quarta-feira, 13 de abril de 2022

perseverança

 

Certa vez, uma aluna  de uma simpática turma  me perguntou: “Professor, qual ideia da filosofia você mais gosta?” Respondi na hora: “Perseverança.” Respondi tão rápido e firme que a turma ficou curiosa para saber mais...rs...

Então, falei  mais ou menos o seguinte:

Quando uma palavra não é apenas palavra para nós, ela sobe rápido e sem hesitação do coração onde vive até  à boca , pois a perseverança não é uma ideia apenas teórica, ela também deve estar na nossa sensibilidade e práticas.

Perseverança não é o mesmo que esperança. A esperança é um esperar que algo aconteça: é um aguardar  que o futuro nos traga aquilo que desejamos, esperamos ou cremos.

O contrário da esperança é o desespero : “des-esperar”= “não mais esperar”. O desespero nasce  da certeza de que não virá aquilo do qual tínhamos  a esperança.

A perseverança não é um esperar , ela é um  manter vivo o que dentro de nós já está e nos faz  avançar , sem espera.

A perseverança é um saber-se já  fecundado pelas ideias que dão sentido, força e resistência  ao nosso existir aqui e agora, para assim construirmos  o amanhã, ao invés de esperá-lo.

Do esperançoso pode nascer um  perseverante, quando o esperançoso  decide com coragem criar , nesta existência de agora, a vida que ele esperava vir de longe .

Como ensina Deleuze, o perseverante nunca é como um profeta que promete  ideias que salvarão os outros ( desde que o obedeçam) ; o perseverante é  como um apóstolo que , falando e agindo, ensina  a ideia que o converteu e libertou.

A perseverança se torna ainda mais potente  quando compartilhada e agenciada, pois uma das características da perseverança é unir aqueles que nunca se desesperam :os perseverantes  sempre lutam até o fim, e por lutarem juntos já se alegram.

Em seu sentido originário,  perseverar significa : “manter-se firme e de pé”.

Ouvi pela primeira vez acerca da perseverança   numa belíssima aula sobre Espinosa ministrada pelo inesquecível professor Cláudio Ulpiano. Para Espinosa, a perseverança  é inseparável do esforço que devemos sempre fazer para que as ideias  que falamos ou ensinamos também estejam  expressas  nas ações que fazemos.

Espinosa  fez da perseverança o afeto fundamental de sua ética   libertária, na qual a  liberdade não é um ideal “individualista-liberal”,  mas uma conquista que só se consegue  com  uma  perseverante prática, ao mesmo tempo singular e plural.  

Perseverar é criar pernas para que nossa liberdade possa avançar: “O andarilho abastece de pernas as distâncias”, ensina o poeta Manoel de Barros.







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