A palavra “clínica” significa:
“chegar perto, debruçando-se”. O bom médico é sempre um clínico: ele chega
perto para melhor envolver de cuidados o corpo e a mente de quem ele cuida, para fortalecer a saúde e pôr
longe a doença.
O mau médico , ao contrário, não
envolve e nem chega perto : mantém o
paciente à distância, reduzindo-o à
condição de objeto , como meio para acumular dinheiro ou fazer “inumanas
experiências”, como no nazismo e na
Prevent Senior, cúmplice do genocida.
Já a palavra “crítica” vem do ato de
“avaliar”, enquanto prática de
estabelecer o valor das coisas e se posicionar.
A clínica complementa a crítica e
impede que esta seja apenas uma atividade reativa de destruir ou negar: “só
podemos destruir sendo criadores”, ensina clinicamente Nietzsche.
O bom médico destrói a doença
afirmando a saúde: é em favor da saúde que ele age e se posiciona, pois diante
da doença torna-se cúmplice dela quem crê em neutralidade. O mesmo se aplica às doenças políticas que
põem em perigo a saúde democrática.
A arte e a filosofia nada são se não
forem , antes de tudo, práticas críticas e clínicas. A autêntica crítica , enquanto avaliação da
vida, também tem que ser clínica : criação curativa de novos modos de vida.
Filosofia e artes são críticas e
clínicas quando nos envolvem com ideias e afetos que , além de nos ensinar e
afetar, também são remédios que fortalecem nossa saúde, tanto a do corpo quanto
a do espírito. Pois saúde é potência
crítica e clínica, como arte de avaliar e criar .
Deleuze é filósofo-oftalmologista : ele nos ensina a ver melhor tanto o que está perto
quanto o que está no horizonte, o micro e o macro.
Nietzsche é filósofo-fisioterapeuta: ele cuida da potência
do corpo, para que este possa livremente andar, correr ou dançar, nunca
aceitando se prostrar de joelhos.
Bergson é filósofo-pneumologista: ensina nosso pulmão a
encontrar o ar do possível , para que a gente não sucumba ante realidades
sufocantes.
Fernando Pessoa é poeta-cardiologista: com ele aprendemos que o coração também pensa.
Clarice é escritora-fonoaudióloga: prepara nossa
garganta para que por ela falem vozes que a gente nem sabia que tinha.
Espinosa é filósofo-nutricionista: potencializa o saber enquanto sabor que descobre o gosto
que cada coisa tem: se é alimento ou veneno, bom ou mau.
E Manoel de Barros é
poeta-pensador-clínico geral: empoemando-nos, sua poesia nos auxilia a
manter nossa saúde vital em dia,
pois só com a saúde em dia temos força para lutar.
“A literatura é uma saúde.”(Deleuze)
“Mesmo muito doente, jamais fui
doentio.”(Nietzsche)
“Os delírios verbais me terapeutam.”
(Manoel de Barros)
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