quinta-feira, 28 de novembro de 2019

perto do perigo, longe do equilíbrio...


Segundo o filósofo Gilles Deleuze, tudo o que é  criativo e  potente  está sempre “longe do equilíbrio”. Isso vale para tudo o que tem vida, incluindo poemas e filosofias.  Toda  criação  coloca o criativo longe do equilíbrio, embora de pé e ainda mais vivo. Tudo o que experimenta a liberdade , ou por ela luta,  se coloca longe do equilíbrio. Mas o que explica o ato criativo  não é o estar longe do equilíbrio, e sim o estar perto do perigo. Este é o preço de se ser criativo: viver  perto do perigo, o que lhe deixa longe do equilíbrio ( “equilíbrio” que às vezes nada mais é do que adaptação resignada à realidade dada, sem agir para mudá-la) . Quem assim está longe do equilíbrio   se assemelha a um equilibrista que atravessa um abismo: o fio sobre o qual avança é a sua linha de fuga. Tal linha não começa de um ponto ou ego, ela nasce de um novelo do qual o fio é puxado. Uma ponta do fio que nos salva do abismo se desenrola do novelo do pensar ativo, ao passo que a outra ponta avança  se desterritorializando rumo ao horizonte aberto ,  presa a um dardo que deve ser  lançado com o máximo de força que pudermos .
                                                                                                         
(Foi em uma belíssima aula de Cláudio Ulpiano sobre Deleuze que ouvi pela primeira vez esta ideia: a filosofia, enquanto pensar ativo e criativo,  não pode sucumbir às  “cicutas” que sempre lhe querem dar os inimigos do pensamento que dominam em determinada época. O pensar ativo , que não pertence apenas ao filósofo-artista  mas a todo ser criativo,    deve ser como “um dardo lançado que atravesse as eras”)


"O Chapeleiro:
- Estou com medo, Alice. Não gosto daqui!
Minha cabeça está cheia...         
Será que sou louco?
Alice:
- Receio que sim...
Você é louquinho.
Mas vou lhe contar um segredo:
As melhores pessoas são."


(Lewis Carroll, Alice no país das maravilhas)

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