Uma das palavras com origem mais bela
e rica é a palavra “companhia”. A raiz dessa palavra é “panis”, “pão”. Assim,
“companhia” é : “trazer consigo o
pão”. “Companheiros”: “aqueles que
dividem entre si o pão”.
Mas dizem que há dois pães: o que
alimenta o corpo e o que alimenta o
espírito. O pão que mantém o corpo vivo é feito de trigo, sal, fermento;
já o pão que alimenta o espírito é composto de ideias e afetos , que também são fermento. Sem esse
pão plural , o espírito morre de fome.
Os elitistas cinicamente defendem que
o povo quer apenas o pão que alimenta o corpo, e que ele já se contenta apenas
com as migalhas e sobras desse pão. Assim são as políticas eleitoreiras desses
cínicos : migalhas ao povo, para assim perpetuar a submissão.
Mas pensando com Espinosa essa
questão, não há dois pães, um material e outro espiritual, um materialista e
outro espiritualista. Há apenas um pão. O pão que alimenta o corpo é o pão
mesmo que alimenta o espírito, visto sob outra perspectiva; e o pão que alimenta o espírito é o pão mesmo
que alimenta o corpo, visto de outra perspectiva.
Não há economia separada da
política: inexiste diminuição da pobreza e da desigualdade sem
democracia e educação.
Quem acumula o pão material e não o
divide, também é quem imagina que cultura e artes são só para a elite. Por
outro lado, partilha de verdade o pão que alimenta o espírito quem age
concretamente para que, socialmente, seja partilhado o pão que alimenta o corpo
.
Partilhar o pão que alimenta o corpo
não é dar esmola, muito menos restos e sobras. Por mais ricos e belos que sejam
os pães que alimentam o espírito, este deve ficar indignado e ainda com fome, fome de justiça, enquanto
houver um outro ser humano procurando comida no lixo.
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