sexta-feira, 22 de abril de 2022

Plotino, Manoel e a "Origem que renova"

 

Para Plotino, não existe “Ideia Universal”. Toda ideia que nos permite pensar e conhecer algo real é sempre uma ideia original. E toda ideia original é sempre singular.

Tudo o que existe  é fruto de uma ideia original do qual proveio. Mas a ideia original não é um “Modelo” do qual seu fruto seria uma “cópia”. A ideia original é como um novelo do qual se desdobrou um fio , ou como uma fonte da qual nasceu um rio.

Nós somos dois seres: o fio de novelo e o novelo, o rio e a fonte. Somos um eu desdobrado existindo no  aqui e agora que passa  , porém também  somos mais originalmente um eu-novelo, um eu-fonte, virtualmente  existindo num plano absoluto que nunca se esvai ou passa.

Para o eu-desdobrado vencer a angústia de esvair-se para o nada, é preciso que ele   intensifique  seu existir até redescobrir na presença o fio mediante o qual ele , subindo, seja na sua maior parte o eu-original que nunca morre, parte que é do Inconsciente Cósmico.

Esse eu-original nada tem a ver com um ego. Pois mesmo o eu-original também é fio ou rio, ele também se desdobrou de algo ainda mais original que ele: o Uno-Novelo, o Uno-Fonte. E não apenas o eu-original se desdobrou do Uno-Fonte, também se desdobraram  e se desdobram do Uno-Fonte  todos e tudo.

Assim como o rio seca se perder sua ligação com a fonte, o eu desdobrado não permaneceria existindo se fosse cortado o fio que o liga ao eu-novelo. Mas esse fio é inconsciente, pois é parte dele também o corpo.

“Original” é tudo aquilo que é origem. Mesmo que o rio vá muito longe da fonte, ele permanece ligado à fonte-origem . Se o rio perder essa relação umbilical com a fonte, o rio não avança. Todo avançar somente é realmente avançar, e não um mero perder-se, quando o avançar é desdobramento potente da origem, da “Origem que renova”, como ensina o poeta Manoel de Barros.

E quando os peixes que nasceram no rio querem de novo gerar, eles sobem as águas do rio para partejarem novidade perto da fonte.

E para quem deseja ir longe sem se perder, é preciso segurar firme na mão o fio que se desdobrou do novelo da liberdade, tal como o Fio de Ariadne.






 

 

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