quarta-feira, 6 de outubro de 2021

novo livro sobre Manoel de Barros

 

 

Segundo o filósofo Deleuze, e aqui ele segue as lições de Espinosa, o pensar é uma potência imanente em cada um de nós. Porém, essa potência somente é descoberta  e exercida quando algo acontece suspendendo os roteiros , desdizendo as cartilhas, pondo em dúvida costumeiros  credos.  

Não que o pensar seja para poucos, porém não são muitos os que são despertados por ele, às vezes mais às custas de derrotas do que de vitórias, mais na dor do que na alegria. Mas quem pelo pensar é desperto, age para que ele desperte também os outros, e isso não se faz sem  alegria. 

Manoel de Barros parece concordar com Deleuze quando diz que  o inimigo maior do pensar é o “mesmal”. O “mesmal” nasce da mente acostumada, dos olhos acostumados, enfim, do viver acostumado.

O mesmal leva o homem a se  acostumar  não só com os hábitos, mas também com a torpeza que o cerca, com a ignorância que o ameaça e até mesmo com o fascismo que já pisoteou seu jardim e agora bate à porta,  querendo  arrombá-la.

Manoel criou um verbo como antídoto para o mesmal: é o “empoemar-se”. Mas  empoemar-se não é exatamente passar o dia lendo ou escrevendo poesia, tampouco entregar-se a narcisismos  líricos.

Empoemar-se é mais do que ler versos, empoemar-se também é  educação, ética e ação política. Empoemar é um verbo que se conjuga em várias pessoas , em diversos tempos, em diferentes flexões, sempre como ato libertário. A “poética” de Manoel é, na verdade, uma “empoética” para ser não apenas lida: é para ser feita ,  vivida.

O conhecimento   empoema a mente; a liberdade  empoema a ação; a  música empoema o som; pintar empoema as tintas; a saúde empoema o corpo; o ir adiante empoema os passos; o horizonte empoema a visão; o doar empoema a mão;  enfim,  o pensar empoema  a existência .

E mesmo a vida talvez  tenha surgido no planeta como  um  empoemar-se da própria natureza   criando-se como arte,  diferenciando-se   do mesmal das leis físicas.

O empoemar não é definível apenas em palavras  , ele se explica sendo produzido  no mundo, na vida : subvertendo o mesmal onde quer que ele esteja.

 

“Interpretar não é falar de algo, interpretar é falar com algo ( a partir de nós mesmos)." ( Pareyson)






-Escrevi um capítulo para este  livro sobre Manoel de Barros lançado recentemente. Como  professor e filósofo,  falar com Manoel é sempre um aprendizado para mim. O livro pode ser baixado gratuitamente aqui:

https://omp.ufgd.edu.br/omp/index.php/livrosabertos/catalog/view/335/266/2497-4?fbclid=IwAR15PEARnlI7ZjWn5WqelYc45Jw3PR1YfWj3nOIREqt64nv78TtNpED5K4w

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