segunda-feira, 24 de junho de 2024

A tempestade...

 

"Considerei os afetos humanos, tais como o amor, o ódio, a cólera, a inveja, a glória, a misericórdia e outras comoções do ânimo não como vícios da natureza humana, mas como propriedades que lhe pertencem, assim como o calor, o frio, as tempestades e trovoadas pertencem à natureza da atmosfera e que, embora incômodos, são contudo necessários, têm causas certas pelas quais nos esforçamos de entender sua natureza." (Espinosa)

 

 

De repente, o céu fica escuro, tenso. Nuvens espessas mal conseguem guardar o ódio que lhes está dentro. O céu imenso se torna pequeno para elas.

As nuvens estão carregadas de fúria incontida: elas querem briga, vingança, ferida; uma quer destruir a outra, que só por existir e ser outra já é inimiga.

Quando se chocam, soltam faíscas, e retumbam ofensas que ensurdecem a terra.

Ao fim, todas choram a mágoa líquida, e são os homens aqui debaixo, crianças da terra, que sofrem a consequência da celeste briga.

Depois de muito chorarem, o ódio já não as incha. O vento lhes passa por dentro, mais calmas as nuvens respiram.

Os pensamentos que nutriam se vão desfazendo,  era apenas isso aquele chumbo: pensamento de ódio recíproco.

Elas vão ficando transparentes, leves se vão abrindo, se reconciliando com o infinito.

Quando a alma de si mesmo se apossa, é como o azul aberto que ela se mostra : horizontando-se, perdoando tudo.

                                                     ( "Campo sob o céu tempestuoso" / Van Gogh)






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