sábado, 29 de maio de 2021

a pequenina musa

 

“Museu” provém de “Musa”. Originalmente, “musa” significa : “conhecimento que vem das artes”. Tanto os poetas como os primeiros filósofos evocavam as Musas para auxiliá-los na seguinte tarefa: vencer o esquecimento daquilo que não pode ser esquecido. Assim, o conhecimento das Musas não é só intelecto ou razão, ele é , também, recordação: “re-cordis”, “trazer de novo ao coração”, como lugar do Afeto.

As Musas são filhas de Zeus , divindade ligada à justiça e à ética, com Mnemósyne, Deusa da Memória. Zeus uniu-se a Mnemósyne após uma guerra vencida por ele contra as forças da brutalidade , tanto as  físicas como as simbólicas.

Dessa união entre a ética e a memória nasceram as Musas, divindades da cultura e do patrimônio. Assim, todo patrimônio cultural nasce do matrimônio gerador de uma ética da memória, de uma memória da ética.

A cultura e a educação não existem apenas para relembrar algo que se deu no passado e passou. Cultura e educação não são mera erudição. Cultura e educação existem  para fazer lembrar e dar a conhecer que se é possível vencer a barbárie e a ignorância  , e dessa lembrança também depende a criação do  nosso próprio futuro. Pois a barbárie e a ignorância  sempre ressurgem  do  bueiro onde se escondem , reaparecendo ao longo da história com nomes diferentes: nazismo, fascismo, negacionismo, necropolítica...

Segundo o poeta Manoel de Barros, todo ato criativo é uma “imitagem". A imitagem não é um tornar-se mera cópia passiva de um Modelo ou Padrão. Ao contrário, a imitagem é a produção de uma diferença , como nos ensina a pequena menina em sua fabricação brincativa de um estilo . Em toda imitagem há a aprendizagem   da própria diferença que se é, e que essa diferença não é negação do outro ,  mas a expressão de uma liberdade que potencializa um agenciamento, um encontro.  Nesse encontro, a menina ao mesmo tempo aprende e ensina. Em sua imitagem, é a menina, e não a escultura, a obra de maior arte.

Que a pequenina Musa, em sua inocência brincativa, nos ajude a não esquecer o que precisa ser sempre lembrado: que a vida é conhecimento , arte e liberdade, e que isso nos dê forças ante a barbárie.

 

“Às vezes começa-se a brincar de pensar,

e eis que inesperadamente o brinquedo é que começa a brincar conosco.”

( Clarice Lispector)

 

"Minha poesia não tem função explicativa, só brincativa."(Manoel de Barros)


"Nesta vida,

 pode-se aprender três coisas de uma criança:

 estar sempre alegre,

 nunca ficar inativo

 e chorar com força por tudo o que se quer."

(Leminski)









( infelizmente, não consegui achar os nomes dos fotógrafos, ou fotógrafas, das duas fotos, nem o nome da menina e do menino. Na escala avaliativa das crianças, "bobão" ocupa o topo  dos piores nomes...rs...)

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