Para os estoicos, a filosofia é inseparável de certos “exercícios”. Ou seja, a filosofia é uma prática não exclusivamente teórica. Desses exercícios, o primeiro e mais importante deles é a atenção ( prosochè).Sem atenção perseverantemente exercitada, não há pensamento e ação fortalecidos.
É um erro dizer: “não consigo prestar atenção nesse filme, ele é muito lento”, “não consigo prestar atenção nesse livro, ele não tem figuras”. Pois não é algo externo que deve despertar nossa atenção, somos nós mesmos que devemos despertar nós mesmos: toda prática de atenção é, antes de tudo, um prestar atenção a si. Quem depende de algo externo barulhento e agitado para ter a atenção despertada, é porque não presta atenção em si.
Meditar, por exemplo, é prática de prestar atenção na nossa respiração. Até o silêncio requer que prestemos atenção nele. E não há como alguém discordar ou concordar com algo que o outro diz sem prestar atenção não só nas palavras, mas também nos gestos e até mesmo nos silêncios do outro que nos fala.
Prestar atenção não é projetar “certezas” ou (pré)julgamentos, e sim abrir-se para aprender, vivendo. Pois de toda atenção faz parte também o corpo, uma vez que a atenção requer sensibilidade ativa e atuante.
Assim, prestar atenção não é querer encontrar nas coisas o que (pré)concebemos delas. Ao contrário, prestar atenção também é estar atento a essas ideias pré-concebidas que , dentro de nós, impedem que em nós entrem coisas novas.
A atenção não se faz no passado e nem no futuro, pois é sempre no presente, como abertura atenta a ele, que toda atenção acontece e ensina , assim auxiliando a nos libertar de condicionamentos passados e de projeções e expectativas futuras que só trazem medo, insegurança e angústia.
Outro exercício espiritual fundamental, segundo Epicuro, é a prática da amizade. Os exercícios espirituais não são feitos apenas com o ego, tampouco de forma isolada e inacessível. Os exercícios espirituais que singularizam e potencializam também têm na amizade o seu cultivo. Epicuro chega a dizer que quem não é apto à amizade não é apto à filosofia, isto é, à liberdade.
A amizade, o agenciamento e o que Espinosa chama de “bons encontros” são exercícios de cultivar a si mesmo cultivando igualmente a pluralidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário