sábado, 8 de maio de 2021

direitos humanos

 

Tempos atrás fui convidado para dar um curso de Direitos Humanos para as forças policiais da Bahia. Àquela época, essas forças policiais  eram consideradas as mais violentas do Brasil. Os policiais não estavam no curso porque queriam, e sim em razão de receberem benefícios ( frequentar o curso aumentava o soldo deles)  .

Quando entrei na sala no primeiro dia de aula, reparei que a maioria estava  armada , pois muitos vinham de operações policiais ou estavam indo para uma. Antes mesmo de eu me apresentar, uma agente de segurança me fuzilou com uma pergunta : “O senhor já subiu uma favela?” Respondi indo ao quadro para escrever  uma  frase de Nietzsche, que usei como escudo para me proteger daquele  fuzilamento feito com palavras preconceituosas. Foi esta a frase de Nietzsche  que escrevi no quadro:  “Quando queremos lutar contra as monstruosidades que existem no mundo, devemos tomar o máximo cuidado para que nós mesmos não nos tornemos monstros.”

Depois respondi que não só já subi o morro de uma favela , como também já morei no alto  de uma: morei no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, terra da Escola de Samba Vila Isabel, berço de poetas. Morei lá quando era estudante de filosofia na Uerj, que fica ali perto. Várias vezes subi o morro com Nietzsche e Espinosa na mão, pois são essas as armas nas quais acredito , e é com elas que luto.

 A monstruosidade de que fala Nietzsche não é apenas a violência física , a monstruosidade também é a brutal e desumana  injustiça social que produz a opulência gananciosa de riqueza para poucos, ao mesmo tempo  condenando milhões à miséria. A monstruosidade também é a falta de creche e escola para as crianças da favela, roubando-lhes o futuro; monstruosidade também é a milícia que veste uniformes da polícia. Monstruosidade maior é um presidente miliciano-genocida.

Quando o curso terminou, senti que muitos me apoiaram , isto é,   se desarmaram. Um deles, inclusive, me mostrou um quadro de aviso que ele havia feito com um pedaço de lousa  de  mais ou menos um metro quadrado . Ele me disse que ia afixar o quadro no mural de avisos da delegacia dele. No quadro feito por ele estava escrito: “Quando queremos lutar contra as monstruosidades que existem no mundo, devemos tomar o máximo cuidado para que nós mesmos não nos tornemos  monstros.”

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