Para Plotino, não existe “Ideia Universal”.
Toda ideia que nos permite pensar e conhecer algo real é sempre uma ideia
original. E toda ideia original é sempre singular.
Tudo o que existe é fruto de uma ideia original do qual proveio.
Mas a ideia original não é um “Modelo” do qual seu fruto seria uma “cópia”. A
ideia original é como um novelo do qual se desdobrou um fio , ou como uma
fonte da qual nasceu um rio.
Nós somos dois seres: o fio de novelo
e o novelo, o rio e a fonte. Somos um eu desdobrado existindo no aqui e agora que passa , porém também somos mais originalmente um eu-novelo, um
eu-fonte, virtualmente existindo num
plano absoluto que nunca se esvai ou passa.
Para o eu-desdobrado vencer a
angústia de esvair-se para o nada, é preciso que ele intensifique seu existir até redescobrir na presença o fio mediante
o qual ele , subindo, seja na sua maior parte o eu-original que nunca morre,
parte que é do Inconsciente Cósmico.
Esse eu-original nada tem a ver com um
ego. Pois mesmo o eu-original também é fio ou rio, ele também se desdobrou de
algo ainda mais original que ele: o Uno-Novelo, o Uno-Fonte. E não apenas o
eu-original se desdobrou do Uno-Fonte, também se desdobraram e se desdobram do Uno-Fonte todos e tudo.
Assim como o rio seca se perder sua
ligação com a fonte, o eu desdobrado não permaneceria existindo se fosse
cortado o fio que o liga ao eu-novelo. Mas esse fio é inconsciente, pois é
parte dele também o corpo.
“Original” é tudo aquilo que é
origem. Mesmo que o rio vá muito longe da fonte, ele permanece ligado à
fonte-origem . Se o rio perder essa relação umbilical com a fonte, o rio não
avança. Todo avançar somente é realmente avançar, e não um mero perder-se,
quando o avançar é desdobramento potente da origem, da “Origem que renova”,
como ensina o poeta Manoel de Barros.
E quando os peixes que nasceram no
rio querem de novo gerar, eles sobem as águas do rio para partejarem novidade
perto da fonte.
E para quem deseja ir longe sem se
perder, é preciso segurar firme na mão o fio que se desdobrou do novelo da
liberdade, tal como o Fio de Ariadne.
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