Certa vez, uma aluna de uma simpática turma me perguntou: “Professor, qual ideia da
filosofia você mais gosta?” Respondi na hora: “Perseverança.” Respondi tão
rápido e firme que a turma ficou curiosa para saber mais...rs...
Então, falei mais ou menos o seguinte:
Quando uma palavra não é apenas
palavra para nós, ela sobe rápido e sem hesitação do coração onde vive até à boca , pois a perseverança não é uma ideia
apenas teórica, ela também deve estar na nossa sensibilidade e práticas.
Perseverança não é o mesmo que
esperança. A esperança é um esperar que algo aconteça: é um aguardar que o futuro nos traga aquilo que desejamos, esperamos
ou cremos.
O contrário da esperança é o
desespero : “des-esperar”= “não mais esperar”. O desespero nasce da certeza de que não virá aquilo do qual tínhamos
a esperança.
A perseverança não é um esperar , ela
é um manter vivo o que dentro de nós já
está e nos faz avançar , sem espera.
A perseverança é um saber-se já fecundado pelas ideias que dão sentido, força
e resistência ao nosso existir aqui e
agora, para assim construirmos o amanhã,
ao invés de esperá-lo.
Do esperançoso pode nascer um perseverante, quando o esperançoso decide com coragem criar , nesta existência de
agora, a vida que ele esperava vir de longe .
Como ensina Deleuze, o perseverante
nunca é como um profeta que promete ideias que salvarão os outros ( desde que o
obedeçam) ; o perseverante é como um
apóstolo que , falando e agindo, ensina
a ideia que o converteu e libertou.
A perseverança se torna ainda mais potente
quando compartilhada e agenciada, pois
uma das características da perseverança é unir aqueles que nunca se desesperam :os
perseverantes sempre lutam até o fim, e por
lutarem juntos já se alegram.
Em seu sentido originário, perseverar significa : “manter-se firme e de
pé”.
Ouvi pela primeira vez acerca da perseverança numa
belíssima aula sobre Espinosa ministrada pelo inesquecível professor Cláudio
Ulpiano. Para Espinosa, a perseverança é
inseparável do esforço que devemos sempre fazer para que as ideias que falamos ou ensinamos também estejam expressas nas ações que fazemos.
Espinosa fez da perseverança o afeto fundamental de sua
ética libertária, na qual a liberdade não é um ideal “individualista-liberal”,
mas uma conquista que só se consegue com uma
perseverante prática, ao mesmo tempo
singular e plural.
Perseverar é criar pernas para que
nossa liberdade possa avançar: “O andarilho abastece de pernas as distâncias”,
ensina o poeta Manoel de Barros.
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