sexta-feira, 28 de junho de 2024

A terceira margem

 

As duas margens do rio prendem e limitam o fluxo das águas.  Mas , como ensina Guimarães Rosa, o rio possui ainda uma terceira margem . Essa terceira margem ora é a nascente e “minadouro” do qual o rio nasce; ora é o oceano no qual o rio se horizonta  e infinito se torna.

 A terceira margem nos mostra que rio, oceano, chuva, suor e lágrima...tudo é metamorfose diferente de uma mesma  água fontana que banha, batiza, rega,  orvalha e mata a sede de vida de quem bebe em suas libertadoras   águas.

A  gramática e suas formas constituem  as duas margens que contêm e limitam a palavra. Porém  a poesia é a agramatical  terceira margem  inaprisionável :exemplo a ser seguido para tornar emancipadoras  nossas práticas.

(No poeta Manoel de Barros, irmão poético de Guimarães, a “agramaticalidade” não é errar as regras da gramática; a agramaticalidade é produzir um dizer que , de tão potente , reinventa outras sintaxes e  gramáticas)

 

 

“A cisterna contém,

a fonte transborda.”

(W. Blake)

 

“Poeta é quem possui visão fontana.”

(Manoel de Barros)

 

“Um fluxo é como um rio cuja correnteza  é mais veloz no meio e rói suas margens.”

(Deleuze)

 

“Quero descrever o voo de um pássaro

escrevendo com a pena de uma asa.”

(Guimarães Rosa)

 

 

( ontem, 27 de junho, dia do nascimento de Guimarães Rosa)










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