segunda-feira, 17 de junho de 2024

Empédocles

 

                                                            EMPÉDOCLES [1]

 

Empédocles viveu em uma época na qual poesia e filosofia, imagem e conceito, ainda não haviam se separado. Ao mesmo tempo poeta e filósofo, Empédocles era um pensador, um dos mais extraordinários.

 Platão e Aristóteles criticaram muito Empédocles, sobretudo por dois aspectos: eles não aceitavam a visão de Empédocles de que não existe nada acima e superior à natureza, e também criticavam o fato de Empédocles ensinar que os Afetos não eram apenas estados subjetivos, os Afetos também são Potências imanentes ao Cosmos.

Assim como a linguagem, a natureza possui um alfabeto  e uma poética . O alfabeto da natureza é composto por  quatro elementos-letras: terra, fogo, água e ar. Esses elementos-letras  são absolutos, isto é, não se dissolvem ( ab-soluto: o que não é solúvel, o que não se dissolve). Empédocles também chama terra, fogo, água e ar de as Quatro Raízes. Em Empédocles, a Natureza é a poética desses elementos tecendo uma trama rizomática.

Além desse alfabeto  dos elementos, portanto, há a poética da natureza que reúne essas letras , ou então volta a  separá-las. A poética da natureza é realizada por dois Afetos : o Amor e a Discórdia.

O Amor é uma força cósmica que faz água, fogo, ar e terra vencerem suas solidões e se reunirem para , juntos, formarem um novo ser, como uma nova palavra que reúne as letras.

Os seres vivos, as estrelas, as galáxias, os seres humanos...tudo isso é a obra que nasceu da poética amorosa da natureza que reuniu os elementos. “Amor”, aqui, não é o mesmo que sentimento romântico, mas  uma força cósmica .

Já a Discórdia é outra força cósmica, porém que separa os elementos e os faz existirem sozinhos, cada um em sua solidão cósmica, cada um bastando a si mesmo.

Algumas traduções, erradamente, empregam o termo “Ódio” em vez de “Discórdia”. Contudo, ódio é a mera destruição , ao passo que discórdia se origina de “dis-cordis”: “cordis” é “coração”. O contrário de discórdia é “concórdia”: “manter o coração junto”.

Assim , a discórdia não é o ódio: a discórdia é a separação daquilo que o coração ( o amor) juntou. Em geral, os que só odeiam são incazes de pôr o coração junto a alguma coisa...

Amor e Discórdia são forças cósmicas necessárias à vida em seu processo infinito de , a partir de seu alfabeto simples , criar sua poesia  múltipla, diversa  e heterogênea.

O Amor não é o “Bem”, tampouco  a Discórdia o “Mal”, pois a Discórdia não nega ou destroi os elementos, tampouco é inimiga do Amor . Não só o amor tem sua razão de ser, também o tem a discórdia.

Não se aprende com o primeiro Afeto sem compreender a necessidade do segundo. Nem há sabedoria em apenas amar sem nunca discordar, pois na vivência do amor há muitas discórdias, sem que disso nasçam ódios.

Contudo, para haver discórdia é preciso que, antes, algo tenha se reunido por amor. Para que o coração se retire de algo, é preciso que, primeiro, ele tenha feito parte desse algo. Nesse sentido, o amor acrescenta nova vida à vida solitária dos elementos, enquanto a discórdia desfaz essa nova vida e restitui os elementos à sua solidão.

Em Heráclito, os elementos se combatem , porém a vitória é sempre a do Fogo, imagem-móvel do tempo que destroi e constroi. Em Empédocles, os elementos se reúnem ou se dispersam conforme os Afetos do Amor e da Discórdia que, imagem inversamente especular um do outro, se complementam e  se necessitam eternamente.

 

“O tom de sua fala! Em cada sílaba

soavam todas as melodias! E o espírito

que animava suas palavras – gostaria  de sentar-me

horas a fio a seus pés, discípula

e criança, contemplar o Éter ,

e alegrar-me com ele, até minha alma perder-se

no céu que lhe pertence!”

( Trecho do poema “A morte de Empédocles”, de Hörderlin)



                                                         ( Este livro é apenas uma sugestão)



[1] Texto-aula elaborado pelo prof. Elton Luiz.

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