Ontem faleceu o grande professor e
filósofo Roberto Machado. Tive a feliz oportunidade de ter sido aluno dele em
duas disciplinas: uma no mestrado e outra
no doutorado em filosofia, ambas na Ufrj ( embora eu fizesse os cursos
na Uerj, havia a possibilidade de puxar disciplinas para cursar na Ufrj). A
disciplina no mestrado foi sobre Nietzsche; a do doutorado, Kant ( mais
especificamente, a estética de Kant).
O que me fez buscar fazer uma matéria com Roberto Machado foi o
seguinte fato: quando eu cursava o mestrado, fiz uma matéria lecionada por um
professor que também era autoridade religiosa. Era alguém famoso, com muitos
livros publicados, que trazia “holofotes midiáticos” para a Uerj, mas a um
grande custo. Pois esse professor não preparava aula, praticamente lecionava
atrás apenas do nome midiático, e parecia estar mais no púlpito de sua igreja
do que na ágora filosófica ( que deve reunir debate argumentado com rigor de
pesquisa). Quando ele falou de Nietzsche, por exemplo, disse coisas que Nietzsche nunca disse ou
escreveu. No final do curso, o trabalho que entreguei para ele foi exatamente
sobre Nietzsche. O trabalho consistia em trazer a própria fala de Nietzsche.
Não fiz o trabalho com a intenção de negar a voz daquele professor, e sim de
trazer a própria voz de Nietzsche expressa diretamente em seus textos. Como
ensina Espinosa, “a simples presença da ideia verdadeira já destrói a ideia
falsa”. O tal professor deixou os
trabalhos na secretaria e afixou as notas num mural, sem esclarecer seus
critérios de correção pessoalmente. Quando vi a relação das notas, só havia
nota dez, exceto para um aluno: exatamente este que fala com vocês. Foi a pior
nota que tirei em toda minha vida. Quando peguei o trabalho para ler as
argumentações dele, não havia nada escrito...
Então, fui fazer a matéria na Ufrj
com o professor Roberto, reconhecidamente um grande conhecedor de Nietzsche.
Ele nos apresentava Nietzsche bem de perto, de tal modo que pela voz de Roberto
a gente podia ouvir a voz do próprio
Nietzsche que vinha do livro do filósofo que Roberto mantinha sempre aberto
sobre sua mesa na sala de aula. No final do curso, entreguei um trabalho sobre
Nietzsche para ele, que era conhecido por ser muito rigoroso em suas
avaliações. Para a minha grande alegria, recebi uma excelente nota dele, e no
trabalho ele fez observações para que eu pudesse melhorar ainda mais, pois ele
fez críticas construtivas.
Eu ainda era bem jovem e estava
começando a dar aula. Sem dúvida, as palavras do Professor Roberto Machado me
deram força, pois elas me ajudaram também a compreender que aquela “nota” que
aquele outro professor me dera não foi bem uma nota, e sim uma tentativa de me
calar com uma cicuta.
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