Se em uma prova de ciências alguém
afirma que “a terra é plana” e leva zero , ele não pode contestar a nota
alegando que o professor está cerceando o seu direito à “liberdade de ter uma
opinião”. Afirmar que “a terra é plana” não é uma opinião, e sim uma ignorância
em relação ao conhecimento adequado acerca da terra. Se alguém fala ou escreve
algo que discrimina uma pessoa ou uma minoria e é processado por isso, esse
alguém não pode dizer que o processo está limitando o seu direito à “liberdade
de ter uma opinião”, pois emitir um preconceito ou injúria não é ter uma
opinião, e sim mostrar-se um criminoso. O direito a ter e proferir livre
opinião é a base ética, política e jurídica da democracia. Mas há um aspecto
desse direito que nem sempre é esclarecido. E esclarecer é prática pedagógica
que desfaz obscurantismos ( “es-clarecer” vem de “es-claro”: “tornar mais
claro” ). O direito à liberdade de opinião é universal quanto à forma e não
quanto ao conteúdo, pois há conteúdos que alguém diz ou escreve que não podem
ser universalizáveis, já que se revelam erros, preconceitos, intolerâncias ou
mesmo crime.
Para Espinosa, por exemplo, pensar
não é apenas um direito formal à opinião : pensar também é o que expressamos no
conteúdo do que escrevemos ou falamos. O direito à livre expressão da opinião
existe em relação a algo que o deve preceder: que é a atividade de pensar. E
pensar é a união de uma forma com um conteúdo, pensar é a união da linguagem
com as ideias. As ideias são o conteúdo daquele que pensa e age. O pensar é o
antídoto para as ignorâncias, sobretudo para aquelas que se mascaram de
opinião.
O fascismo é uma ignorância que surge
no início como opinião, travestindo-se como direito à liberdade de opinião. O
perigo é quando os assim ignorantes tomam o poder do Estado, sobretudo se for
pelo voto. Pois o voto que os elegeu apenas na forma é voto, já que seu
conteúdo é o ódio à democracia e, mais profundamente, ódio ao pensar , ódio às
ideias. O fascismo se vale dos mecanismos formais da democracia , como a
eleição e o voto, para logo em seguida mostrar o que ele é em termos de
conteúdo: ódio à democracia, ausência de ideias. O fascismo teme as ideias
porque é delas que vem a força que lhe resiste e denuncia . E a maneira que o
fascismo tem de se defender não é argumentando pautado em ideias, mas
empregando a única força que ele conhece: a força da ameaça, do amordaçamento,
enfim, a força da polícia ( incluindo as polícias do pensamento).
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