Vida e política giram em torno desses três verbos: conservar,
transformar e revolucionar. O conservar é o credo dos conservadores, o
transformar é o interesse dos reformistas, o revolucionar é a prática dos
revolucionários. Os conservadores exaltam a Ordem e querem mantê-la, não
importando se ela é injusta; os reformistas querem mudança, mas negociada e sem
romper com a ordem estabelecida; já os revolucionários pensam e agem por criar
uma realidade nova, sem negociatas e concessões à ordem antiga. Os
conservadores são saudosistas, os reformistas são utilitaristas, os revolucionários são artistas ( cuja obra a criar é , sobretudo, um novo modo de vida) . O
conservador idolatra o passado, o reformista é refém do presente “líquido” , o
revolucionário age por um futuro que nos liberte do passado e crie um ‘fio de
Ariadne” que nos tire deste presente-labirinto protofascista , bárbaro,
fundamentalista, distópico, cínico, fratricida. O poder é sempre conservador; a lei é o
usual instrumento do reformista; porém
é o desejo de justiça que expressa a potência de todo revolucionário. Quando o conservador pensa em
arma, ele pensa na arma literal, destrutiva; já o reformista tem por arma a
política representativa; mas a arma do
revolucionário é a educação, a
cultura, a arte , o amor...pois em tudo
isso há política. A diferença entre o conservador e o revolucionário salta aos
olhos, porém nem sempre é evidente o que distingue o reformista do
revolucionário. Na boca de um e de outro sempre está uma palavra: o “possível”.
Mas reformistas e revolucionários não pensam a ideia de possível da mesma
maneira. No reformista, o possível é aquilo que se realiza, ao passo que no
revolucionário o possível é aquilo que se cria. Realizar não é a mesma coisa
que criar. O músico que toca no palco realiza a música que o compositor criou.
Já o compositor criou a música e assim a tornou real. O compositor-criador cria
uma realidade nova: a torna possível de ser tocada. O músico realiza essa
possibilidade que não existia antes de ser criada. O reformista realiza o possível de acordo com o que está
estabelecido em um real dado. Já o
revolucionário cria o possível ainda que o real dado lhe diga que é impossível
criar outras possibilidades de vida e de existência. O revolucionário não age a
partir de um possível, tampouco se ajoelha diante dos valores dados: o
revolucionário cria o possível mesmo quando, antes de sua criação, criar algo
novo parecia impossível de ser criado.
"Um pouco
de possível para não sufocarmos" (Foucault)
- este texto da postagem é parte de uma fala que farei neste evento ( na Universidade Federal de Juiz de Fora):
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