sexta-feira, 28 de maio de 2021

#forabolsonaro

 

Os gregos inventaram a “ágora” , a praça pública, como espaço-símbolo  da democracia.  “Ágora”  vem de “agon” : “conflito”  ou “disputa”. Na ágora aconteciam disputas  travadas com palavras.  Os romanos, por sua vez,  inventaram as ruas. Não como espaço político,  mas como meio de travessia   para além dos muros das cidades:  as ruas atravessavam  espaços livres e  não povoados.

Impérios  e cidades desapareceram  destruídos por guerras ou catástrofes: com eles, desapareceram também suas praças. Mas as ruas que atravessam campos e espaços abertos nunca desaparecem totalmente : se ninguém mais passa por elas, as ruas se integram à natureza , tornando-se trilhas em esboço que somente os andarilhos nômades sabem achar.

A Revolução Francesa se inspirou no ideário da praça como espaço de poder a se contrapor aos templos da intolerância religiosa  e aos castelos dos senhores feudais. Surgem então os “parlamentos”: lugar onde “parla-se” (ou  “fala-se”) .  Radicalizando ainda mais a ideia de democracia, Espinosa dizia que mais importante do que a praça é a rua , sobretudo como espaço comum para abrigar a multiplicidade reunida para defender a liberdade   e  se opor  a toda forma de tirania. 

As ruas vão além do “parla-se”, pois nelas sobretudo  age-se.  Essa multiplicidade unida nunca cabe totalmente no espaço centrípeto das praças, pois somente no espaço centrífugo das ruas cabe o existir em movimento da multiplicidade agenciada , cuja potência excede o poder de governos e Estados: enquanto a  força destes é a da mera polícia,   a potência da multiplicidade  é o desejo comum por justiça, igualdade , liberdade  , democracia, vida.

 Da praça nasceu o parlamento para se opor aos templos e castelos. Porém quando o próprio parlamento se torna sucursal do templo teológico-político e de   mentalidades medievais encasteladas, somente as ruas têm força para agenciar nossa liberdade plural , e assim ser  nosso escudo contra o fascismo e suas tentativas de nos atemorizar com suas ameaças.

As praças simbolizam o centro das cidades, ao passo que as ruas  são rizomas que alcançam também as periferias e  margens, conectando aqueles a quem o poder centralizador exclui e marginaliza. A rua assim compreendida será sempre  o espaço múltiplo e aberto daqueles que defendem a democracia,  sendo muito maior    que esse infame conluio entre templo  , quarteis e milícias.


"A rua põe sentido em mim. "(Manoel de Barros)


“Sim, as ruas têm alma!” (João do Rio)


(compreendo e aceito quem argumenta não ser ainda  hora de irmos às ruas. Porém, mesmo a gente não indo às ruas, com o genocida no poder haverá a 3ª e até uma 4ª onda; sem as ruas, 2022  pode nem chegar... Trago as  palavras de Espinosa, válidas para ontem, hoje e amanhã: “O que o tirano mais teme é a indignação , pois é esse o afeto que une os justos e os põe unidos na rua”. Acrescentando para agora : ir às ruas , mas com máscara e todo o cuidado possível com nossas vidas e as dos outros )




Aqui no Rio o local será junto ao monumento a Zumbi . Nos eventos promovidos pelo genocida eles levam só armas , pseudopatriotismo  truculento e  mais nada, além de se gabarem de aglomerar  sem máscara. Já neste evento de amanhã  há a orientação da devida segurança, além da  lembrança de sermos solidários com a dor do outro. Por isso   se pede que, quem puder, leve 1kg de alimento não perecível para doação aos que sofrem a urgência da  fome:





Artigo compartilhado da página Universidade e Democracia , da UFF: 

https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2021/05/manifestacoes-e-covid-19-e-possivel-reduzir-os-riscos-em-atos-de-rua-na-pandemia/?fbclid=IwAR32i3v3AiblebyyHuxQjkWhxdvexDt0tGkSYEli83yvW_H0VfC0DS9BVqQ

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