“Inventar” se aplica
a coisas. Celular ,
automóvel, relógio ... existem
porque foram inventados. Já o “criar” é uma arte, no sentido bem amplo da
palavra. Não só um poema ou uma música
são criados, pois também dizemos: “criei um filho”, e não
“inventei um filho”; ou “criei um laço de amizade”, e não “inventei um laço de
amizade”; ou “criei novas possibilidades para minha vida”, e não “inventei
novas possibilidades para minha vida”. Assim falamos porque há uma percepção em
nós, ainda que inconsciente, de que existir é criar e criar-se, ao passo que é
coisa de rebanho viver mecanicamente, mesmo que cercado de máquinas
tecnológicas . Um celular por exemplo, apesar de fruto da invenção tida por avançada e
moderna, pode ser usado a serviço de uma
mentalidade retrógrada ( como vemos nos protofascismos on line). Não raro, essa mesma mentalidade retrógrada tem em uma
das mãos um celular e na outra um revólver ( o número do novo partido do bozo é, não por acaso, "38"...). Isso acontece porque a inventividade produz apenas coisas; e
as coisas podem virar instrumento de
propagação e poder de mentalidades mórbidas. Já a criatividade
produz ideias: ideias para pensar , agir
e sentir. As ideias são a vida e a saúde de uma sociedade que cria a
si própria , aberta e pluralmente. O mero inventar nos faz digitadores,
telespectadores, consumidores, enfim, apertadores de botão e teclas; já a
criatividade nos impele a sermos
pintores, poetas, escultores, enfim, atores de nossa própria vida, pessoal e coletiva. É sobretudo essa
potência criativa imanente , pluri e multicolorida, o alvo deste
Estado-Pastor que quer reduzir tudo ao preto e branco, azul ou rosa . Em
todo totalitarismo , não importa se político , comportamental ou acadêmico, são
sempre os criativos os que sofrerão as maiores consequências. E são sempre
deles, e neles, que nascem e perseveram as resistências.
- Este texto é parte de uma fala que
farei neste evento da Universidade Federal de Juiz de Fora:
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