EMPÉDOCLES [1]
Empédocles viveu em uma
época na qual poesia e filosofia, imagem e conceito, ainda não haviam se
separado. Ao mesmo tempo poeta e filósofo, Empédocles era um pensador, um dos mais
extraordinários.
Platão e Aristóteles criticaram muito
Empédocles, sobretudo por dois aspectos: eles não aceitavam a visão de
Empédocles de que não existe nada acima e superior à natureza, e também
criticavam o fato de Empédocles ensinar que os Afetos não eram apenas estados
subjetivos, os Afetos também são Potências imanentes ao Cosmos.
Assim como a linguagem, a
natureza possui um alfabeto e uma
poética . O alfabeto da natureza é composto por quatro elementos-letras: terra, fogo, água e
ar. Esses elementos-letras são absolutos,
isto é, não se dissolvem ( ab-soluto: o que não é solúvel, o que não se
dissolve). Empédocles também chama terra, fogo, água e ar de as Quatro Raízes. Em
Empédocles, a Natureza é a poética desses elementos tecendo uma trama
rizomática.
Além desse alfabeto dos elementos, portanto, há a poética da
natureza que reúne essas letras , ou então volta a separá-las. A poética da natureza é realizada
por dois Afetos : o Amor e a Discórdia.
O Amor é uma força
cósmica que faz água, fogo, ar e terra vencerem suas solidões e se reunirem
para , juntos, formarem um novo ser, como uma nova palavra que reúne as letras.
Os seres vivos, as
estrelas, as galáxias, os seres humanos...tudo isso é a obra que nasceu da
poética amorosa da natureza que reuniu os elementos. “Amor”, aqui, não é o
mesmo que sentimento romântico, mas uma
força cósmica .
Já a Discórdia é outra
força cósmica, porém que separa os elementos e os faz existirem sozinhos, cada
um em sua solidão cósmica, cada um bastando a si mesmo.
Algumas traduções,
erradamente, empregam o termo “Ódio” em vez de “Discórdia”. Contudo, ódio é a
mera destruição , ao passo que discórdia se origina de “dis-cordis”: “cordis” é
“coração”. O contrário de discórdia é “concórdia”: “manter o coração junto”.
Assim , a discórdia não é
o ódio: a discórdia é a separação daquilo que o coração ( o amor) juntou. Em
geral, os que só odeiam são incazes de pôr o coração junto a alguma coisa...
Amor e Discórdia são
forças cósmicas necessárias à vida em seu processo infinito de , a partir de seu
alfabeto simples , criar sua poesia
múltipla, diversa e heterogênea.
O Amor não é o “Bem”,
tampouco a Discórdia o “Mal”, pois a
Discórdia não nega ou destroi os elementos, tampouco é inimiga do Amor . Não só
o amor tem sua razão de ser, também o tem a discórdia.
Não se aprende com o
primeiro Afeto sem compreender a necessidade do segundo. Nem há sabedoria em
apenas amar sem nunca discordar, pois na vivência do amor há muitas discórdias,
sem que disso nasçam ódios.
Contudo, para haver
discórdia é preciso que, antes, algo tenha se reunido por amor. Para que o
coração se retire de algo, é preciso que, primeiro, ele tenha feito parte desse
algo. Nesse sentido, o amor acrescenta nova vida à vida solitária dos
elementos, enquanto a discórdia desfaz essa nova vida e restitui os elementos à
sua solidão.
Em Heráclito, os elementos se combatem , porém a vitória é sempre a do Fogo, imagem-móvel do tempo que destroi e constroi. Em Empédocles, os elementos se reúnem ou se dispersam conforme os Afetos do Amor e da Discórdia que, imagem inversamente especular um do outro, se complementam e se necessitam eternamente.
“O tom de sua fala! Em
cada sílaba
soavam todas as melodias!
E o espírito
que animava suas palavras
– gostaria de sentar-me
horas a fio a seus pés,
discípula
e criança, contemplar o Éter
,
e alegrar-me com ele, até
minha alma perder-se
no céu que lhe pertence!”
( Trecho do poema “A
morte de Empédocles”, de Hörderlin)
( Este livro é apenas uma sugestão)
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