas na porta.
Já Aristóteles criou o “Liceu”.
Aristóteles preferia a biologia à matemática, e dizia que na natureza impera também uma Ordem, não menos
que na matemática. Para provar sua teoria, Aristóteles recolhia do
jardim flores de uma mesma espécie e
dizia: “apesar de cada indivíduo ser diferente, todos nasceram de um mesmo
molde : tudo o que existe se subordina a um Padrão". Quando algum aluno
mais curioso e questionador aparecia com uma flor única e rara, Aristóteles
tomava a flor da mão do aluno e atirava no lixo, dizendo que a diferença e a
singularidade eram um erro , uma anomalia da natureza.
Havia um ponto comum entre Platão e
Aristóteles: suas escolas ficavam perto do centro da cidade, próximas ao
mercado.
Muito diferente era a escola dos
estoicos, cujo nome se origina de
“stöa”: “portal”. Esse nome expressava o lugar no qual os estoicos abriam suas
escolas: como as cidades no passado eram muradas, os estoicos escolhiam abrir
suas escolas perto do portal da cidade, lugar de passagens e aberturas. Segundo
eles, deve ser isto a educação: um lugar de abertura para vencermos os muros que limitam e cerceiam. A escola estoica era uma abertura ao cosmos, ao outro,
ao corpo, enfim, à diferença: perto da Vida incercável, longe do mercado que em
tudo põe um preço.
Epicuro, por sua vez, ensinava em
jardins. Em vez de construir jardins em prédios de escola, Epicuro fazia dos
jardins uma escola. Enquanto Aristóteles
impunha um Padrão, Epicuro ensinava aos
alunos a verem as coisas únicas . Aristóteles alfinetava num quadro borboletas
mortas, ao passo que Epicuro caminhava
com seus alunos por entre borboletas voando livres. E a flor diferente que Aristóteles jogava fora e
expulsava de sua Ordem Homogênea, Epicuro a salvava e cuidava, e com ela
ensinava sobre a diferença. Ser educador, para Epicuro, era ser uma espécie de jardineiro em cujo
jardim florescem flores raras.
Academia e Liceu são os nomes , até
hoje, das instituições de ensino. Mas e as práticas educacionais dos estoicos e
Epicuro, elas desapareceram? Foram extintas?
Creio que elas ainda permanecem vivas
quando recriadas nas práticas
educacionais libertárias que abrem portas e cultivam a heterogeneidade : para
que horizontamentos e jardins plurais
vivam ,e resistam, na sala de aula.
“Borboleta é uma cor que
avoa.”(Manoel de Barros)
( imagem: “Jardim florido com
caminho”/ Van Gogh)
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