A liberdade de expressão e opinião é
um dos pilares da democracia. Na Grécia democrática, por exemplo, essa prática
acontecia na ágora, o coração da pólis.
“Ágora” vem de “agon” , que significa
“conflito” ou “disputa” . A ágora era a praça pública. Na ágora não aconteciam disputas armadas,
pois na ágora a disputa era realizada mediante palavras que expressassem perspectivas, razões,
argumentos - sempre visando o bem comum
da pólis.
A palavra “pólis” significa “cidade”
ou “organização”. Esse sentido está presente em “própolis”: “ a favor da pólis”, pois a colmeia é uma
pólis, uma organização. Na ágora, a palavra democrática era a própolis para
fortalecer a pólis e sua pluralidade de perspectivas. “Política” vem de “pólis”.
Em latim, “pólis” será traduzida por
“civitas”, “civilização”. Assim, o
centro da pólis-civilização não é o templo ou o quartel, tampouco o mercado e
sua avidez por juros e lucros. O centro da pólis-civilização é a praça, um
espaço aberto e plural, sem dono ou proprietário .
As praças são espaços abertos às ruas
democráticas que conectam o centro à periferia , onde gritam por dignidade os excluídos e excluídas, muitos já quase sem
comida em casa.
Muito diferentes são as ruas suspeitas
que partem de condomínios fechados
onde se escondem carrascos que enriqueceram com o crime . Foi de uma rua sinistra assim que partiram os assassinos milicianos de
Marielle. Hoje, um vizinho e amigo
desses milicianos indultou um cúmplice
seu que, simbolicamente, também assassinou Marielle quebrando a placa
de rua com o nome dela.
A liberdade de opinião e expressão é
um direito garantido pela Constituição. Mas esse direito é apenas uma forma . E
uma expressão nunca é apenas uma forma, pois “expressão” vem de “ex-pressio”: “trazer para fora” o que cada
um tem dentro.
A expressão opinativa é prática
discursiva que põe um conteúdo numa forma. Se o que alguém cultua dentro de
si é apenas ódio, ignorância, idiotia, enfim,
incivilidade, são esses conteúdos que serão trazidos para fora de sua obscura
alma .
O discurso teológico-político expressa essa
mentalidade de trevas. E quem tem mentalidade assim não consegue esconder:
basta abrir a boca que a incivilidade se revela.
Quando esses conteúdos obscurantistas
se convertem em ameaças à vida plural e democrática , já não se trata mais de
opinião, religião ou pátria, e sim de
crime . Um crime mais grave e
perigoso do que os cometidos contra a propriedade, que são os crimes que levam à cadeia os pobres.
Devemos ter cuidado, sempre, com
esses seres das trevas . Mas nunca temê-los. Pois , como diz Espinosa, uma das
maneiras que todo projeto de tirano tem
de parecer mais forte é tentando nos
provocar tristeza e medo que nos imobilizem e calem.
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