sexta-feira, 15 de novembro de 2019

conservar, transformar e revolucionar


Vida e  política giram  em torno desses três verbos: conservar, transformar e revolucionar. O conservar é o credo dos conservadores, o transformar é o interesse dos reformistas, o revolucionar é a prática dos revolucionários. Os conservadores exaltam a Ordem e querem mantê-la, não importando se ela é injusta; os reformistas querem mudança, mas negociada e sem romper com a ordem estabelecida; já os revolucionários pensam e agem por criar uma realidade nova, sem negociatas e concessões à ordem antiga. Os conservadores são saudosistas, os reformistas são utilitaristas, os revolucionários  são artistas ( cuja obra a criar  é , sobretudo, um novo modo de vida) . O conservador idolatra o passado, o reformista é refém do presente “líquido” , o revolucionário age por um futuro que nos liberte do passado e crie um ‘fio de Ariadne” que nos tire deste presente-labirinto protofascista , bárbaro, fundamentalista, distópico, cínico, fratricida.   O poder é sempre conservador; a lei é o usual   instrumento do reformista; porém é o desejo de justiça que expressa a potência de todo  revolucionário. Quando o conservador pensa em arma, ele pensa na arma literal, destrutiva; já o reformista tem por arma a política representativa; mas  a arma do revolucionário é   a educação, a cultura,  a arte , o amor...pois em tudo isso há política. A diferença entre o conservador e o revolucionário salta aos olhos, porém nem sempre é evidente o que distingue o reformista do revolucionário. Na boca de um e de outro sempre está uma palavra: o “possível”. Mas reformistas e revolucionários não pensam a ideia de possível da mesma maneira. No reformista, o possível é aquilo que se realiza, ao passo que no revolucionário o possível é aquilo que se cria. Realizar não é a mesma coisa que criar. O músico que toca no palco realiza a música que o compositor criou. Já o compositor criou a música e assim a tornou real. O compositor-criador cria uma realidade nova: a torna possível de ser tocada. O músico realiza essa possibilidade que não existia antes de ser criada. O reformista  realiza o possível de acordo com o que está estabelecido em um real dado. Já  o revolucionário cria o possível ainda que o real dado lhe diga que é impossível criar outras possibilidades de vida e de existência. O revolucionário não age a partir de um possível, tampouco se ajoelha diante dos valores dados:   o revolucionário cria o possível mesmo quando, antes de sua criação, criar algo novo parecia impossível de ser criado.

"Um pouco de possível para não sufocarmos" (Foucault)




- este texto da postagem é parte de uma fala que farei neste evento ( na Universidade Federal de Juiz de Fora):

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