"Considerei os afetos
humanos, tais como o amor, o ódio, a cólera, a inveja, a glória, a misericórdia
e outras comoções do ânimo não como vícios da natureza humana, mas como
propriedades que lhe pertencem, assim como o calor, o frio, as tempestades e
trovoadas pertencem à natureza da atmosfera e que, embora incômodos, são
contudo necessários, têm causas certas pelas quais nos esforçamos de entender
sua natureza." (Espinosa)
De repente, o céu fica escuro, tenso. Nuvens espessas mal conseguem
guardar o ódio que lhes está dentro. O céu imenso se torna pequeno para elas.
As nuvens estão carregadas de fúria incontida: elas querem briga,
vingança, ferida; uma quer destruir a outra, que só por existir e ser outra já
é inimiga.
Quando se chocam, soltam faíscas, e retumbam ofensas que ensurdecem a
terra.
Ao fim, todas choram a mágoa líquida, e são os homens aqui debaixo,
crianças da terra, que sofrem a consequência da celeste briga.
Depois de muito chorarem, o ódio já não as incha. O vento lhes passa por
dentro, mais calmas as nuvens respiram.
Os pensamentos que nutriam se vão desfazendo, era apenas isso aquele chumbo: pensamento de
ódio recíproco.
Elas vão ficando transparentes, leves se vão abrindo, se reconciliando
com o infinito.
Quando a alma de si mesmo se apossa, é como o azul aberto que ela se
mostra : horizontando-se, perdoando tudo.
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