quarta-feira, 20 de novembro de 2019

epiteto, espinosa, dandara & zumbi


A filosofia não é apenas conceito ou teoria ,  ela  também é desejo de produção de um modo de vida não conformista  e  “não acostumado”, diria o poeta Manoel de Barros. Mais do que lições acadêmicas, alguns filósofos enfatizavam certas condutas a aprender. Assim é, por exemplo, a "exortação" nos estoicos , ou o “cuidado de si”  em Epicuro, ou ainda a "fortaleza" em Espinosa ( na língua banto, “fortaleza” é  “quilombo”). Com a redução da filosofia à  academia, talvez tenhamos perdido essa dimensão vital e existencial da filosofia , de natureza mais “clínica”  e política  do que erudita  e livresca. De todas as condutas filosóficas , talvez a mais necessária seja a “edificação”. É  Epiteto quem  identifica a filosofia à prática de edificação: quando ficamos  “sem chão e sem teto” , a edificação é a mais urgente  das artes a aprender, dela dependendo nossa sobrevivência em épocas de violência e barbárie, como foi aquela em que viveu Epiteto, muito parecida com os dias que correm.  Em toda edificação, seja a de um “edifício” ou a de nós mesmos,  é preciso perseverança para pôr de pé mais do que paredes, pois edificar não é erguer muros que isolam . Edificar é pôr de pé um espaço onde se habita,  se resiste, se agencia,  se partilha  o alimento ( tanto o pão quanto as ideias): para assim criarmos memória   da luta de ontem e renovarmos as forças para as lutas  de hoje e de amanhã.  Para Epiteto, "edificação" é o verdadeiro nome da educação autêntica, enquanto   arte de pôr-se de pé quando nos querem de joelhos.
Epiteto foi feito escravo em Roma , como aqui Dandara e Zumbi . A filosofia foi, para Epiteto, a sua Palmares: quando o poder quer nos  agrilhoar ( simbólica ou fisicamente ),   são Quilombos que precisamos edificar, dentro e fora da gente.






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