segunda-feira, 11 de outubro de 2021

as rosas de Cartola

 

Segundo o filósofo Heidegger, o mundo atual confunde o “diminuir a distância” com o “criar proximidade”. A tecnologia diminui as distâncias, sem dúvida. Mas uma coisa é diminuir a distância entre seres no espaço, outra bem diferente é criar proximidade com o sentido das coisas, pois tal sentido também é arte, afeto.

Esse sentido nem sempre está dado, às vezes precisa ser descoberto ou mesmo inventado.

O telescópio diminui a distância entre a lua e nossos olhos, isso é fato. Porém, quando lemos Manoel de Barros falando sobre a lua em suas poesias, o poeta não põe a lua perto de nós no espaço, porém ele a põe a tal ponto próxima que, empoemando-nos, experimentamos seu sentido também em nós, no "devir-lunar" que nos tornamos.

Quando Cartola diz que “as rosas não falam”, qual o sentido dessas rosas? O que elas têm que não têm as rosas que pomos em jarros? Um dia estas últimas murcham, como tudo aquilo que a arte não salva; mas nunca morrem as rosas que a canção de Cartola nos põe próximos . Essas rosas que vencem  a morte também nos ensinam a resistência.


Este texto é uma pequena homenagem ao grande  poeta Cartola, que faria aniversário hoje!


( foto roubartilhada de Enrico Rocha . Certa vez, as forças repressoras, forças da tristeza, queriam acabar com uma roda de samba. Elegantemente, mas firme, Cartola resistiu. Viva Cartola!)














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