sábado, 8 de junho de 2024

Os Mefistófeles de ontem e de hoje

 

 Uma das funções da educação é mudar as pessoas, por dentro e por fora, em suas ideias e  ações. Uma criança que se educa, por exemplo,  cresce por dentro e por fora, deixa de ser infantil ( o adulto que não se educa cresce apenas por fora, permanecendo infantil por dentro, isto é, imaturo).

A educação produz ideias críticas e criativas, potencializando a mente para ser também autocrítica. A educação muda a criança: faz nascer nela a cidadã. A educação não muda a criança para ela deixar de ser si mesma, a educação muda a criança para ela se desenvolver , se potencializar e descobrir a si mesma.

Todos já repararam nisto: a Inteligência Artificial e seus algoritmos não mudam as pessoas, e sim reforçam o que as pessoas já são. Se uma pessoa pesquisa as coisas mais absurdas e vis na web, a IA e seus algoritmos fornecem mais do mesmo , em profusão e quantidade, e com isso extrai lucro até mesmo das perversidades e vilezas de quem procura tais conteúdos na web.

 A IA e seus  algoritmos não desenvolvem o espírito crítico e nem a independência de pensamento . Aliás, a IA não lida com conteúdos, pois ela “entende” apenas aquilo que os linguistas chamam de “significante”. O significante é a parte material da linguagem, enquanto que o “significado” é o conteúdo que se forma numa mente ou consciência.

A IA entende apenas o significante que digitamos ou falamos para ela, e traduz esse significante para uma linguagem que é dela, uma linguagem matemática   indiferente aos valores. A  IA  não possui mente ou consciência, e é por isso que ela pode servir aos acéfalos e os acefalizar  ainda mais .

O problema não está na IA , claro, e sim no uso que se faz dela. Mas o que esperar do uso da IA de alguém que se identifica com um “rato”? ( como o governador “Ratinho Jr” do Paraná que está privatizando as escolas públicas para colocar IA no lugar dos educadores). O que esperar de um governador autoritário ( o de SP) que quer impor como modelo para as escolas não a pólis, a civitas, mas a caserna?

 Em ambos os projetos, os dois “ratos” querem  empregar a IA para privatizar e militarizar as escolas , amordaçando ou tirando o emprego dos  educadores.

Isso explica o ódio desses negacionistas da educação em relação à filosofia , à sociologia e às artes.

Não por acaso, Mefistófeles não queria a inteligência de Fausto, pois Mefistófeles sabia que a inteligência de Fausto não era sua inimiga. Mefistófeles, o “Diabo”, queria era comprar o caráter e o coração de Fausto , pois somente o caráter e o coração (como sedes do Afeto)   podem ser, quando potencializados pela educação emancipadora, nossa resistência pensante, nossa bússola orientadora , nosso remédio curador  e nossa salvação individual e coletiva.




                                             (Chico fará 80 anos no próximo dia 19)



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